Mick Hucknall recria clássicos da soul music no novo disco 'American soul'

Cantor não se arrisca a realizar alterações significativas nos arranjos originais, mas consegue reler com competência temas imortalizados por ícones do estilo

por Arthur G. Couto Duarte 03/06/2013 00:13

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Sebastian Willnow/AFP-6/5/09
O cantor Mick Hucknall recriou clássicos da soul music no novo disco (foto: Sebastian Willnow/AFP-6/5/09)
Apesar de sua inextrincável ligação com o modo de vida e acultura da comunidade afroamericana dos Estados Unidos, a soul music há tempos deixou de ser privilégio dos artistas negros. O gênero é uma evolução natural do também dançante rhythm’n’blues, a partir do contexto urbano das grandes cidades e de toda a turbulência sóciopolítica decorrente da luta pelos direitos civis, do aparecimento do assim chamado Black Power, de pensadores radicais como Malcolm X, Eldridge Cleaver (líder do temido grupo radical de esquerda The Black Panthers), e da valorização do padrão racial negro evidenciado tanto nas roupas quanto nos cortes de cabelo atrelados ao slogan “Black is beautiful”.


Viveu seus anos de ouro entre as décadas de 1960 e 1970, impulsionada pela genialidade de artistas como James Brown, Aretha Franklyn, Marvin Gaye, Smokey Robinson,  The Supremes, Wilson Pickett, Otis Redding, Curtis Mayfield, Sam & Dave, e Isaac Hayes, entre outros. Desde então, mesmo como o nostálgico exercício de revisão estilística, diversos músicos brancos – alguns nascidos até mesmo fora dos Estados Unidos – conseguiram adquirir credibilidade como intérpretes de soul. Entre tantos, o inglês Mick Hucknall.

Quando surgiu à frente do sexteto Simply Red com o álbum 'Picture book', lá pelos idos de 1985, Mick Hucknall surpreendeu geral com uma voz suave e de grande extensão ao modo do mítico Bobby Bland. Infelizmente, as subsequentes gravações do grupo foram adquirindo contornos cada vez mais comerciais; uma decadência artística que nem mesmo 50 milhões de discos vendidos ao redor do mundo impediram sua dissolução, em 2010. De lá para cá, Hucknall gravou um álbum solo independente em tributo a Bobby Bland, chegando a se postar em duas excursões como convidado do reativado grupo de rock The Faces, no lugar até então ocupado por Rod Stewart.

Agora, recém-contratado pela mítica gravadora Atco, Hucknall volta a revisitar o gênero no CD 'American soul'. Ainda que não se arrisque a realizar alterações significativas nos arranjos originais, o cantor consegue reler com competência temas imortalizados por ícones do porte de Otis Redding ('That’s how strong my love is'), Aaron Neville ('Tell it like it is') e Etta James ('I’d rather go blind') e pelos relativamente obscuros Arthur Alexander ('The girl that radiates that charm') e Tyrone Davis ('Turn back the hands of time'). Estranhamente, porém, Hucknall acaba por perder o rumo da coisa ao estender as fronteiras daquilo que chama de soul ao regravar o clichê romântico 'It’s impossible', do canastrão branco Perry Como, ainda que se redima ao final da gravação quando, de forma ousada, vem emprestar seu feeling a 'Hope there’s someone', sombrio exemplar de pop barroco gravado pela banda underground Antony & The Jonhsons.

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