Música instrumental ao ar livre. Pela primeira vez em sete anos, a Festa da Música será realizada somente nas praças de Belo Horizonte, sete ao todo. Um dos eventos oficiais da Copa das Confederações, traz nesta edição uma maratona de 50 shows, que tem início na sexta-feira, um dia antes da estreia do torneio. O evento, que a cada versão mobiliza público de 100 mil pessoas, é uma realização da Fundação Assis Chateaubriand, Jornal Estado de Minas e Guarani FM.
“A proposta do projeto sempre foi contar com novos talentos da música mineira e dar espaço para os grandes nomes, tanto de mineiros quanto de artistas nacionais. Também abrimos espaço para projetos de universalização da música, como o Vozes do Morro”, afirma Cristina Sabino, organizadora da Festa da Música.
Durante 10 dias, nomes consagrados, como o trombonista Raul de Souza, o saxofonista Leo Gandelman, o violonista Juarez Moreira, o pianista Túlio Mourão e o baterista Pascoal Meireles, dividem espaço com grupos de BH como Dibigode e Toca de Tatu, formados recentemente, e instrumentistas como o violonista Thiago Delegado e o guitarrista Pablo Passini, argentino que hoje vive em BH. O variado time de músicos tem ainda presenças de artistas de ponta da cena instrumental brasileira, como Itiberê Zwarg, Gilson Peranzzetta, Marco Lobo, Henrique Cazes, Marcel Powell, Alexandre Gismonti, Daniela Spielmann e Marcello Gonçalves, entre outros.
Gandelman, que se apresenta na Praça do Papa na noite de abertura da Festa da Música, é, sem dúvida, um dos instrumentistas brasileiros que melhor transita entre o jazz e a música pop. “Para mim é uma coisa só. Toco a música de que gosto e em que acredito. Fui criado na escola da música clássica, mais tarde estudei na do jazz, como músico de estúdio acompanhei artistas de rock, pop, samba. Dessa maneira, minha carreira é filtro de toda essa formação e informação. Além do mais, é natural para um músico trafegar em diferentes idiomas”, afirma o saxofonista.
Leo Gandelman vai tocar ao lado de um quinteto. Dois instrumentistas jovens e de destaque no cenário de BH estarão com ele na praça: o contrabaixista Fred Heliodoro e o baterista Felipe Continentino. No repertório, além de temas que marcaram sua carreira, como Solar, músicas de seu álbum mais recente, 'Vip vop' (2012). “Traz um olhar para a música brasileira da metade da década de 1950 até meados da de 1960. Na época, houve uma produtividade muito grande, então fiz uma homenagem à bossa nova e ao samba jazz.”
Já o juiz-forano Breno Mendonça, atração da Praça da Liberdade, no dia 17, é de outra geração de saxofonistas. Considerado o melhor instrumentista do Prêmio BDMG Instrumental deste ano, vai se apresentar com sexteto. “O repertório será mesclado do meu primeiro CD ('Na contramão') e do segundo, em pré-produção, em parceria com o Wagner Souza (trompetista que vai acompanhá-lo no show)”, conta o músico, radicado em BH há cinco anos. Como sua formação ocorreu na Zona da Mata, ele recebeu influência tanto da música mineira (com Toninho Horta como referência) quanto da carioca (o samba jazz de nomes como Raul de Souza).
O veterano trombonista, por sinal, faz sua segunda participação na Festa da Música (esteve na edição de 2008). Mais importante trombonista brasileiro, levou seu jazz fusion para a Europa e os EUA, tocando com nomes como Sérgio Mendes, Milton Nascimento e Sonny Rollins. Desde os anos 1990 está de volta ao Brasil, mas mantém residência na França. Por aqui, toca no dia 22, também na Praça do Papa, ao lado de seu quinteto.
Três perguntas para...
Raul de Souza
trombonista
O senhor divide seu tempo entre a França e o Brasil. Só voltou para o país depois que recebeu o reconhecimento devido?
Sou pioneiro da música moderna instrumental brasileira. Fico imaginando o tempo em que comecei. Tinha músicos bons, mas sem nenhuma força para encarar uma coisa diferente. Fui o único que lutou contra tudo, no caso da improvisação, que todo mundo condenava. Como não trabalhava no Brasil nos anos 1950, nos 1960 me tornei militar e depois fiquei 16 anos nos Estados Unidos. Só voltei mesmo nos anos 1990, e o reconhecimento veio de tudo. Uma coisa foi puxando a outra, e minha mulher, que é francesa, também queria morar no Brasil. Hoje, todo lugar em que vou tocar está lotado. Ter esse reconhecimento é o maior privilégio.
De onde veio a ideia de criar seu próprio trombone, o “souzabone”?
Em 1966, quando tocava em Monte Carlo, juntei dinheiro e comprei um half bass trombone (metade baixo, metade trombone), na verdade dois trombones em um. Passei a tocar esse tipo de instrumento, que acabou revolucionando os trombonistas americanos. Me dei bem, pois comprei um instrumento bom, que me favoreceu. Até que um dia, pelos anos 1977, 1978, morando em Los Angeles, passeava pela Hollywood e Sunset Boulevard, e descobri uma fábrica pequena de instrumentos. Falei com um velhinho de lá e fiz um desenho para ver se ele entendia: era um trombone em dó, com quatro válvulas (o trombone tradicional tem três e afinação em si bemol). Ele olhou para mim apavorado! Mas disse que na teoria a ideia era boa. Fez o instrumento de madeira e começamos a montar juntos. Depois de um ano e meio, ele ficou pronto. Vou levá-lo para Belo Horizonte. E é o mesmo que o velhinho fez.
Com carreira que começou nos anos 1950 e perto de completar 80 anos, o senhor toca hoje da mesma maneira que na juventude?
A energia e a cabeça são as mesmas. Evito até ficar muito louco para o pessoal entender melhor. Como a música não tem letra, às vezes você fica muito desesperado no instrumento. Ou as pessoas admiram ou não dão atenção absoluta, causando confusão de vez em quando.
PROGRAMAÇÃO
Três perguntas para...
Raul de Souza
trombonista
O senhor divide seu tempo entre a França e o Brasil. Só voltou para o país depois que recebeu o reconhecimento devido?
Sou pioneiro da música moderna instrumental brasileira. Fico imaginando o tempo em que comecei. Tinha músicos bons, mas sem nenhuma força para encarar uma coisa diferente. Fui o único que lutou contra tudo, no caso da improvisação, que todo mundo condenava. Como não trabalhava no Brasil nos anos 1950, nos 1960 me tornei militar e depois fiquei 16 anos nos Estados Unidos. Só voltei mesmo nos anos 1990, e o reconhecimento veio de tudo. Uma coisa foi puxando a outra, e minha mulher, que é francesa, também queria morar no Brasil. Hoje, todo lugar em que vou tocar está lotado. Ter esse reconhecimento é o maior privilégio.
De onde veio a ideia de criar seu próprio trombone, o “souzabone”?
Em 1966, quando tocava em Monte Carlo, juntei dinheiro e comprei um half bass trombone (metade baixo, metade trombone), na verdade dois trombones em um. Passei a tocar esse tipo de instrumento, que acabou revolucionando os trombonistas americanos. Me dei bem, pois comprei um instrumento bom, que me favoreceu. Até que um dia, pelos anos 1977, 1978, morando em Los Angeles, passeava pela Hollywood e Sunset Boulevard, e descobri uma fábrica pequena de instrumentos. Falei com um velhinho de lá e fiz um desenho para ver se ele entendia: era um trombone em dó, com quatro válvulas (o trombone tradicional tem três e afinação em si bemol). Ele olhou para mim apavorado! Mas disse que na teoria a ideia era boa. Fez o instrumento de madeira e começamos a montar juntos. Depois de um ano e meio, ele ficou pronto. Vou levá-lo para Belo Horizonte. E é o mesmo que o velhinho fez.
Com carreira que começou nos anos 1950 e perto de completar 80 anos, o senhor toca hoje da mesma maneira que na juventude?
A energia e a cabeça são as mesmas. Evito até ficar muito louco para o pessoal entender melhor. Como a música não tem letra, às vezes você fica muito desesperado no instrumento. Ou as pessoas admiram ou não dão atenção absoluta, causando confusão de vez em quando.
PROGRAMAÇÃO
. Dia 14 (sexta-feira)
» Praça do Papa
19h30 –Happy Feet Jazz Band
21h – Leo Gandelman Quinteto
» Praça de Santa Tereza
19h30 – Pablo Passini Quinteto
21h – Arthur Maia Project
» Praça Floriano Peixoto
19h30 – Túlio Mourão Trio
toca Beatles
21h – Itiberê Zwarg & Grupo
Dia 15 (sábado)
» Feira Tom Jobim
12h – Lucas Viotti
14h – Sérgio Danilo
» Praça do Papa
19h30 – Eneias Xavier
21h – Gilson Peranzzetta Trio convida Marcel Powell
» Praça de Santa Tereza
19h30 – Túlio Araújo
21h –Marco Lobo Quinteto
Praça Floriano Peixoto
19h30 – Celso Moreira Quarteto
21h –Gabriel Grossi & Bebê Kramer
Dia 16 (domingo)
» Praça do Papa
18h30 –Regional do Bola Preta convida Nilze Carvalho – Homenagem a Wilson Batista
20h – Orquestra Criôla
» Praça de Santa Tereza
18h30 – Cleber Alves Quarteto
20h – Brascubazz
Dia 17
» Praça Sete
12h –Busker
13h –Busker
» Praça da Savassi
18h30 – Black Pio – Projeto Vozes do Morro
20h –Lúcio Monteiro – Projeto Vozes do Morro
» Praça da Liberdade
19h30 –Breno Mendonça
21h –Alexandre Gismonti Trio
Dia 18
» Praça Sete
12h – Busker
13h – Busker
» Praça da Savassi
18h30 – U Gueto – Projeto Vozes do Morro
20h – Tom Nascimento – Projeto Vozes do Morro
» Praça da Liberdade
19h30 – Dibigode
21h – Ricardo Herz Trio
Dia 19
» Praça Sete
12h – Busker
13h –Busker
» Praça da Savassi
18h30 – Nascidos no Samba – Projeto Vozes do Morro
20h – Ki Doçura – Projeto
Vozes do Morro
» Praça da Liberdade
19h30 – Marcelo Caldi: Tem sanfona no choro – Homenagem a Luiz Gonzaga
21h – Daniela Spielmann & Marcello Gonçalves: De onde
vem o baião
Dia 20
» Praça Sete
12h – Busker
13h – Busker
» Praça da Savassi
18h30 – Maíra Labanca
20h – Rafael Dias – Projeto Vozes do Morro
» Praça da Liberdade
19h30 – Thiago Delegado Quarteto
21h – Juarez Moreira Trio
» Praça de Santa Tereza
19h30 – Leonardo Brasilino Band
21h –Aquarela Carioca
Dia 21
» Praça Sete
12h – Busker
13h – Busker
» Praça da Savassi
18h30 – Fabinho do Terreiro – Projeto Vozes do Morro
20h –Tambor de Matição – Projeto Vozes do Morro
» Praça da Liberdade
19h30 – Monte Pascoal Quarteto de Saxofones e Percussão
21h – Rogério Delayon
» Praça do Papa
19h30 – Chico Amaral Quarteto
21h – Arismar do Espírito Santo Quarteto
» Praça de Santa Tereza
19h30 – Toca de Tatu
21h – Marcos Nimrichter Trio
Dia 22
» Praça do Papa
19h30 – Célio Balona Quinteto
21h – Raul de Souza
» Praça de Santa Tereza
19h30 – Henrique Cazes
e Cliff Korman
21h – Grupo Pé de Moleque convida Pedro Paulo Malta – Homenagem a Ciro Monteiro
Dia 23
» Praça do Papa
18h30 – Big Band Palácio das Artes
20h – Pascoal Meireles Sexteto