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Beth Carvalho mostra seu batuque no Chevrolet Hall

Cantora apresenta novo disco na capital mineira

Ailton Magioli
Beth Carvalho traz a Belo Horizonte o show de seu novo disco - Foto: Washington Possato/Divulgação

Puxado no rádio pelas faixas Chega, de Rafael dos Santos e Leandro Fregonesi, e Se vira, de Arlindo Cruz e Marquinho PQD, Nosso samba tá na rua, de Beth Carvalho, chega ao palco do Chevrolet Hall, nesta sexta-feira à noite, depois da estreia no eixo Rio-São Paulo. “As apresentações anteriores foram exatamente como está no disco, com bailarinos também”, afirma a cantora carioca, salientando que a falta de patrocínio impede que ela faça o mesmo em BH.
 
A essência de Beth Carvalho, no entanto, estará em cena: o samba de qualidade em show de repertório mesclado entre as pérolas do novo disco e os clássicos da consagrada carreira de mais de 40 anos, que lhe renderam o título de madrinha do gênero. Recuperando-se de duas cirurgias de coluna (ficou 18 meses reclusa), a cantora diz que está-se sentindo bem – tem apenas que recorrer à bengala para se locomover com mais conforto. “Estou ótima”, avisa.

O 36º disco de carreira fez com que Beth Carvalho reatasse a relação com o produtor Rildo Hora, depois de 27 anos. Além de apresentar a filha Luana Carvalho como compositora, em Arrasta a sandália, da parceria com Dayse do Banjo, Beth volta a cantar com os amigos do bloco Cacique de Ramos (Arlindo Cruz e Almir Guineto), lançados por ela, além de homenagear o mestre Nelson Cavaquinho (1911-1986), cujo centenário de nascimento continua festejando.

Sob direção musical de Carlinhos 7 Cordas, que toca violão de 7 cordas na banda de 10 músicos que acompanha a cantora, Beth Carvalho ainda homenageia “a deusa do samba, a grande compositora e intérprete que faz os lararás mais bonitos da MPB”, dona Ivone Lara, de quem gravou Em cada canto uma esperança e a quem dedica o disco. E, naturalmente, a sua escola de samba de coração: a Mangueira, que, coincidentemente, este ano vai cantar na avenida o Cacique de Ramos. “Temos tudo para ganhar com o enredo bonito, um dos melhores do ano”, diz, admitindo estar-se sentindo homenageada, também. “Sou Cacique e sou Mangueira”, justifica, ao reforçar a relação com as duas agremiações.

De Belo Horizonte, a cantora seguirá com a turnê de lançamento do disco para apresentações em Florianópolis, Natal e Recife.
Os convites para o exterior estão chegando e ela não descarta apresentações no Chile e Madri.

“O disco está maravilhoso, já figura entre os mais vendidos e foi incluído na relação dos 100 melhores do ano”, comemora a aprovação de crítica e público. Segundo revela, ao privilegiar a carreira de maestro, Rildo Hora acabou se afastando-se dela por longo tempo. “Ele estava sem tempo para me produzir, mas continuamos amigos. O tempo foi passando e não percebemos”, afirma Beth Carvalho, contente com o resultado de Nosso samba tá na rua, que marca o retorno dela às composições inéditas, 15 anos depois do último disco do gênero.
 
PARA CANTAR COM ELA 

Nosso samba tá na rua De Roberto Lopes, Alamir, Canário e Nelo Penetra

“A rapaziada sambando está feliz/ Sacudindo com arte este país/ Nosso samba tá na rua/ Que ouve no rádio vai logo, aumenta o som/ Vai na esquina pra ver o que é bom/ Se alastrou, nosso samba tá na rua/ De presente o moleque pede ao pai/ Um cavaco e um pandeiro e ele sai/ Nosso samba tá na rua/ Tem batuque, tem festa, vem ver/ Na tendinha, no bar ou no salão/ Vem sentir a alegria de ser/ Um sambista, também, meu irmão/ Coração balança na mesma frequência/ Vem de Deus esse som que a gente faz/ Agradeço a essa santa resistência/ Ao pedido do povo eu quero mais/ Vai o sol e vem a lua ô, ô, ô/ Alegria continua/ Nosso povo está em festa/ É o pouco que nos resta/ Nosso samba tá na rua/ Lá, iaiá, iaiá/ É cavaco/ É pandeiro, é na palma da mão/ Lá, iaiá, iaiá/ Na batida do samba do seu coração”. 
 
Mãe coruja 
 
Madrinha de tantos talentos, depois de descobrir e lançar toda uma geração de sambistas via Cacique de Ramos, Beth Carvalho agora investe na própria cria. A filha Luana Carvalho, de 30 anos, é a mais nova aposta da sambista, não como cantora, mas como autora. De Luana Beth gravou Arrasta a sandália, da parceria com a também jovem Dayse do Banjo. “Disse a Luana outro dia que ela está muito metida. Já começa sendo gravada por Zeca Pagodinho, que canta comigo a faixa no disco”, relata a mãe coruja. “E já fez um samba com Arlindo Cruz, para a campanha contra o preconceito”, acrescenta, orgulhosa.

Depois da carreira de atriz (Luana fez as novelas América e Laços de família, além de Malhação, na TV Globo, e os filmes Mulheres do Brasil e O passageiro – Segredos de adulto), ela quer ser cantora e já está gravando um EP. “Luana tem talento e potencial muito bom”, assegura, lembrando que a filha canta, dança e atua, além de ser charmosa e bonita, como comprova foto da capa do disco da mãe, onde posa ao lado de Beth e de sambistas na quadra do Cacique de Ramos.

O problema para Beth é o fato de as pessoas acharem que os filhos devem substituir os pais na carreira. “Esta é uma responsabilidade que eles não deveriam ter”, ensina, salientando o fato de ser exigente com os candidatos ao posto de artista. Luana, de acordo com Beth, não é uma sambista, mas uma cantora de MPB. Que o Brasil em breve conhecerá.
Em Nosso samba está na rua, além de Luana e Dayse do Banjo, Beth investe em jovens compositores como Leandro Fregonesi, entre outros.

Projeto
Nome historicamente ligado ao universo do gênero, nada mais oportuno para a cantora do que o desejo de criar o Instituto do Samba Beth Carvalho. “Já falei com o prefeito Eduardo Paes, do Rio, e ele ficou de agendar uma reunião para tratarmos do assunto”, afirma, empolgada, ela que é dona de grande acervo do tema. O projeto, segundo revela, não se limitará à criação de uma espécie de museu. “Vamos criar uma escola de música para comunidades carentes, com direito a teatro, rádio dedicada ao samba e muito mais”, anuncia. “É sempre bom ter mais coisas voltadas para o samba. Podia ter uma rádio só de samba no Brasil. Hoje o mercado é todo segmentado, voltado para determinados ritmos”, diz.
 
BETH CARVALHO – NOSSO SAMBA TÁ NA RUA
Show sexta-feira, 3 de fevereiro, às 22h30, no Chevrolet Hall, Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989. Ingressos: Mesa/4 lugares (valor único) – 1º lote: R$ 320; 2º lote: R$ 360. Pista/arquibancada – 1º lote: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada); 2º lote: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia); 3º lote: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia); 4º lote: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). 
 
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