Enfim, o carnaval de Belo Horizonte renasceu. Já que os blocos de rua se multiplicam e os foliões ocupam toda a cidade, é hora de diversificar as fantasias. Nada mais inspirador para uma turma criativa que está a fim de mudar a cara da folia. São mineiras que se cansaram da mesmice e resgatam o hábito de montar o próprio look com uma pitada fashion. Apostando em novidades para o mercado carnavalesco, elas querem levar para as ruas peças versáteis, que se encaixam no estilo de qualquer mulher. E o melhor, são roupas que podem sair do guarda-roupa em outras ocasiões.
Na Dercy é assim: quanto mais plumas e paetês, melhor. A etiqueta aposta no maximalismo para vestir as mulheres na folia. Afinal, a proposta é levar o glamour das escolas de samba para os blocos de rua. “A nossa cartela de cores é o brilho”, informa a estilista Alice Corrêa, que se juntou à designer Débora Cruz nesta empreitada carnavalesca.
Por acreditar na espontaneidade da festa, a marca não trabalha com fantasias prontas. Alice e Débora preferiram investir em peças avulsas, que podem compor os mais diferentes looks de foliã. A dica é usar a criatividade para misturá-las com o que já existe no armário
As roupas da Dercy ganham ainda mais glamour com os acessórios. “Quisemos sair do lugar-comum, então priorizamos mais o uso de folhagens e pássaros, em um clima tropical. Também criamos peças mais estruturadas, com plumas, algo no estilo escola de samba, e fizemos chokers de pedras, sempre pensando no que a Dercy Gonçalves usaria”, explica Alice. Sim, a polêmica atriz é a musa inspiradora da marca, que quer mudar a cara do carnaval de rua.
Já fazia tempo que as amigas foliãs observavam que os materiais para criar fantasias e acessórios eram sempre os mesmos. “Quando o carnaval chegava, ficávamos cheias de ideias, com vontade de montar looks para arrasar mais que no ano anterior, mas tínhamos muita dificuldade de inovar. Estávamos cansadas de encontrar as mesmas matérias-primas”, revela Alice. A solução foi buscar os materiais em fornecedores do circuito da moda, e não em lojas de fantasia, para desenhar as roupas que elas sonhavam em vestir na folia. A dupla investiu em paetês (que aparecem de maneira nada óbvia em um quimono de estampa floral), tules, plumas, pedrarias e flores de tecido.
ROUPA DE FESTA
Alice e Débora capricharam tanto que, quando as roupas ficaram prontas, elas se deram conta de que podem levar glamour a outras ocasiões além do carnaval
Nesse contexto, o blazer de paetê tem o poder de reviver um vestido preto básico que fica sem graça sozinho. Já a regata de tule listrada pode muito bem virar um vestido no carnaval, mas quando aparece com uma calça jeans passa a ser roupa de balada. Se combinados com hot pants, os bodys ajudam a montar um look bem glamouroso, mas com uma saia chique se transformam em roupa de casamento. O modelo com araras é um bom exemplo. “O clima de carnaval está nas penas aplicadas com velcro nos ombros e na transparência do tule. Se você elimina isso, tem uma blusa para o dia a dia”, exemplifica Alice. Falando nisso, as aplicações estão com tudo na coleção da Dercy.
Peças artesanais
Assumidamente feminista, a Negoçada estreia neste carnaval com roupas pensadas para as foliãs que não se envergonham de mostrar o corpo. “É sempre assim, os homens ficam sem camisa e as mulheres vão de roupa para os bloquinhos de rua. Pensamos em uma coleção de maiôs, hot pants e tops justamente porque estamos em busca da igualdade de gênero”, justifica uma das criadoras da marca, Maíra Nascimento (foto). Ela defende que, além de confortáveis, as peças de elastano secam rápido depois de um mergulho no mar ou de um banho de mangueira para se refrescar no calor.
Estilista de tricô no Rio de Janeiro, a mineira, que é formada em belas-artes e desenvolve trabalho de tapeçaria, não deixou de imprimir uma identidade artesanal aos looks da Negoçada. Bordados de linha, pedrarias, penas, plumas e glitter são usados para customizar roupas e acessórios com diferentes patches. “Já que somos estilistas de marcas que produzem em larga escala, nos demos a liberdade de usar a criatividade para fazer peças únicas para o carnaval. Bom é que dificilmente as meninas vão trombar com a mesma cor de maiô nos blocos. É para ser único e divertido, acima de tudo”, diz Maíra, incluindo a carioca Layana Thomaz, que assina com ela a criação. A artista plástica Rafa Monteiro completa o time. Com a onda de levar bodys e maiôs para além da areia, Maíra acredita que as peças da Negoçada não vão ficar restritas à praia ou à piscina. Até porque já existem lojas interessadas em vender a coleção ao longo do ano. Inicialmente pensadas para a folia, as roupas, com bordados exclusivos, podem ser usadas com calça, short, blazer ou jaqueta. “Não vamos parar no carnaval. Acima de tudo, queremos ser uma marca colaborativa no mundo feminista”, adianta Maíra, que cresceu no bairro carnavalesco de Santa Teresa, em Belo Horizonte, e se acostumou desde cedo a improvisar fantasias.