Quando Sérgio começou a estudar, há 30 anos, precisava ir à biblioteca buscar uma partitura, ou viajar para ver artista importante tocar. Hoje, estudantes encontram todas as informações dentro de casa, no computador. Consequência: gente com técnica beirando a perfeição surge constantemente. “Fico sensibilizado com os concursos. O mercado de trabalho se ampliou e há vários festivais pelo mundo. A cada ano se revela um assombro mundial no violão. O instrumento está chegando ao nível técnico que violino e piano apresentam há muito tempo”, diz.
Atualmente, constata Sérgio, ficou difícil definir limites entre erudito e popular. “As fronteiras caíram, os tons ficaram mais cinzas. Isso é muito bom, o encontro das coisas mais fortes de cada lado”. Quem estuda violão erudito aprende a trabalhar o som. ‘‘O objetivo maior é frasear bem e aprimorar a sonoridade”, explica. “O violonista clássico vai ser como um intérprete de dramaturgia. Aprende a repassar emoções mais fortes”. No caso do popular, Sérgio diz que a preocupação maior é a agilidade. “Ele deve poder improvisar. O enfoque é o ritmo e o suingue”, destaca.
Nada impede que ambas as vertentes se entendam. “Um lado bebe do outro”, resume ele, que aprova a mistura e o crescimento do mercado. Entretanto, Sérgio Assad sente falta do “grande artista”: “Muita gente domina bem o instrumento, mas falta aquela cabeça de criador, com proposta nova, que crie repertório e faça a coisa acontecer”.
GUIA DO OUVINTE
Sérgio Assad comenta o repertório que será apresentado em BH:
Astor Piazzolla – Bandoneon e Zita. “Transcrever a música do Piazzolla para dois violões é, de certa forma, reduzir o universo sonoro dele. Mas tentamos manter o vigor, o violão acaba contribuindo pela sonoridade peculiar e bonita”.
Ernesto Nazareth – Eponina e Batuque. “Nazareth é um pilar da composição no Brasil. As pessoas não dão a ele o valor merecido”.
Heitor Villa-Lobos – Choro nº 5 e nº 1. “Procuramos extensamente as coisas dele para piano, porque com dois violões é possível reproduzir muito do repertório pianístico”.
Joaquín Rodrigo – Tonadilla. “É uma peça muito linda para dois violões, em três movimentos, que reflete muito o violão espanhol, metido a macho. Você bate mais, faz barulho”.
Tom Jobim – Amparo e Stone flower. “Era aquele compositor de música Zona Sul carioca. Rebuscado, com harmonia muito sofisticada. Ele criou clássicos brasileiros”.
Leo Brouwer – Sonata del caminante. “Um solo que o Odair faz, muito bonito. Brouwer é cubano”.
Egberto Gismonti – Palhaço. “Esse é um compositor que trabalhou os dois lados. Eu o rotularia mais como músico erudito que tradicional. Versátil, fez muitas coisas maravilhosas”.
Sérgio Assad – Tahia li Ossoulina. “A gente encerra o programa com uma peça que escrevi, baseada na música oriental. Reflete a nossa herança, somos descendentes de libaneses. É a visão de um músico brasileiro sobre a música do Oriente Médio”.
DUO ASSAD
Dia 7 de agosto, às 18h. Conservatório UFMG, Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Informações: (31) 3409-8300.
Dia 7 de agosto, às 18h. Conservatório UFMG, Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Informações: (31) 3409-8300.