E lá se vão 20 anos sem Raul Seixas tocar ou metamorfosear suas músicas e ideias no plano terreno. Mesmo assim, os malucos beleza dos quatro cantos continuam feito cão sem dono, uivando, pedindo, implorando: “Toca Raul!”.
Alguns vira-latas atendem às súplicas e às vezes tocam, quer dizer, retocam Raul. Porque reproduzir Raul sem a indigência única que lhe sugava o lado artístico é meramente retocar (quase sempre), e sem muito critério, a obra de um legítimo mochileiro das galáxias. De um cara que parecia ter nascido há 10 mil anos atrás (ou à frente?) do seu tempo. Afinal, qual foi o tempo de Raul?
O tempo em que esteve filiado ao fã-clube do Elvis ou o que passou com a banda Os Panteras? Na época em que lançou uma Grã-Ordem Kavernista, fez alquimia sonora com Paulo Coelho ou quando partiu em carreira solo para acabar quase solitário, cozinhando seus últimos lampejos de inspiração na “panela do Marcelo Nova”?
Porque o Raul foi mais um daqueles caras geniais que soube como poucos arrebanhar e dar comida, em forma de arte, aos zumbis, sem deixar de jogar pipoca aos macacos. E quando macacos e zumbis já estão órfãos há duas décadas? Quando não adianta mais revirar o tal Baú do Raul porque dificilmente cairá uma moeda de um centavo sequer? Resta nesse momento, aglomerar fãs em um palco próximo à Estação da Luz, em São Paulo, num “virote cultural” para ouvir a obra de Raul completa, toda sua discografia, durante 24 horas ou mais, passada a limpo por heróis e vilões de uma mesma saga.
Nesse tipo de celebração o público é o que mais se parece com Raulzito, a ponto de poder chamá-lo assim, tão intimamente. Poucos, olhando a multidão de cima do palco, têm envergadura moral bastante para homenagear Raul Seixas sem querer vampirizar mais uma vez o ícone pop e seu legado. É preciso ser cão surrado, feito Nasi, para enfileirar as canções de Krig-ha-bandolo! de forma autêntica e despretensiosa, como numa na confraternização de dois bêbados, na rodoviária mais próxima.
Mais fácil dessa forma, pois não é para qualquer um ter a classe dos Panteras para subir como quem dividiu bons momentos com Raulzito, sem ter que propagandear isso por aí. Mas sentindo a falta de um velho companheiro de carne, osso e muitas idéias do que aproveitando a oportunidade para tirar uma nova lasquinha da lápide imaginária do artista e poder se vangloriar, em seguida, numa esquina qualquer, com um tolo qualquer, como se aquele pedaço de pedra valesse ouro por suscitar um vínculo, mesmo que mórbido, com um ídolo.
“Vivinho da Silva” ele estava, e por onde andavam tantos amigos, parceiros e mesmo seus exploradores? Esperaram o artista genial ser crucificado pelo álcool para só então rezarem por suas benfeitorias, aventuras e desventuras. E agora tocar Raul é como pendurar na parede um cópia de um quadro de um pintor clássico. Quem vê a réplica tem só uma idéia da beleza do original. E pedir para tocar Raul é algo simbólico, muito alem de implorar ou sugerir que toquem alguma composição do artista. É como estender o chapéu ou pedir um real, nos sinais. E, geralmente, quem atende ao pedido, vive muito longe da sociedade alternativa, dos bêbados, mendigos, indigentes e outros bichos grilos. Costuma dar a moedinha e arrancar, com um adesivo de Jesus no carro, pensando em todas as futilidades do mundo capitalista tão incompatíveis com o “Universo Seixas”. Para apenas alimentar o hábito da mendicância, melhor que não toquem Raul.
Alguns vira-latas atendem às súplicas e às vezes tocam, quer dizer, retocam Raul. Porque reproduzir Raul sem a indigência única que lhe sugava o lado artístico é meramente retocar (quase sempre), e sem muito critério, a obra de um legítimo mochileiro das galáxias. De um cara que parecia ter nascido há 10 mil anos atrás (ou à frente?) do seu tempo. Afinal, qual foi o tempo de Raul?
O tempo em que esteve filiado ao fã-clube do Elvis ou o que passou com a banda Os Panteras? Na época em que lançou uma Grã-Ordem Kavernista, fez alquimia sonora com Paulo Coelho ou quando partiu em carreira solo para acabar quase solitário, cozinhando seus últimos lampejos de inspiração na “panela do Marcelo Nova”?
Porque o Raul foi mais um daqueles caras geniais que soube como poucos arrebanhar e dar comida, em forma de arte, aos zumbis, sem deixar de jogar pipoca aos macacos. E quando macacos e zumbis já estão órfãos há duas décadas? Quando não adianta mais revirar o tal Baú do Raul porque dificilmente cairá uma moeda de um centavo sequer? Resta nesse momento, aglomerar fãs em um palco próximo à Estação da Luz, em São Paulo, num “virote cultural” para ouvir a obra de Raul completa, toda sua discografia, durante 24 horas ou mais, passada a limpo por heróis e vilões de uma mesma saga.
Nesse tipo de celebração o público é o que mais se parece com Raulzito, a ponto de poder chamá-lo assim, tão intimamente. Poucos, olhando a multidão de cima do palco, têm envergadura moral bastante para homenagear Raul Seixas sem querer vampirizar mais uma vez o ícone pop e seu legado. É preciso ser cão surrado, feito Nasi, para enfileirar as canções de Krig-ha-bandolo! de forma autêntica e despretensiosa, como numa na confraternização de dois bêbados, na rodoviária mais próxima.
Mais fácil dessa forma, pois não é para qualquer um ter a classe dos Panteras para subir como quem dividiu bons momentos com Raulzito, sem ter que propagandear isso por aí. Mas sentindo a falta de um velho companheiro de carne, osso e muitas idéias do que aproveitando a oportunidade para tirar uma nova lasquinha da lápide imaginária do artista e poder se vangloriar, em seguida, numa esquina qualquer, com um tolo qualquer, como se aquele pedaço de pedra valesse ouro por suscitar um vínculo, mesmo que mórbido, com um ídolo.
“Vivinho da Silva” ele estava, e por onde andavam tantos amigos, parceiros e mesmo seus exploradores? Esperaram o artista genial ser crucificado pelo álcool para só então rezarem por suas benfeitorias, aventuras e desventuras. E agora tocar Raul é como pendurar na parede um cópia de um quadro de um pintor clássico. Quem vê a réplica tem só uma idéia da beleza do original. E pedir para tocar Raul é algo simbólico, muito alem de implorar ou sugerir que toquem alguma composição do artista. É como estender o chapéu ou pedir um real, nos sinais. E, geralmente, quem atende ao pedido, vive muito longe da sociedade alternativa, dos bêbados, mendigos, indigentes e outros bichos grilos. Costuma dar a moedinha e arrancar, com um adesivo de Jesus no carro, pensando em todas as futilidades do mundo capitalista tão incompatíveis com o “Universo Seixas”. Para apenas alimentar o hábito da mendicância, melhor que não toquem Raul.