Quando foi demitida da TV Brasil, emissora na qual apresentava o programa de entrevistas Sem censura, Leda Nagle ficou muito magoada. Era dezembro de 2016 e a emissora decidiu não renovar o contrato da jornalista. Foi então que – pela milésima vez – ouviu do filho, o ator Duda Nagle, o conselho de produzir vídeos para o YouTube.
“Ele vivia me dizendo que o YouTube é a nova televisão, mas eu não tinha tempo. Essa coisa não é assim tão simples, você grava, tem a edição. Como não estava fazendo nada (depois da demissão), passei a fazer isso exatamente como fazia na televisão. E me apaixonei”, conta.
Nesta quarta-feira (6), Leda estará em BH. Vai participar de bate-papo, no Sesc Palladium, sobre jornalismo cultural com a jornalista mineira Daniella Zuppo, que apresentou os programas Agenda (TV Minas) e Viamundo (Radio Inconfidência).
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O canal Leda Nagle, que estreou há oito meses, conta com mais de 55 mil inscritos. “Não sabia nada de YouTube, não sabia baixar vídeo, subir, não sabia nem as palavras. Era tudo novo”, diz a jornalista. Para ela, recomeçar é estimulante. “Você quer aprender tudo daquilo, e isso ensina a produzir melhor. É uma descoberta mesmo. Comecei em 17 de março, tem oito meses, é um bebê que ainda vai nascer e já nasceu, ao mesmo tempo.”
Descobrir a internet como meio de circulação de um trabalho realizado há quatro décadas surpreendeu a veterana apresentadora e jornalista, de 66 anos. Ela percebeu que há um público à espera de ser conquistado, gente fora da faixa etária que normalmente atingia.
Um dos maiores desafios da reinvenção a que Leda se propôs é conversar com o público mais jovem. Na TV Globo e na TV Brasil (Sem censura é retransmitido pela Rede Minas), ela se acostumou ao público mais velho e, sobretudo, feminino. Agora, atinge, sobretudo, internautas de 25 a 34 anos. E o público masculino já começa a ser significativo.
“O desafio é colocar entrevistas com conteúdo”, explica ela, ainda em fase de adaptação para compreender como os internautas se comportam e do que gostam. “É um desafio de todo dia, de toda hora, porque você nunca sabe o que vai acontecer. Não é o mesmo critério da TV”, observa. Ela já percebeu que rostos “globais” não fazem tanto sucesso quanto humoristas. E que, talvez pela idade do público majoritário, há pouco interesse por entrevistas com médicos e especialistas.
INTIMIDADE Leda grava todas as semanas na sala do próprio apartamento, no Rio de Janeiro. Eventualmente, o trabalho se dá em São Paulo, onde está montando apartamento. A equipe é pequena – no Rio, conta com um profissional e, em São Paulo, com o filho, Duda Nagle.
O ambiente intimista ajuda a tornar a conversa mais informal. “As pessoas ficam mais à vontade, as entrevistas fluem melhor, de maneira mais profunda. E é mais sincero, porque não tem a formalidade da televisão, vira um papo de comadre”, conta. “Não tem aquele aparato, as câmeras são pequeninas e você perde um pouco a noção de que está gravando uma entrevista. Isso influi no resultado.”
O YouTube, Leda avisa, é definitivo em sua vida. Ela até toparia voltar para a televisão caso tivesse a oportunidade de emplacar alguns dos projetos que tem na cabeça. Mas, por enquanto, fica com as redes.
Em 2018, ela deve lançar outro canal de entrevistas, Os Nagles, em parceria com Duda. “Vamos entrevistar pessoas com dois olhares, duas visões de mundo diferentes, com debate. Poderemos concordar e discordar”, adianta. “O YouTube é a tevê do futuro, é o futuro. E estou comprometida com essa TV, quero permanecer. Por isso vou fazer Os Nagles”, conclui.
Confira:
JORNALISMO CULTURAL NO BRASIL
Com Leda Nagle e Daniella Zupo. Quarta-feira (6), às 20h. Teatro de Bolso do Sesc Palladium. Avenida Augusto de Lima, 420, Centro. Entrada franca. Retirada de ingressos a partir das 19h30 na bilheteria.