- Foto: Lab344/Divulgação
Mesmo que o trio inglês The xx tenha anunciado, desde o início das gravações, em novembro do ano passado, que o som do segundo disco,
Coexist, seria mais eletrônico e inspirado na club music, ele não foi feito para dançar. Com boa parte da ambiência proporcionada pelos teclados e ritmos eletrônicos do produtor Jamie Smith, cada vez mais requisitado como DJ e produtor de remixes, mesmo em faixas mais animadas, como
Missing e
Sunset, a sensação predominante no álbum, que acaba de sair no Brasil, é de um clima etéreo, nebuloso, mais de sugestões do que de afirmações definitivas.
Formado em 2005 por quatro colegas de uma escola do Sul de Londres, a Elliot School, o grupo, que ficou reduzido depois da saída da tecladista e guitarrista Baria Quresh, estreou de maneira espetacular em 2009 com um disco que vendeu mais de 400 mil cópias no mercado norte-americano. O mix climático de pós-punk, indie rock, deep house, dubstep e r&b desacelerado logo alçou a banda ao panteão reservado às grandes novidades. E hits como
Crystalized e
Islands (que ganhou até cover de Shakira ) fizeram com que eles tivessem prestígio semelhante ao de bandas como New Order e Happy Mondays no auge da fama.
Depois de dois anos excursionando com o repertório do primeiro CD, a vocalista e guitarrista Romy Madley Croft e o baixista e vocalista Oliver Sim se isolaram e compuseram temas que, no final, passaram a dialogar, de modo complementar. Gravado num estúdio de fotografia londrino, com direito a deixar portas abertas para que ruídos externos pudessem ajudar a criar climas, o álbum foi feito enquanto o trio ouvia Sade, Marvin Gaye e outros tradutores de sensualidade em som.
Mas na música do The xx, mesmo que muitos entendam o sexo como elemento fundamental, o que predomina é a reticência, a sensação de solidão, do amor como fonte de incompletude e ausência. Da abertura, com
Angels, em que o amor é comparado a um sonho com anjos, e com o hit
Chained (com sample de um tema dos
Crusaders), sobre a distância do ser amado, à romântica oferenda final de
Our song, o trabalho é repleto de contrastes entre a carne e a inocência, a noite e a luz do dia, o clima de balada e a tentação.
Coexist, que mantém e amplia o estilo do primeiro disco, pode ser encarado como segura repetição ou reafirmação de personalidade. Seja qual for a opção de quem ouve, as camadas que vão sendo apreciadas e decifradas a cada nova audição continuam garantindo ao trio uma posição diferenciada numa cena tão diversa quanto carente de originalidade.
Cotação: Muito bom