Foi Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a cidade mineira escolhida para receber as primeiras gravações da nova novela das 23h da Globo, Liberdade, liberdade, que estreia amanhã. A história começa em 1792, período da Inconfidência Mineira, de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e se desenrola em 1808, época em que a família real portuguesa vem para o Brasil, fugindo de Napoleão Bonaparte. Mas a grande personagem dessa trama é Joaquina (Mel Maia/Andreia Horta), a filha de Tiradentes (Tiago Lacerda) e Antônia (Letícia Sabatella). A menina nascida no Brasil fica órfã e é criada por um amável estranho, Raposo (Dalton Vigh), em Portugal. Anos depois, já mulher, ela retorna ao país onde seus pais morreram para se tornar o símbolo da luta pela liberdade.
Apesar de o folhetim se passar em Vila Rica –, hoje Ouro Preto – a produção acabou optando pela terra de JK pelo fato de ser um lugar bem peculiar e pelas várias possibilidades de tomadas, como ressalta o diretor Vinicius Coimbra. “A região de Diamantina já é minha antiga conhecida, pois filmei A hora e a vez de Augusto Matraga lá. É uma região bela, de relevo e paisagens muito particulares, com uma profundidade de campo normalmente maior do que no restante de Minas. Como diria Guimarães Rosa, é uma região de ‘poeira e estrelas’.
Mesmo ambientada em uma parte da história, Liberdade, liberdade é uma novela ficcional. O autor Mario Teixeira conta que usou como fonte diários de viagem, livros – sobretudo Joaquina, filha do Tiradentes, de Maria José de Queiroz – e até obras de arte para retratar o período. “A história para mim é o pano de fundo da dramaturgia, tratada com amor, mas a serviço da emoção. Mesmo porque, qualquer relato histórico é muito pessoal; é a imaginação do historiador que recria os fatos.
Toda interpretação é pessoal. Traremos a falta de saneamento, a relação dos fidalgos e escravos, os dilemas sociais, os impostos abusivos, tudo com o nosso olhar para a novela, que é fundamentalmente uma história de amor, de uma mulher que descobre suas raízes num processo de formação pessoal e coletivo. É a história da fundação de um país, mas, principalmente, a história de uma mulher que repensa sua condição numa época masculina e turbulenta”, destaca o dramaturgo.
Real ou ficção? Muito pouco se sabe sobre a filha do alferes. Mario diz que há pouquíssimas referências sobre a Joaquina real, só uma menção a ela nos Autos da devassa, os relatórios oficiais sobre a Inconfidência. Por isso, sua criação é bem livre. “A personagem Joaquina em Liberdade, liberdade é ficcional. A ideia de falar dela partiu do argumento da Márcia Prates.
Nos detalhes
Além das locações em Minas e no Rio de Janeiro, a equipe da novela construiu uma cidade cenográfica de 4 mil metros quadrados que representa Vila Rica em 1808. O elenco também traz Mateus Solano, Lília Cabral, Bruno Ferrari, Nathália Dill, Maitê Proença, Caio Blat e Marco Ricca.
Três perguntas para
Vinicius Coimbra, diretor
Quais são os principais desafios na hora de dirigir uma trama que se passa em outro século?
Ninguém sabe exatamente como era a vida privada no século 18 no Brasil. Existem textos, algumas ilustrações, mas a história é contada por pessoas que normalmente têm interesses, que a editam ou estilizam. Há fortes indícios de que Tiradentes não tinha barba na ocasião de seu enforcamento, por exemplo, que isso foi criado pelos republicanos para que ele lembrasse a imagem de Jesus Cristo. Portanto, nos baseamos na história, mas também damos a nossa opinião sobre ela, figuramos como essas pessoas viviam.
Apesar de ser uma história que se passa no século 18, consegue ver semelhanças com o atual momento do país?
Consigo, sim.
O que mais chama a atenção nessa história?
É uma novela emocionante, com imagens fortes e surpreendentes. Há contrastes entre o amor e a violência da época. Mas o que mais me chama a atenção é a emoção que às vezes me assalta lendo o texto. É o Brasil, o resgate de um orgulho perdido, o amor que temos por essa terra tão saqueada por seus governantes, há séculos..