Com imaginação, dá para fazer a versão do clássico Era um garoto, de Os Incríveis, substituindo as insubstituíveis bandas inglesas The Beatles e Rolling Stones pelas brasileiras The Fevers e Renato e Seus Blue Caps. Afinal, foi no auge do rock – fim dos anos 1950 e início dos 1960 – que ambos vieram à cena por aqui, integrando-se, inclusive, no caso do primeiro, à antológica Festa de arromba, de Erasmo Carlos.
Ícones da Jovem Guarda, liderada por Roberto Carlos e o inseparável parceiro, os dois grupos se apresentam amanhã à noite, no Chevrolet Hall, prometendo resgatar os bons tempos do velho e bom rock’n’roll, aqui inicialmente conhecido por iê-iê-iê. Além, claro, de despertar, no mínimo, a curiosidade da juventude sobre os primórdios do pop-rock tupiniquim. “Era um garoto/ Que como eu/ Amava os Fevers e os Renato e Seus Blue Caps”, cantariam alguns, mais empolgados, com a volta dos que nunca foram.
Menina linda, Feche os olhos, Capeta em forma de guri, Não te esquecerei, Meu bem não me quer, A primeira lágrima e Meu primeiro amor foram alguns dos grandes sucessos de Renato e Seus Blue Caps, cujas gravações de Negro gato e Gatinha manhosa, antes mesmo de Roberto e Erasmo Carlos, respectivamente, acabaram ofuscadas pelo apelo das versões de então. “Nunca paramos”, conta, orgulhoso, o líder Renato Barros, de 65 anos, único remanescente de os Bacaninhas do rock, que originaram o grupo atual, há mais de 50 anos.
Renato Barros (guitarra e voz), Cid (vocal), Gelsinho Marães (bateria e vocal), Darei Velasco (teclados e vocal) e Amadeu Signorelli (baixo e vocal) integram a banda, alvo de um movimento, em Brasília, para entrar no livro dos recordes (Guinness World Records), como a mais antiga banda de rock do mundo, em atividade desde 1959. “A gente realmente pegou muita carona com os Beatles”, afirma Renato Barros, lembrando que a existência de um amigo na Londres da década de 1960, facilitou o contato da então nascente banda brasileira com a música dos quatro cavaleiros de Liverpool. “Enquanto os discos deles demoravam até quatro meses para chegar ao Brasil, recebíamos logo depois do lançamento”.
Salão
Na outra ponta, Liebert Ferreira (baixo), de 64 anos, lembra que o rock mais pesado e dançante acabou responsável por identificar a banda brasileira The Fevers com os Rolling Stones, de Mick Jagger e companhia. Ao lado de Luiz Cláudio (voz) – os dois únicos remanescentes da formação original – ele integra a banda, atualmente, junto de Miguel Angelo (teclados), Rama (guitarra) e Otávio Henrique (bateria). “Apesar da força da bossa nova no Brasil dos anos 1960”, destaca o baixista, “Beatles e Rolling Stones mudaram o mundo, com a força das guitarras.” Vizinhos do Bairro Piedade, na Zona Norte do Rio, Liebert Ferreira e Renato Barros acabaram liderando uma espécie de versão brasileira das duas bandas, transformadas em verdadeiros fenômenos de salão, graças aos célebres bailes shows que comandam até hoje.
“Estávamos no momento e no lugar certo”, acredita o líder do The Fevers, admitindo que, há 46 anos, eles esperam o fim da banda, que nunca chega. Além de viajar o país inteiro com os bailes shows, a banda já esteve em Portugal e nas colônias brasileiras dos Estados Unidos e Canadá. Os discos normalmente ganhavam versões em espanhol para lançamento em países da América Latina. Atualmente, The Fevers fazem de 100 a 120 shows por ano, atingindo média de 8 a 10 shows por mês. A maior vendagem da banda foi com os sucessos Mar de rosas e Vem me ajudar, ambos de 1971, com mais de 500 mil cópias, cada. Agora eu sei, Cândida, Vem me ajudar, Natalie, Hei girl, Ninguém vive sem amor, Pra cima e pra baixo, Boa sorte (com letra de Paulo Coelho) foram alguns dos hits da banda que, nos anos 1980, estourou com o tema de abertura das novelas Elas por elas (com letra de Nelson Motta) e Guerra dos sexos (letra de Claudio Rabello).
Uma festa constante
Gratos por terem tido tempo de formar uma carreira, The Fevers acompanharam Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa em gravações antológicas, como Eu te darei o céu, Vem quente que eu estou fervendo e Prova de fogo, respectivamente, além de Sérgio Reis no clássico Coração de papel. “Agradecemos muito porque tivemos tempo de formar uma carreira. É muito difícil ter um repertório. Somos capazes de fazer um show inteirinho só de sucessos”, reconhece o baixista Liebert Ferreira, salientando que nos tempos atuais tudo é muito rápido e descartável. A imensa legião de fãs da banda, diz ele, renovou-se, atingindo gerações variadas. Com a atual formação, reunida há 18 anos, Liebert acredita ter sido possível manter o espírito original do grupo, sem perder o contato com a atualidade. “O nosso show é uma festa”, constata o baixista, destacando a importância da guitarra e teclados incrementados na sonoridade do The Fevers.
Anterior à própria Jovem Guarda, a banda Renato e Seus Blue Caps não esconde certa mágoa com Roberto Carlos, principalmente depois de Renato Barros ter gravado a guitarra de Splish splash, sucesso do Rei. O guitarrista e cantor lembra que quando Roberto trocou o Rio, onde apresentava Hoje é dia de rock, da TV Rio, por São Paulo, para fazer a Jovem Guarda, na TV Record, levou Erasmo Carlos, Wanderléa, o Trio Esperança e os Golden Boys. “Não estávamos nos planos da Jovem Guarda.”
Autor de Devolva-me, resgatada por Adriana Calcanhotto em 2001, Renato Barros acredita que música não tem idade. Daí a experiência vitoriosa de sua banda, que pega sucessos de carreira e toca com nova roupagem. Com média de dois shows por semana (ao mês, chegam a oito), a banda já se apresentou na Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, chegando até os Estados Unidos em 1997, onde fez show em Miami.
THE FEVERS E RENATO E SEUS BLUE CAPS
Amanhã, às 22h, no Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi. Ingressos: 1º lote, pista/arquibancada, R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia); 2º lote, R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia); mesas, R$ 500 (setor 1) e R$ 400 (setor 2). Classificação: 16 anos. Haverá venda de bebida alcoólica. Informações: (31) 3209-8989.