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Colunista do EM ouve cerca de 200 pessoas para definir palavras mais chatas do ano

'Top' e 'deuso' estão entre as mais citadas. Entrevistados acham que essas expressões como essas banalizam a língua portuguesa e empobrecem a fala

Helvécio Carlos
Das chatices de 2015, nem mesmo as palavras escaparam.
O Instituto Hit/HC de Pesquisa ouviu cerca de 200 pessoas que elegeram quase por unanimidade a palavra “top” como a mais chata do ano. “Banalizou a língua portuguesa. Fez desaparecer um infinito de adjetivos, empobrecendo a fala”, lamenta a arquiteta Cynthia Vianna. Maria José do Carmo também critica o uso da palavra. “É reflexo dos baixíssimos índices de leitura do país. Top serve para quase toda situação, elogio ou comentário.” Já para a jornalista Fernanda Ribeiro, o uso indiscriminado é primário. “Coisa de gente sem vocabulário.”Não para por aí.
Para Roberta Coelho, fitness é outra palavra irritante. “Entramos na era do mundo fitness, do só vale se for magro. E olha que sou adepta da alimentação saudável e da malhação.” Detox e funcional (alimentação funcional, exercício funcional, supermercado funcional...) também aparecem na lista de Roberta. A produtora de moda Ticha Ribeiro põe mais lenha na fogueira gramatical. “Acredito que presidenta é a pior palavra de todas, a que mais me dá arrepios.” Bianca Lage citou “morri”, no sentido de “achei lindo”. E a empresária Laila Katina apontou “lacrar”, segundo ela, usada de forma exagerada e errada. A coluna separou alguns comentários e a justificativa dos entrevistados.

Riza Braga (foto)
“Não sabe o que dizer? Top. Sabe o que dizer? Top. Mesmo não estando top, top é top. É pose na praia, pôr do sol no Instagram, a banana ou a maçã do café fit de manhã. É cachorro, amizade ou bebida. Quer um resumo? É top, top, top. Larii...
Larii... Larii...”

Olavo Laucas, empresário
“A palavra campeã da chatura é ‘presidenta’. A mais irritante do ano ou a mais cômica é ‘vento estocado’. Acho que só a presidenta e seus admiradores conseguem entender o significado. Golpismo é insuportável.”

Afonso Borges, produtor cultural
“‘Pedaladas’ (fiscais) vence de longe como exemplo de palavra chata, excessivamente usada e de sentido estrambótico, né? A outra é ‘esvurmar’, verbo que Fernando Morais adotou para nominar as pessoas que ele bloqueia no seu Facebook. A terceira é ‘fascismo’. Inventaram de chamar de fascista qualquer um que discorde da sua opinião. E o seu antônimo é petralha. Cada uma.”

Ronaldo Fraga, estilista
“‘Direita’ ou ‘esquerda’. No momento, o lado podre está em todos os lados.”

Breno de Mello, médico
“‘Top’ pelo emprego exagerado, apesar de ser útil quando você quer marcar presença em rede social.”

Romney Esteves, professor de educação física
“A palavra ‘tipo’, usada como vício de linguagem pelos adolescentes; ‘pedalada’, por ter descaracterizado a simplicidade do gesto e se tornado sinônimo de corrupção; e ‘Vossa Excelência’, pronome de tratamento que perdeu o respeito e valor ao ser direcionado para os políticos.”

Mônica Gonçalves, empresária
“‘Evento’ é uma palavra de que não gosto.
É preciso dar nomes aos acontecimentos. Nos últimos tempos, tudo é um evento. ‘Tudo joia’ também é ultrapassado e uma expressão muito chata. ‘Política’ também é outra palavra chata, vergonhosa e desanimadora. Vamos ver se em 2016 falaremos dela com mais dignidade.”

Marcela Bartolomeo, decoradora
“‘Regime’, ‘comida light sem carbo’, não aguento mais. As pessoas só pensam na estética e deixam de lado o intelecto.”

Leo Paixão (foto), chef
“A palavra ‘gourmet’ estragou a boa comida dos estabelecimentos simples de Belo Horizonte. ‘Espetinho’, ninguém aguenta mais.”

Laila Porto, estilista
“‘Deuso’ está no top da minha lista. As blogueiras postando seus ‘looks’ e escrevendo ‘vestido deuso’ da @fulanadetal, não dá.”

Vítor Sobrinho, DJ
“‘Top’, ‘espetinho’ e ‘safadão’, as mais faladas, repetidas, copiadas e engolidas goela abaixo.”

Cynthia Viana, arquiteta
“Custei a saber do que se tratava a sigla R.I.P (rest in peace, descanse em paz, em português). Causou-me espanto saber que os brasileiros estavam usando iniciais de palavras americanas para demostrar sentimento tão triste e profundo. Não gosto da utilização de ‘keep calm’ (mantenha-se calmo), ainda mais com uso indiscriminado de outras terminações.”

Ana Paula Junqueira, advogada
“‘Top’ é péssimo. Confesso que já usei algumas vezes por osmose, de tanto que usam por aí. Policio-me para não usar mais. Não gosto também da palavra ‘crise’ pela triste realidade que representa e, em alguns casos, usada como desculpa. As citações a Fabíola (mulher que foi flagrada pelo marido no motel e viralizou nas redes sociais) mostram como o brasileiro se importa e gasta mais tempo com o problema dos outros.”

Ana Miranda (foto), sapateira
“‘Black Friday’, ninguém merece. A maioria dos empresários brasileiros copiando os americanos e fazendo malfeito. Sempre há um jeitinho brasileiro para levar vantagem e enganar os pobres consumidores.”

Sideral, músico
“‘Top’, usado assim, é beeem chato! Assim como escrever bem com várias letras (rs). Este ano, o ‘golpe’ tomou conta das timelines. E só pela divisão de opiniões, as brigas, os defensores do indefensável, esse Fla-Flu insuportável, vale a citação na lista.”

Ticha Ribeiro, produtora de moda
“‘Vestido muso’, ‘vestido divo’ e ‘vestido deuso’: expressões usadas pelas blogueiras para falar de um vestido bonito.”

Rodrigo Cezário, produtor de moda
“(Kim) Kardashian cansou. ‘Delação premiada’ virou carreira. ‘Crise’ virou desculpa.”

Ângela Dariva
“‘Fitness’ virou obrigação e chateação. ‘Síria’ mostra a que ponto chega a insanidade humana. É muito triste. ‘Petrolão’, porque não aguentamos mais tanta corrupção sem solução.”

Rafael Alvim, sócio-diretor e fotógrafo na Agência Doze
“Pelo excesso de uso: ‘glúten’, ‘top’ e ‘Dilma’.”

Cristiana Ribeiro, advogada
“Nos tempos modernos, todo mundo corta glúten, é alérgico ou intolerante ao glúten sem fazer nenhum exame ou teste. É um modismo para justificar uma dieta. Sem contar ‘gourmet’ para definir inúmeros produtos nas gôndolas, embora não ofereçam a real distinção que o termo requer. Vulgarizaram seu uso para vender mais. E o detox? Temos detox de tudo.”

Ramiro Maia, empresário
“‘Dilma’, ‘Cunha’ e ‘panelaço’. Se esses nomes tivesse sido menos estampados em capas dos jornais e marcados em hastags, 2015 teria sido mais leve. Em 2016, quero menos panelaço e mais abraços!”

Theo Rohlfs, piloto de helicóptero
“Fabíola foi assunto que tomou proporção desnecessária, enquanto existiam inúmeros outros fatos relevantes que deveriam ser discutidos. ‘Presidenta’, por demonstrar ignorância tremenda ao usar a no final da palavra.”

Mary Arantes, estilista
“Quem trabalha com moda, principalmente, resolveu que ‘mood ‘é ‘a’ palavra! Preguiça total de terminologias. No mundo da moda, também vem a palavra ‘deuso’ usada por algumas blogueiras que inventaram que essa palavra tem masculino.”

Carlos Nunes, ator
“‘Corrupção’ é palavra que deveria ser banida do dicionário. Fica proibido em 2016 o uso dessa palavra e fica proibido ser corrupto.”

Laura Scofield, designer gráfico
“‘Crise’ é palavra que virou pretexto para tudo que deu e está dando errado em nosso país. O momento é de desafio, e não de se acomodar com essa justificativa. ‘Tendência’ e ‘inovação’ estão banalizadas, usadas por todos os lados e de qualquer maneira.”

Martielo Toledo, estilista
“‘Top’ virou mania entre os jovens e descolados. Tudo que é muito legal ou é demais virou ‘top’. ‘Gourmet’ é a mania dos últimos tempos. Tudo foi exaustivamente gourmetizado. ‘Crise’ virou a palavra-chave para justificar toda e qualquer falha ou resultados indesejados.”

Luciene Amantea
“‘Zap zap’ (como aplicativo de mensagem instantânea foi apelidado), que se transformou em aprisionamento digital. ‘Panelaço’ e ‘coxinha’, fritou demais.”

Juliana Scucato, empresária
“‘Top’: ô palavrinha enjoada, viu! Como pode ‘coxinha’, uma delícia dessas, ter seu nome ligado a gente tão chata. E ‘pedalada’, tão saudável e plástica, virou sinônimo de um desastre para o país.”

Romero Pimenta, empresário
“Hoje, tudo e todos viraram
‘top’. ‘Lava-jato’, sinônimo de mostrar a ferida e não aplicar o remédio. E ‘STF’, Justiça parcial e partidária.”

Regina Porto, empresária
“‘Top’, ‘do bem’ e ‘mara’: nesses casos, acho melhor não falar nada.”

Rodrigo Gatti
“‘Golpe’, porque o maior golpe quem sofre somos nós mesmos. A palavra foi banalizada pelos maiores golpistas, tanto os de esquerda quanto os de direita.”

Flávia França Ferreira, arquiteta
“Acho muito chato o uso de ‘com certeza’ e ‘enfim’, que já vem se arrastando há muito tempo. E nada de essas palavras serem esquecidas. Mas a palavra mais chata do ano é ‘corrupção’, por tudo que temos acompanhado nos noticiários. O combate à corrupção é, para mim, um dos grandes desafios deste novo ano que vem por aí.”

Barbara Surette
“‘Dilma’, ‘PT’ e ‘corrupção’: pelo uso exagerado, não por equívoco, mas por desabafo necessário, fizeram de 2015 o ano mais tenso e revoltante vivido por mim.”

Daniele Benício, estilista
“‘Política’. No início. foi empolgante, porque pareceu que algo seria diferente. Com o passar dos meses, foi ficando chata. Era como se, a cada escândalo, nós continuássemos ali feitos de bobos há anos.”

Henrique Filizzola, universitário
“Disparado a palavra mais chata é ‘top’. Quando repetida – ‘top, top, top’ – piora ainda mais. ‘Presidenta’ também está na lista.”

Vinícius Amaral, DJ
“‘Coxinha’, uma coisa tão boa utilizada em uma comparação tão indigesta, utilizada em sua maioria pelos petralhas, por outro lado, utilizada em abundância pelos coxinhas.”

Paulo André (foto), ator
“‘Crise’, ninguém merece. 'Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima'. ‘Cunha’: chega! Fora!”.