

Músicas inéditas
É do jornalista e pesquisador carioca Vagner Fernandes, autor da biografia da cantora mineira Clara Nunes, a ideia de propor à EMI a reedição de 11 discos fundamentais na carreira de Paulinho da Viola. São álbuns feitos entre 1968 e 1979, que, pela primeira vez, serão reunidos numa caixa, depois de passarem por processo criterioso de remasterização. “Paulinho está participando ativamente do processo”, conta o jornalista. Desde que a proposta saiu do papel, o desafio tem sido encontrar novidades. “Estamos vasculhando os arquivos da EMI em busca de alguma sobra de gravações ou registros inéditos, que não tenham entrado nos álbuns.” A proximidade de Vagner Fernandes com o universo do artista vem de infância, pois todos os familiares são ligados ao samba. Sempre teve profunda admiração pelas canções do sambista, algo que só aumentou com o tempo. “A obra do Paulinho, como de outros ícones de nossa música, é atemporal, de beleza rara, de sofisticação melódica inebriante.” Para ele, as letras são como obras-primas por conseguirem traduzir a alma de um artista absolutamente apaixonado, sempre a serviço de sua arte, de forma incondicional. “Cada vez que o ouço, descubro novas vertentes, percebo-me caminhando por trilhas inéditas em uma constante (re)descoberta que só um grande autor, uma grande obra é capaz de nos proporcionar.” Ao longo da trajetória, Paulinho da Viola compôs de maneira tão plural que é difícil reduzir sua obra a poucos aspectos. O jornalista considera essa produção como “a música brasileira legítima”, em sua verdadeira essência e totalidade. “É a força motriz indelével, que nos conduz ao abismo da felicidade e da paixão”, enfatiza. Além dos 11 álbuns clássicos, a caixa trará, como novidade, CD com registros inéditos ou pouco conhecidos do grande público, como, por exemplo, música que o cantor fez para a trilha da novela Simplesmente Maria, produção de 1970, da extinta TV Tupi, escrita por Benjamin Cattan e Benedito Ruy Barbosa, baseada no original de Rosamaria Gonzalez. Outra novidade é que a Warner também se prepara para reeditar os três álbuns que o sambista gravou na década de 1980, incluindo o raro Prisma luminoso, de 1983. EM DOIS TEMPOS
Documentário » A obra de Paulinho já foi tema de livros, teses acadêmicas, discos e do documentário Meu tempo é hoje, lançado há 10 anos pela VideoFilmes, com direção de Isabel Jaguaribe e roteiro de Zuenir Ventura. Em 83 minutos, o filme mescla às canções as memórias do artista bem delineadas pelo olhar atento do jornalista Zuenir Ventura. A produção só confirmou o senso comum: que Paulinho da Viola é pessoa simples, suave, sensível, inteligente, elegante. Livro » Paulinho da Viola ganhou inúmeras homenagens, mas uma considera especial: o livro Velhas histórias, memórias futuras – O sentido da tradição em Paulinho da Viola, de Eduardo Granja Coutinho (Editora Uerj). Recentemente, a publicação ganhou reedição revista e ampliada. Mostra, entre outras coisas, como o compositor conseguiu expressar-se na tradição do samba e do choro, mas, ao mesmo tempo, mantendo-se ligado a seu contexto, sem saudosismo. Fruto de tese de doutorado do autor, a obra trata Paulinho como um dos compositores que melhor representam a visão da tradição como algo em movimento, como “herança viva”. No texto, fica claro que o passado resgatado tem importância na medida em que diz aos interlocutores atuais alguma coisa sobre o presente e, dessa forma, garante projeção para o futuro. A questão, presente em vários momentos nas composições do sambista, ganha síntese nos versos de Dança da solidão: “Meu pai sempre me dizia/ Meu filho toma cuidado/ Quando penso no futuro/ Não esqueço meu passado”.