Maria Luiza Mendes, a Malu, deixou a carreira em Veterinária para se tornar uma das modelos plus size mais requisitadas do país. Já trabalhou para inúmeras redes de varejo, grifes de vestuário, moda praia, lingerie e cosméticos. Também iniciou trajetória internacional, atuando em eventos na Colômbia e nos EUA. No entanto, ao estrelar campanha publicitária no ano passado para a C&A com o slogan “Sou gorda & sou sexy”, caiu na boca do povo e se tornou o pivô de polêmica que fez barulho nas redes sociais. Na Internet, muitos criticaram a multinacional por escolher a imagem de Maria Luiza como representante do segmento. Muitos disseram que Malu “não é gorda”. Hoje, meses após o ocorrido, ela conta quem é, de fato, e o que pensa sobre moda, comportamento e estilo em um mercado que, finalmente, passa a olhar para mulheres como ela com outros olhos.
Nascida e criada em São Paulo, Maria Luiza afirma que desde pequena sempre esteve acima do peso. “Vivia em dietas, mas a maioria eu não conseguia levar adiante, afinal, eu era uma criança. Somente aos 19 anos procurei um endocrinologista, e, associando reeducação alimentar a exercícios físicos, consegui perder quase 20 kg, até por questões de saúde. Mas, nesse tempo todo, apesar dos quilos extras, sempre consegui ver algo bom em mim. No fim das contas, voltei a engordar um pouco, mesmo porque eu amo comer bem, no entanto sou feliz com o meu corpo. Às vezes faço dieta, não vejo problemas nisso. Se é algo para agradar a si mesmo, é bom. O que não pode é fazer algo para agradar outras pessoas”, discorre.
Com 1,73 de altura e 85kg, em média, Índice de Massa Corporal (IMC) de 28,4, faixa considerada acima do peso, ela começou a modelar há quatro anos e meio. Desde então, acredita estar contribuindo para fortalecer a autoestima de mulheres plus size. “Quando me tornei modelo, percebi que muitas meninas estavam se espelhando em meu trabalho. Recebo mensagens de agradecimento, dizem que eu estou ajudando a se aceitarem. A partir desse momento, entendi o significado do meu trabalho e o que eu poderia mudar com ele”.
Holofotes e militância
Formada em Veterinária em 2010, Maria Luiza não consegue mais conciliar as duas carreiras. “Quando comecei a modelar, os trabalhos eram esporádicos, então levava os dois, mas hoje me dedico exclusivamente ao trabalho de modelo. Tenho meus cavalos e cachorros, mas cuido deles por hobby”, diz. Malu acha complicado citar quais são os trabalhos mais relevantes na moda, pois já fez campanhas para a maioria das grandes marcas de departamento, além de outras centenas de campanhas para marcas menores de lingerie, vestuário, moda praia e cosméticos e também para algumas marcas da Colômbia e dos EUA.
Sob os holofotes, ela preza a naturalidade, e torce pelo fim da ditadura dos padrões. “Eu tento atingir as mulheres mostrando que todas nós somos lindas, que você não se torna feia por ter celulite, estria, quilos a mais. Não precisamos de padrões e imposições. Há anos somos oprimidas para seguir um padrão estético, há anos milhares de mulheres sofrem e morrem de distúrbios psicológicos e alimentares em busca da 'beleza'. As modelos plus size e curvy estão aí para tentar mudar a forma que as mulheres se enxergam, para mostrar que a moça da revista tem pneus e celulite, e está ali, linda.”
Aos 28 anos, a moça integra uma geração que fala sobre tudo e se expõe na Internet, que viu a Mattel lançar versões plus size da boneca Barbie e que acompanha discussões de fortalecimento da autoestima capitaneadas por musas do segmento, a exemplo da modelo americana Ashley Graham. “Minha atuação na militância plus size, no momento, está voltada para as redes sociais”, conta Malu. E completa: “Admiro muito a Ashley Graham. Ela está conseguindo mudar muito a moda lá fora”.
Avessa a estereotipos, a musa americana prefere o termo curvilínea a plus size para falar sobre mulheres “grandes”. Vale dizer que Ashley é modelo atuante, já desfilou na NY Fashion Week, foi capa da revista Sports Illustrated e fundou o Alda (endereço eletrônico que envolve posts em blog, Instagram, e Twitter), por meio do qual passa mensagens de fortalecimento de autoestima para mulheres em geral. “Me senti livre quando percebi que nunca ia me encaixar no molde estreito que a sociedade queria que eu estivesse. Nunca vou ser perfeita o suficiente para uma indústria que define a perfeição de fora para dentro, e isso é bom. Não há um tamanho certo ou errado. Todos temos constituições físicas diferentes e isso é uma coisa boa! Celebrem e aceitem as diferenças”, disse Ashley que vem ganhando a admiração de mulheres do mundo inteiro, independentemente do biotipo.
Toda plus size é gorda?
Como dito antes, Malu se considera gorda, sim, o que justifica pelo IMC 28, 4, acima de 25, percentual que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera dentro do peso ideal. No entanto, ela afirma entender a polêmica causada com a campanha da rede de varejo C&A. “As pessoas não estão acostumadas com a palavra gorda; para elas isso é ofensivo. Por muitos anos isso também foi ofensivo para mim. Mas, hoje em dia, entendo como uma característica física. Tem a loira, a morena, a negra, a branca, a gorda, a magra... Uma pessoa gorda não é necessariamente uma pessoa obesa. Dizem que eu sou gordinha, fofinha, plus size...São só maneiras de amenizar a palavra gorda, que normalmente choca as pessoas”.
A modelo também celebra as recentes mudanças no mercado brasileiro, incluindo a ampliação de oferta para o segmento plus size. “Quando adolescente, vestia manequim 48 e já saí de uma loja de jeans chorando por não encontrar nada do meu tamanho”, lembra. Porém, percebe que ainda é preciso avançar em muitos aspectos. “O que falta para a mulher, não apenas a plus size, é representividade! Falta ter modelos diferentes estampando capas e editoriais de revista voltadas para a moda e beleza, apresentando programas de TV, novelas, propagandas. Faltam as marcas adequarem seus tamanhos e modelagens à realidade do corpo da mulher brasileira. Faltam mulheres plus size fora dos papéis 'sexy' ou 'engraçada'. Dia a dia este mercado está evoluindo, mas ainda está longe do que pode ser.”
No tocante à saúde, Maria Luiza lembra que reforçar a autoestima plus size não é sinônimo de estimular a obesidade. “Existe uma crença de que pessoas com excesso de peso não são saudáveis, levam uma vida sedentária, se alimentam mal. Existem pessoas assim? Existem. Existem gordos e magros dessa forma. Mas o inverso também é verdadeiro. Existem gordos e magros que tem uma vida super saudável, se exercitam regularmente, e estão com os exames em dia. Eu acredito que o movimento plus size estimula uma busca por ser melhor em todos os aspectos, físico e mental. Porque você aprende a cuidar de você e do seu corpo quando aprende a se amar. Você deixa de fazer algo pelos outros, e passa a fazer por você. Então, você acaba procurando alternativas para se sentir melhor. Fora que o movimento também procura mostrar que seu corpo pode e deve se exercitar mesmo não sendo magro. Muitas mulheres estão voltando a malhar pois estão perdendo a vergonha de estar numa academia.” Para manter a forma, ela conta procurar manter uma alimentação equilibrada nos dias da semana e praticar exercícios físicos regularmente. Também é adepta de tratamentos estéticos, principalmente drenagem linfática.
A modelo vai ainda além e cita os males que os padrões de beleza impostos pela indústria ajudam a provocar como anorexia, bulimia e outros distúrbios ocasionados pela busca incessante do "corpo perfeito". E afirma que poucas pessoas se lembram dessas doenças ao criticar a moda plus. Por fim, Malu diz que não acredita em roupa proibida ou permitida para uma plus size: “O que te favorece é o que te faz sentir bem! Chega de regras.”