E a intenção dos “robôs” fica clara logo na primeira faixa do álbum: Get life back to the music. A sonoridade orgânica, que é a tônica de todo o álbum, aqui se faz presente, a guitarra marcante de Nile Rodgers é o principal elemento. Essa provocação, no entanto, não significa que o eletrônico não está presente. Ele está, mas de uma forma em que caminha junto do talento de músicos e cantores.Desde a pré-produção do disco, essa preocupação com uma sonoridade mais humana se fez presente.
O duo gravou nos melhores estúdios e se preocupou com os detalhes de tudo, como a escolha dos microfones de captação. Isso tudo para apontar a seguinte falha no cenário: a falta de singularidade. Na era das produções pasteurizadas e homogêneas, o Daft Punk propõe uma volta à época em que as faixas tinha assinatura, em que os produtores tinham marcas próprias.O DJ e produtor Diplo, que trabalha com estrelas como Britney Spears, foi um dos que sentiu a crítica. Apesar de afirmar que Ram é bom, o americano defendeu, via Facebook, o estilo atacado pelos franceses. "Esse álbum é pra quem gosta de curtir a brisa passeando com seu cachorrinho enquanto fuma um cigarro em Malibu. Eu não curto. Não preciso do Daft Punk pra lembrar da minha idade e de que ainda gosto de fazer muito barulho”, afirmou.
'Lose yourself to dance' e 'Get Lucky', as duas faixas com vocais de Pharrell Williams, mantêm essa pegada. Eletrônicas, porém centradas no elemento humano. Em outras palavras, são faixas que usam a lingagem das “batidas por minuto” de forma complementar com instrumentos, e não como algo que surgiu de cliques em um computador.
Outras faixas que merecem destaque são 'Fragments of time', com Todd Edwards, e 'Doin’ it right', com Panda Bear. A última é um eletropop marcado pelo experimentalismo de Noah Lennox, membro do Animal Collective. 'Beyond' e 'Motherboard' têm como característica principal os arranjos, que impressionam pela qualidade.
Se a cultura pop cada vez mais se baseia em lançamentos efêmeros, explosões de sucesso que somem em minutos. Ram tenta fazer o caminho contrário e construir um álbum que aposta na qualidade, no trabalho árduo, na identidade de uma dupla que desde os anos 1990 é uma tendência para a música. Porém, sem “hits de pistas”, corre um risco: ser sucesso de crítica e fracasso de público. Mas, isso parece um risco calculado, pois os robôs já estão em primeiro lugar na lista de vendas da iTunes.
Ouça à faixa 'Get lucky', de Daft Punk: