Ao longo de quase seis décadas de carreira, o ator Nelson Xavier acumulou papéis marcantes no teatro, no cinema e na televisão.
Nelson Xavier estava de mudança para Uberlândia, de acordo com informações do jornal Folha de S.Paulo, porque vinha se submetendo a um tratamento numa clínica de medicina integrativa na cidade mineira havia aproximadamente quatro meses. De acordo com declarações da médica responsável pelo tratamento ao jornal paulista, o ator vinha escrevendo suas memórias, que devem ser editadas por sua viúva, a atriz Via Negromonte.
Na TV, um de seus momentos mais memoráveis foi a interpretação de Lampião na minissérie Lampião e Maria Bonita (1982), quando contracenou com Tânia Alves. A carreira de Nelson Xavier começou no Grupo de Teatro Arena, em São Paulo, na década de 1960. Dirigida por Augusto Boal, a trupe propunha teatro político, engajado e democrático, conforme lembra o amigo com quem contracenou no teatro e no cinema Milton Gonçalves.
“Emociono-me ao recordar que Nelson veio enriquecer o grupo com sua sabedoria, inteligência e pelo carinho e amor que tinha pela profissão”, disse.
Socialista
“Ele foi um homem culto, bacana, fiel e firme naquilo que achava correto. Fomos e seguimos socialistas, cada um com sua necessidade”, disse Milton Gonçalves por telefone ao Estado de Minas ontem. Com ele, Nelson Xavier estrelou o longa-metragem Rainha Diaba, de Antônio Carlos da Fontoura. “Nelson foi um ator extraordinário. Já o admirava no Teatro de Arena. Fantástico ator de teatro, também colocou o nome na história da TV e do cinema. Sou muito feliz de ter podido contar com ele no Rainha Diaba junto com o Milton Gonçalves. Os dois interpretavam papéis antagônicos que deram um resultado fantástico”, disse Fontoura à reportagem.
O diretor se recorda de homenagem que o ator recebeu em sessão comentada do longa, em 2014, na Sala Humberto Mauro, dentro do projeto Curta Circuito. Na época, em entrevista ao EM, destacou o fato de ter dado vida ao personagem central na trama, que era homossexual e pertencente ao mundo marginal. Nelson interpretou Catitu, homem de confiança do traficante gay Rainha Diaba, vivido por Milton.
A estreia no cinema foi em Fronteiras do inferno (1959), de Walter Hugo Khouri, uma aventura ambientada num garimpo entre o Brasil e a Bolívia. A partir de então, atuou em mais de 50 filmes. Entre seus diversos papéis, interpretou o médium mais famoso do Brasil em Chico Xavier (2010), longa dirigido por Daniel Filho. Em 2014, ganhou o Kikito de melhor ator no Festival de Gramado pela atuação no longa A despedida, de Marcelo Galvão.
Em 2000, Nelson participou do documentário A negação do Brasil, de Joel Zito Araújo. “A primeira coisa que, do meu ponto de vista, cabe a mim ressaltar, é que Nelson foi o ator que mais encarnou o negro mestiço brasileiro. Um ator excelente; está no panteão com Milton Gonçalves. A atuação dele como operário em A queda me marcou muito”, recorda. Joel destaca que Nelson deu vida a personagens emblemáticos. “Foi o malandro carioca e do morro, foi o pequeno comerciante ressentido e sem lugar (por não ser negro ou branco), foi o delegado bundão, foi o empresário, foi o operário com consciência de classe e foi o herói popular rebelde encarnando Lampião. E, acima de tudo, fez isso com uma aguda consciência racial, como pode ser constatado em sua entrevista para o meu filme A negação do Brasil.”
Amigo do ator, Joel Zito Araújo lembra o quão marcante foi para Nelson Xavier viver Chico, “um papel de muita intensidade, que lhe permitiu a descoberta da espiritualidade”.
O último longa-metragem em que atuou tem estreia prevista para o próximo dia 25. Em Comeback, de Erico Rassi, ele dá vida ao protagonista. “Nelson dignificava a profissão de ator.
Nelson Xavier deixa a mulher, a atriz Via Negromonte, e quatro filhos.
PRINCIPAIS TRABALHOS
TELEVISÃO
A história de Ana Raio e Zé Trovão (1990)
Lampião e Maria Bonita (1982)
Renascer (1993)
Senhora do destino (2004)
Joia rara (2013)
CINEMA
Rainha Diaba (1975), de Antonio Carlos da Fontoura
A queda (1977)
A negação do Brasil (2000), de Joel Zito Araújo
Os narradores de Javé (2003), de Eliane Caffé
Comeback (2016), de Erico Rossi
A despedida (2014), de Marcelo Galvão. Prêmio de melhor ator no Festival de Gramado 2014.
Chico Xavier – O filme (2010), de Daniel Filho
TEATRO
Eles não usam black-tie (1958), de Gianfrancesco Guarnieri
Chapetuba Futebol Clube (1959), de Oduvaldo Vianna Filho
Gente como a gente (1959), de Roberto Freire
Julgamento em Novo Sol (1962), de Augusto Boal
DIREÇÃO
Vam pra Disneylândia (1986). Curta-metragem
A queda (1977). Codirigido com Ruy Guerra.