Musica

Naná Vasconcelos mimetiza sons dos quatro elementos da natureza em novo CD

A ideia de imitar os sons do fogo, do ar e até mesmo da terra, ocorreu durante a produção do seu último trabalho em 2010

Correio Braziliense

O universo do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos é repleto de moringas, cabaças, gongos e caxixis. O berimbau, pelo qual ele se tornou célebre, mudou de status em suas mãos %u2014 foi da capoeira para a orquestra. Incansável na busca por timbres surpreendentes para contar suas histórias, ele inventou de tirar um som, vejam só, em um pacote de salgadinhos. Foi manipulando o objeto, e temperando a levada com assobios, que Naná construiu a faixa 'Fogo', que integra o recém-lançado álbum '4 elementos'. Tentar simular sonoramente uma pequena queimada lhe tirou noites de sono, mas o resultado foi satisfatório. "Acenda um fogo aí que você vai ver", disse ele ao Correio, "o som é o mesmo". De sua casa no Recife, no bairro nobre de Rosarinho, o artista de 68 anos falou sobre as inquietações que o levaram ao novo projeto. No trabalho anterior, 'Sinfonias e batuques', de 2010, Vasconcelos fez música do encontro das mãos com a água. A empreitada lhe deu a ideia de também mimetizar os outros elementos da natureza, o que ele concretiza neste disco. Contudo, questionado se considera a percussão aquática e as acrobacias com o recipiente de salgadinhos as peripécias mais inusitadas que fez, ele minimiza: "O mais inusitado é o que está por vir. A água e o pacote já passaram. Não quero ser conformado". Foi por conta da caça incessante à musicalidade extraordinária que ele gravou, em '4 elementos', a emblemática 'Légua tirana', de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que abre o CD e é a única não composta por ele. Sincero, diz que a versão não é uma homenagem ao conterrâneo Rei do Baião mas sim, um registro pelo diálogo que existe entre a canção e sua trajetória. "Ai, se eu tivesse asa/Inda hoje eu via Ana", canta a letra. A tal Ana, na metáfora criada por Naná, é exatamente essa busca. "Eu sigo procurando e nunca encontrei, o que é muito bom. Eu quero sempre mais, entendeu?"