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Chico Amaral faz show de lançamento de seu segundo álbum instrumental, Província

Disco conta com composição própria e temas de Tavinho Moura, Toninho Horta, Beto Lopes e Túlio Mourão

Eduardo Tristão Girão
- Foto: Leandro Couri / Esp.EM/D.A. PRESS
Cristalino, o registro do solo do saxofonista belo-horizontino Chico Amaral na linda balada 12 de outubro, de Nivaldo Ornelas, revela mais que a perícia do improvisador. É nítido seu talento para conferir sentimento às notas, sopradas como se o músico estivesse ao lado do ouvinte, em timbre cheio de calor. A composição é uma das nove que compõem o repertório de seu segundo disco solo, Província, no qual o músico contempla exclusivamente peças de autores ligados à música mineira. O show de lançamento será quarta-feira, 25, à noite, no Grande Teatro do Palácio das Artes, e faz parte da programação do Savassi Festival. Na ocasião, o músico receberá o Prêmio Jazz de Minas e será sucedido no palco pelo trio do pianista norte-americano Kenny Werner, que tocará com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. “Todas as músicas foram praticamente gravadas ao vivo em estúdio. Tocamos tudo juntos. Para música instrumental, é perfeito. A gente sempre ouve e almeja essa sonoridade. Inclusive, tenho tocado melhor assim, ao vivo.
Fica mais intenso”, observa Chico Amaral. A propósito, ele conta ter tentado gravar tudo sem fone de ouvido, na tentativa de aproximar ainda mais o ambiente de gravação da atmosfera de suas apresentações. “Não conseguimos, pois é preciso uma sala pensada para isso. Miles Davis e Gil Evans fizeram assim, mas com muitos takes e a gravadora Columbia bancando tudo”, justifica. Mesmo assim, ele e a banda (com a qual toca desde 2000) conseguiram imprimir textura de música ao vivo ao novo disco. Como resultado, obteve som mais espontâneo e menos “premeditado” que em Singular, seu álbum anterior, focado em composições e arranjos. “Singular tem algo quase pop na concepção e colagem de arranjos, com a gravação de uma camada de cada vez. Esse novo disco é mais orgânico, com a base saindo pronta e junta. Ainda assim, me deu trabalho”, diz. Acompanhado por Magno Alexandre (guitarra), Ricardo Fiúza (teclados), Enéias Xavier (baixo) e André “Limão” Queiroz (bateria), Chico tocou flauta, piano e saxofones tenor, alto e soprano. Gravou as composições entre agosto e novembro do ano passado em três estúdios da capital mineira. TIME O repertório é um passeio por composições de alguns dos melhores nomes da geração de Chico, todos eles já em atividade nos anos 1970. Começa com Canoa, canoa, tema de Nelson Angelo e Fernando Brant, com participação especial do próprio Nelson na guitarra. A exemplo disso (e prova de seu reconhecimento na cena musical), Chico teve a felicidade de contar com a presença de quase todos os compositores escolhidos em estúdio. Estão lá o violonista Toninho Horta (que dá seu toque perolado à Pedra da lua), Tavinho Moura (viola caipira e vocalise no seu enigmático Bolero de Ana, que tem também a guitarra de Samuel Rosa), o saxofonista Nivaldo Ornelas (em 12 de outubro, um dos pontos altos do álbum), o pianista Túlio Mourão (Moça de fino trato, bem ao estilo “jazzmineiro”) e o violonista Juarez Moreira (na curiosa mestiçagem de Samblues). Também marcam presença o guitarrista e violonista Beto Lopes (no bom samba Nem nada, dele e de Murilo Antunes) e a intitulada Banda Bituca (em From the lonely afternoons, de Milton Nascimento e Márcio Borges), formada por Kiko Continentino (piano), Wilson Lopes (guitarra), Gastão Villeroy (baixo) e Lincoln Cheib (bateria), músicos que acompanham Milton. Essa última faixa foi originalmente gravada no disco Native dancer (1974), do saxofonista norte-americano Wayne Shorter, com participaçao de Bituca. JOVIAL A única faixa assinada por Chico é o groove Estação 104 (com o baixista Enéias), homenagem ao café do centro cultural CentroeQuatro, em BH, onde ele e sua banda fizeram temporada.
Ela tem participação do guitarrista Marcelinho Guerra, apontado pelo saxofonista como destaque da nova geração: “Está havendo uma renovação na cena musical da cidade. São caras sofisticados, que estão com tudo e botando para quebrar. Como diria o Miles Davis, ‘espero que ele nos ache uns velhotes bem pra frente’”. Para quarta, garante quase todas as músicas do disco, além de Singular (do álbum anterior), a inédita São Domingos e a ária da Bachiana nº 5, de Villa-Lobos. A banda que estará com ele no palco é a mesma do disco e haverá dois convidados especiais: Túlio Mourão, que tocará piano em Moça de fino trato, e Wagner de Souza (trompete), outro jovem talento da cena musical belo-horizontina, na opinião dele. CHICO PREPARA LIVRO SOBRE MILTON Paralelamente à agenda como músico, Chico Amaral se esforça para arranjar tempo e levar adiante projeto de livro sobre Milton Nascimento. Já fez pelo menos cinco entrevistas com o cantor e compositor e ainda quer fazer uma última antes de iniciar a segunda fase do trabalho, de conversas com outros músicos ligados a Bituca. “Estou terminando de transcrever e já tenho material imenso, com um milhão de histórias sobre muita gente”, conta ele. A obra ainda não tem nome nem previsão de lançamento. Em breve, partirá para entrevistas com músicos como Nivaldo Ornelas, Wagner Tiso, Wayne Shorter, Robertinho Silva, Célio Balona, Pacífico Mascarenhas, Chiquito Braga, Amilton Godoy e Paulo Braga. “Traçarei panorama do surgimento dessa lenda que é a música mineira. Há histórias tão bonitas que daria para fazer um livro como os do Ruy Castro, mas não quero fazer o que jornalistas fariam melhor do que eu. Será um livro de músico, incluindo, por exemplo, transcrições de músicas comentadas”, adianta. AS FACES DE CHICO » Chorão Ele começou a carreira em 1979 no conjunto de choro Naquele Tempo, do violonista Flávio Fontenelle.
Nessa época, tocou com Cartola e Altamiro Carrilho. » Roqueiro Além de instrumentos de sopro e piano, ele também toca guitarra, a exemplo do período em que foi integrante do grupo de rock progressivo Sagrado Coração da Terra, de Marcus Viana. » Compositor Na seara da canção, seu trabalho mais conhecido é com Samuel Rosa, do Skank, mas tem parcerias com Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Erasmo Carlos e Ed Motta, entre outros. » Autor de trilha Em 2005, escreveu a trilha do espetáculo Identidades, do Corpo Cidadão (projeto do Grupo Corpo), incluindo parcerias com Flávio Renegado, Leo Minax e Makely Ka. » Jazzista Ele brilha como compositor e arranjador nos temas instrumentais e seu grupo de jazz é das principais referências na noite de BH, com performances inspiradas e entrosadas. PROVÍNCIA Show de lançamento do disco de Chico Amaral e apresentação do Kenny Werner Trio com Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Quarta-feora, 25, às 20h30, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingresso: R$ 30. Informações: (31) 3237-7399. Ouça as faixas From the lonely afternoons e 12 de outubro, de Chico Amaral: .