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Santa cultura

Vale a visita: imagens raras integram a exposição Santas mulheres, em cartaz no Museu de Sant'Ana, na histórica Tiradentes

Santa Verônica, imagem atribuída a Mestre Piranga, séculos 18 e 19 - Foto: ICFG/divulgação

Fui passar um fim de semana em Tiradentes, levando comigo o companheiro da noite “enquanto seu sono não vem”. O livro que estou relendo, O verão perigoso, de Hemingway, trata de sua paixão pelas touradas. E no começo da apresentação, topei com um engano do autor do texto, que explica antecipadamente todos os termos tradicionais usados nas touradas. Ele identifica o termo “verônica” como o lenço com que a santa que acabou ficando com este nome na simbologia católica enxugou o rosto de Cristo ao descer da cruz. Qualquer cristão sabe que não é bem assim. Verônica usou o lenço para enxugar o sangue de Cristo a caminho do calvário, todas as procissões da semana santa enfatizam isso com a melhor cantora da cidade.

E foi a imagem de Verônica que mais me encantou na exposição Santas mulheres – As heroínas da fé, lançada para comemorar os três anos de funcionamento do Museu de Sant ‘Ana. É claro que as imagens foram reunidas por Angela Gutierrez e formam uma belíssima e rara mostra de santas que, para falar a verdade, não são todas bem conhecidas. A mostra foi montada no salão de entrada do museu e encantou todos os convidados.

Cada uma delas tem um rápido resumo de sua vida e isso deu novo aquecimento à visitação.

 

A imagem que me encantou não podia ter melhor criador, que é o famoso Mestre Piranga, o que aumenta o seu valor e raridade. E sua apresentação traz um trecho de seu clássico canto, no desdobramento do lenço, que até hoje é cantado em latim: “O vos omnes qui transitis per viam, attendite et videt; si est dolor similis sicut dolor meus”. Traduzindo: “Ó vós todos que caminhais pela rua, parai e vede se há dor assim como a minha dor”. Entre as imagens da exposição, outra bem rara é a de Maria grávida, outra aleitando Cristo, Maria Senhora do Leite. Santa Quitéria é outra imagem rara, assim como Santa Escolástica, criadora da ordem beneditina. E a imagem de Santa Luzia é acompanhada de sua história, que poucos conhecem. E é linda, até seu penteado com coquinho alto e pequenos tufos de cabelo cobrindo a nuca pode ser tomado como totalmente atual.

A Santa Efigênia negra foi outra descoberta, porque muita gente acredita que a única santa preta é Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, poucos sabem que ela ficou negra porque foi encontrada no fundo do rio. A mostra está tão bonita e educativa que vale uma visita a Tiradentes.

Nossa Senhora das Mercês, século 19 - Foto: ICFG/divulgação 

O catálogo da exposição, além de ter textos explicativos sobre cada imagem, tem também outro sobre cada um dos mestres santeiros que fizeram a glória do Barroco mineiro. Mestres que fazem parte importante de um conjunto cultural da imaginária brasileira, que um grupo importante, inclusive nosso arcebispo dom Walmor, tenta levar para uma grande exposição no Vaticano. Se as tratativas forem completadas, será a primeira exposição brasileira dentro do território sagrado da Igreja Católica mundial.

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