É hora de guardar o traje a rigor e recomeçar o trabalho. Saem as roupas sociais, voltam a camisa xadrez e as botas. No palco, começa a diminuir a melodia da orquestra regida brilhantemente pelo maestro João Carlos Martins. Sobe o novo som, puxado pelas batidas aceleradas da bateria e por dedilhadas nervosas na guitarra. Tudo para dar ritmo a novas modas, regravações e clássicos sertanejos repaginados por Chitãozinho e Xororó. Mesmo depois de tanto tempo na estrada, a dupla ainda tem os olhos marejados ao ver o público cantar Evidências.
Essas cenas ocorreram na Wood’s, em São Paulo, durante gravação do novo trabalho dos irmãos, o disco ao vivo Do tamanho do nosso amor. O objetivo do projeto é claro: mostrar que as comemorações das quatro décadas de carreira acabaram. A vida segue.
“Encerramos a festa com o nosso DVD sinfônico (ao lado da orquestra de João Carlos Martins). Agora, começa uma nova história”, resume Chitãozinho. A dupla já gravou 34 discos e seis DVDs. Mas os irmãos não querem saber de ser apenas “a referência”. Prometem renovar.
O novo CD conta com a produção musical de um dos artistas de sucesso na cena sertaneja: o cantor Fernando Zorzanello, da dupla Fernando e Sorocaba. “A gente já estava pensando nessa mudança, pois percebemos que o som das canções mais conhecidas se tornou antigo perante o que ocorre no sertanejo”, explica Chitãozinho. “O trabalho deles (Fernando e Sorocaba) tem muito do que a gente curte. Já sabíamos que o Fernando era o responsável pelos arranjos. Surgiu o convite, a princípio para uma faixa. Acabamos fazendo o disco inteiro juntos”, conta.
Com seis canções inéditas na voz da dupla – inclusive releituras de composições de Djavan e Raul Seixas –, o álbum não tem lançamento marcado. Mas vem gerando expectativa no universo sertanejo. “Há a parceria com o Victor Chaves, em Nosso amor é assim, música composta por ele e pelo Xororó; tem a canção do Sorocaba que dá nome ao disco; e gravamos a música do Lenine Não sou nada sem você, que é muito linda e estava guardada havia muito tempo”, antecipa Chitãozinho.
REGRAVAÇÕES
Apesar da aposta em novidades, a maior surpresa deve ficar por conta das releituras de sucessos da dupla. Com pré-produção de Cláudio Paladini, clássicos ganharam roupagem diferente, mas respeitando arranjos originais. “É o caso de Vida marvada: não tínhamos o nosso registro ao vivo dela. Outra que volta é Sinônimos, parceria com o Zé Ramalho. Muito pedida em rádio, decidimos colocá-la apenas em nossas vozes”, explicou Chitãozinho.
Em tempos de “eu quero tchu, eu quero tcha”, Chitãozinho diz que há muita gente de talento na música popular, ao comentar o sucesso de artistas que ainda apostam no sertanejo romântico, como Paula Fernandes, e nas modas de viola, como João Carreiro e Capataz. “Artistas maravilhosos, Paula, João e o Capataz continuam fazendo música de sentimento. É isso que fica, é disso que o sertanejo precisa. Musiquinha de refrão faz sucesso, mas passa”, avisa o veterano.
NA ESTRADA
O álbum gravado em São Paulo não será o único lançamento de Chitãozinho e Xororó este ano. A dupla fechou contrato para
cinco shows em pontos estratégicos de revenda dos postos Shell no país. As apresentações darão origem a um CD, que poderá ser adquirido por caminhoneiros que abastecerem na rede. “Posteriormente, esse projeto também será lançado no mercado”, informa Chitãozinho.