Musica

Concerto da Orquestra Ouro Preto reúne canções de Alceu Valença

Espetáculo regido por Rodrigo Toffolo dará origem a DVD

Walter Sebastião

 

 

A cultura brasileira vista por meio de sons e poemas da música de Alceu Valença. É o que a Orquestra Ouro Preto, com regência do maestro Rodrigo Toffolo, propõe com o concerto Valencianas, que será realizado neste sábado, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Espetáculo arrebatador, como tudo o que a orquestra mineira faz. Durante a apresentação, será gravado DVD, registro não apenas do encontro entre erudito e popular, mas de Ouro Preto e Olinda. “Alceu Valença diz em uma canção que quer ter o destino de dar águas ao oceano, para que elas evaporem e chova outra vez. A música dele é assim”, explica Rodrigo Toffolo. Estão no repertório do concerto La belle du jour, Coração bobo e Tropicana, entre outras. “São criações que trazem sentimento forte de pertencer a um lugar, família ou a uma origem, que é de todos”, afirma. “É brasilidade, universalização de situações específicas, que permite que qualquer um se veja nela”, garante o maestro.

 

“Vamos mostrar música que, como o Rio São Francisco, atravessa territórios amplos”, observa. Elogia Alceu pela defesa de suas ideias ao longo de décadas, sem se vender a modismos. Ponto forte no concerto, para o maestro, é a unidade musical da primeira à última nota, ao longo de 13 canções. Composições distintas no tempo e no espaço, que formam um todo. Isso só é possível quando o compositor tem estilo, caráter, assinatura, algo que ele tem e que falta à arte de hoje”, defende Toffolo.

 

A orquestra busca sempre interpretações com identidade, capazes de atrair o público para a música instrumental. Repertório popular, explica, colabora para que os instrumentistas eruditos conheçam contextos que estão fora da rotina. “São novos desafios, histórias que proporcionam crescimento”, analisa. Valencianas foi apresentado no Rio, São Paulo e já esteve em BH. E a Orquestra Ouro Preto vem desenvolvendo novo projeto, agora com o angolano Waldemar Bastos. TELÚRICO “Não me deslumbro por estar no palco junto com uma orquestra, mas me emociono”, confessa Alceu Valença. Ele já ficou da coxia do teatro ouvindo atento à suíte com as suas peças que abrem Valencianas. “Entenderam a genética da minha música”, conta, satisfeito e só elogios para Mateus Freire, que assina os exuberantes arranjos. “Sou produto de aboiadores, emboladores, tenho influência ibérica, sou muito brasileiro”, afirma, satisfeito com a orquestra afinada, que tem expressão e é bem regida. “Eles gostam do meu som, e eu do deles. É simpatia retada”, afirma. “Sinto-me em casa”, completa, destacando a coerência sonora do espetáculo.

 

O concerto, para Alceu Valença, mostra afinidades naturais entre todos os envolvidos, alimentadas por muitas visitas dele a Ouro Preto; conversas com o regente e arranjador, para dar forma ao projeto que “o compadre mineiro” Paulo Rogério Lage sonhou e o convenceu a participar. Valencianas mexe com as memórias do músico. Ele recorda que o pai e a mãe visitaram Minas e adoraram o jeito do mineiro. “Sou da serra, do interior, da altitude, venho de gente que conversa em torno do fogão em noite de frio. A Minas lusitana é igual a São Bento do Una, onde nasci”, garante.

VALENCIANAS Concerto com a Orquestra Ouro Preto e Alceu Valença. Neste sábado, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

 

Quem é quem

 

Alceu Valença – Alceu Valença tem 66 anos. O gosto pela música vem da infância, quando ouvia artistas de feiras, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Marinês. O avô, Paulo Alves Valença, poeta e violeiro, também foi influencia. Aos 10 anos, foi para o Recife, onde ouvia Orlando Silva, Dalva de Oliveira e também Little Richard e Ray Charles. Foi para o Rio de Janeiro, em 1971. É de 1980 o LP Coração bobo, cuja canção-título estourou nas rádios e apresentou o artista ao Brasil, com seu trabalho marcado pela beleza das músicas (e letras) e pela força das performances. O CD mais recente é Marco Zero – Ao vivo (2006). Leva o nome de Cordel virtual, a luneta do tempo (2009) o filme dirigido pelo músico. “O que busco é arte que vem do espírito, do coração e do sentimento”, afirma. Orquestra Ouro Preto – Criada em maio de 2000, tem como proposta o desenvolvimento de repertório diversificado em gênero e épocas. Teve o disco Latinidades (2007) indicado ao Grammy Latino, na categoria melhor instrumental. E o concerto dedicado aos Beatles levou o grupo ao International Beatles Week 2012, em Londres, principal evento dedicado ao quarteto. O grupo está fechando a segunda turnê europeia e tem convites para gravar DVD, ao vivo, em Londres. O regente – O maestro Rodrigo Toffolo, de 35 anos, é ouro-pretano. Iniciou sua formação estudando violino na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). Atou como violonista no Quarteto Ouro Preto, grupo Trilos e Bateia. É mestre em Musicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); estudou regência com o maestro e compositor Ernani Aguiar. É um dos criadores do Instituo Candonguêro, associação de artistas e pesquisadores cuja finalidade é a difusão da cultura de Minas e do Brasil. É diretor artístico e um dos fundadores da Orquestra Ouro Preto, além de regente titular desde 2007. Orquestra, para o maestro, é grupo artístico do presente, que pratica o passado e antecipa o futuro.