Dono do próprio selo, Jerry Adriani tenta recuperar o tempo perdido com Pop Jerry & Rock - Foto: Rogério Resende/DivulgaçãoAos 64 anos, Jerry Adriani acredita ter cometido um grave erro por não ter se dedicado mais à composição ao longo dos 47 anos de carreira. Autor de alguns sucessos (Só a saudade e Nosso romance), o cantor, compositor e instrumentista paulista, que veio à cena em plena Jovem Guarda, está lançando Pop Jerry & Rock, o primeiro álbum autoral, incluindo parcerias, depois de também se responsabilizar por sucessos de Jane Duboc (Feliz, de sua autoria, batizou disco dela), além de Zezé Di Camargo & Luciano (é dele, em parceria com Lilian Knapp, a versão de You are always on my mind gravada pela dupla).
“Nos anos 1970, quando dávamos nossas cabeçadas, Roberto Carlos encontrou seu caminho por meio do próprio repertório. Ele é caso à parte na Jovem Guarda, que se organizou financeiramente”, afirma. “Nome a gente tem. O negócio é saber administrar”, reflete o cantor, recordando investimentos frustrados como o de um spa que teve de fechar. “Temos que compor. Primeiro porque há determinadas coisas que queremos dizer”, afirma, salientando que se há essa possibilidade, melhor é que o próprio cantor e compositor mande seu recado. “Já nos últimos trabalhos, coloquei de duas a três músicas de minha autoria”.
“A grande realidade é que temos muito a dizer. O músico é repórter do cotidiano”, reconhece Jerry, salientando o medo generalizado de se lançarem canções inéditas, atualmente. “Até Roberto anda protelando”, constata o fato de há muito o Rei não lançar um disco de inéditas. “O problema é a divulgação, que hoje se transformou em algo puramente comercial”, detecta. “Antigamente, era um verdadeiro massacre. De um LP o disc jóquei era capaz de tocar de quatro a cinco músicas. Ele não se limitava apenas à sugerida pelas gravadoras”, recorda.
Facebook Atualmente, de acordo com o cantor, a prática do jabá (pagar para a execução da música) está institucionalizada, ainda que o uso de ferramentas como a internet venha se popularizando. “Já consegui mais de 3 mil seguidores em meu Facebook”, contabiliza, negando-se a pagar para ter a sua música veiculada. “É inadmissível. Trata-se de um tipo de prostituição”, opina, admitindo fazer “permutas” em troca da divulgação de seu trabalho. Segundo acredita, depois de homenagear o Legião Urbana no disco Forza sempre, dos anos 1990, ele deveria ter seguido a linha pop-rock de carreira, que acabou não apoiada pela gravadora (Indie Records) na época.
Hoje dono do próprio selo, ele tenta recuperar o tempo perdido com Pop Jerry & Rock, porém na linha autoral. Logo depois do disco em que cantava sucessos do Legião, Jerry bem que tentou fazer o mesmo com Raul Seixas. “Mas Kika (viúva de Raul) já tinha compromisso assumido com o Zé Ramalho”, recorda, salientando a ligação histórica que teve com o Maluco Beleza, que acabou homenageado em medley de um disco seu. Jerry, que já concorreu com Roberto Carlos e Tim Maia na categoria de melhor cantor popular em um dos prêmios de MPB, confia no mercado que a Jovem Guarda acabou lhe garantindo, lembrando que ele é o melhor cliente dele mesmo. Afinal, são cerca de oito e 10 shows/mês, o que garante uma média de 100 ao ano.
MEMÓRIA
Movimento influente
Da Jovem Guarda (JG), Jerry Adriani guarda lembranças como o programa de Roberto Carlos, que, apesar de ter durado apenas três anos, tornou-se emblemático. “Ele simbolizou o movimento”, justifica, salientando que o Rei, Erasmo Carlos e Wanderléa lideravam a JG que, no entanto, não se resumiu ao trio. “Eduardo Araújo, por exemplo, fez músicas emblemáticas na época”, defende o colega da vertente roqueira do movimento, cuja origem foi o denominado iê-iê-iê, nos anos 1960.
Se não houve uma renovação do movimento, segundo Jerry, é porque o público não quer. Nos anos 1980, recorda, a turma do pop-rock, tendo à frente bandas como Skank, Legião Urbana e Titãs (o ex-líder Arnaldo Antunes lançou, mais recentemente, um disco não por acaso batizado Iê-iê-iê), foi a que mais se aproximou da Jovem Guarda com a sua música. “Aquilo seria a renovação da Jovem Guarda”, acredita Jerry Adriani, que, antes de influenciar roqueiros como Renato Russo, sofreu influências de Elvis Presley, o pai do gênero. Na opinião do cantor, a própria música sertaneja, que hoje traz algo das baladinhas românticas que Martinha cantava, foi influenciada pela Jovem Guarda.
Próximos passos
Desde que viu Tiago Abravanel, neto de Silvio Santos, na pele de Tim Maia, em Vale tudo, em cartaz no Rio, Jerry Adriani não pensa em outra coisa. “Quero fazer um musical”, anuncia o cantor, cuja cara de galã já o levou até a novela teen Malhação, da Globo, entre outras experiências do gênero. Ao lado do filho Tadeu, de 28 anos, ele promete não só produzir, mas também atuar em teatro, preferencialmente em algo do gênero, que ele ainda não definiu. O filho mais velho, Tiago, de 30, é cantor e também deverá ganhar um show ao lado do pai. Já o caçula Joseph, de 8, apesar de ainda ser muito cedo para pensar em profissão, já adora uma bateria, segundo Jerry corujão.
Ouça 2012!