Fundada há 30 anos, Música de Minas Escola Livre criou modelo de ensino no Brasil e ajudou a formar artistas de vários estilos

Espaço foi idealizado por Milton Nascimento e Wagner Tiso

por Ailton Magioli 22/04/2013 08:39

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Rodrigo Sabatinelli/Divulgação
Wagner Tiso também participou da criação do Cabaré Mineiro, que ajudou a dar mais profissionalismo à formação dos alunos (foto: Rodrigo Sabatinelli/Divulgação)
Três décadas depois da experiência pioneira em Belo Horizonte, onde criou e manteve por cerca de cinco anos a Música de Minas Escola Livre, em parceria com Milton Nascimento, Cláudio Rocha e Márcio Ferreira, Wagner Tiso diz que faria tudo de novo. “Agora com mais experiência”, avaliza o arranjador, compositor e instrumentista, ainda que admita ser praticamente impossível, hoje, levar adiante projeto do gênero sem patrocínio ou ajuda de governos, como fez naquele período.

Estrategicamente instalada em imóvel da Rua Rio de Janeiro, em Lourdes, em frente ao extinto Bar Tip Top, além de espaço para o ensino e prática da música, a escola serviu de ponte para jovens se projetarem na cena musical belo-horizontina. Na época, Wagner mantinha, com outros sócios, a casa noturna Cabaré Mineiro, onde os alunos da instituição eram as principais atrações do Projeto Trampolim, das noites de terça-feira, quando artistas nacionais e internacionais que se apresentavam na casa iam à escola para ministrar oficinas.

“Comecei a estudar saxofone com o José Eymard na inauguração da escola, em 1983”, recorda Cleber Alves, que dois anos depois já era professor da Escola Música de Minas, paralelamente às aulas de teoria e solfejo que fazia na Escola de Música da UFMG. Segundo o saxofonista, com a chegada de Evaldo Robson, saxofonista de Brasília, à escola de Wagner Tiso, com quem passou a fazer aulas de sax, acabou recebendo convite para também ministrar aulas no local.

“Saí da escola só com o fechamento dela”, relata, ainda orgulhoso da experiência. Filho de família humilde de Sete Lagoas, onde se iniciou musicalmente no violão, Cleber Alves lembra que só depois de adquirir um sax soprano de um vizinho passou a se interessar pelo instrumento, com o qual se profissionalizaria depois de ganhar uma bolsa de estudos integral de Wagner Tiso na Música de Minas Escola Livre.

Atual professor de sax e improvisação da Escola de Música da UFMG, onde também dirige grupo em prática de conjunto e uma big band, Cleber Alves ainda dá aulas de prática de conjunto e sax na Bituca Universidade de Música Popular, de Barbacena, onde hoje se encontra boa parte dos ex-mestres e ex-alunos da Música de Minas Escola Livre.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
O saxofonista Cleber Alves entrou como estudante bolsista e se tornou professor na Música de Minas (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
BITUCA
Além de Gilvan de Oliveira, que foi coordenador da escola mantida por Wagner Tiso e Milton Nascimento em Belo Horizonte, são professores da universidade criada pelo grupo Ponto de Partida, de Barbacena, Babaya e Mauro Rodrigues, este também responsável por levar a cadeira de música popular brasileira para a UFMG. Além de sistematizar uma metodologia do ensino da música na capital, um dos maiores legados da Música de Minas, de acordo com Gilvan, foi a liberdade para a prática do ensino, já que a maioria dos professores eram músicos profissionais em atividade, naquele período.

“Fora o fato de a escola ter coincidido com a criação do Cabaré Mineiro, que, de 1984 a 1992, se tornou palco para apresentações dos músicos”, acrescenta Gilvan. Ao grupo de professores da escola de Wagner Tiso se juntaram, ainda, Juarez Moreira, Yuri Popoff, Paulo “Uakti” Santos, José Namen, Milton Ramos e Bento Menezes, entre outros. Já como alunos, passaram por lá músicos como Samuel “Skank” Rosa, Maurício Tizumba e Flávio Henrique, entre outros. No local, Wagner Tiso recorda que chegou a receber o então governador mineiro Tancredo Neves, que, pouco depois, participaria da campanha Diretas Já! e seria eleito presidente da República, em 1985, pelo colégio eleitoral.


Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
DEPOIMENTO
. Flávio Henrique, músico que começou a estudar na Música de Minas aos 18 anos

“Era uma época muito inicial de minha carreira, quando fui estudar violão com Gilvan de Oliveira na Música de Minas Escola Livre. A oportunidade para conhecer de perto músicos que a gente via tocando com Milton Nascimento, Beto Guedes e outros artistas era imperdível. Não havia nada igual em Belo Horizonte até então. As escolas de música que existiam por aqui tinham um perfil mais tradicional, enquanto a Música de Minas significava um avanço.”


Marcos Vieira/EM/D.A Press
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
TRÊS PERGUNTAS PARA...

. Babaya, Professora de canto


Qual é o principal legado da Música de Minas Escola Livre?
A Música de Minas Escola Livre foi um marco no meio musical de Belo Horizonte. Lembrando que se inaugurou também a casa de shows Cabaré Mineiro, que seria como uma continuação musical da escola, quase na mesma época. Foram momentos de muita música, em que vimos o surgimento de grandes artistas. A Música de Minas centralizava o lado pedagógico, o conhecimento e a inspiração musical. Ali nasceram os mestres que até hoje são responsáveis pela formação de várias gerações de excelentes músicos que atuam no mercado musical, inclusive em outros países.

Acredita que a Universidade Bituca, de Barbacena, tenha algo em comum com aquela escola?
Completamente! As duas escolas se basearam num sonho que se tornou realidade. As duas oferecem oportunidades para que o aluno aprenda vendo o “mestre” fazer música. Cria-se, então, uma relação de mestre e aprendiz. É uma pedagogia livre, criativa e inspiradora.

Qual era a importância do canto na Música de Minas?
Primeiro os alunos de canto se inspiravam no próprio dono da escola: Milton Nascimento. Depois, o convívio com os professores, todos músicos atuantes no cenário musical da cidade. Isso despertava grande interesse nos futuros cantores, pela possibilidade de que seus talentos fossem reconhecidos.

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