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Com 10,7 milhões de inscritos no canal do YouTube e uma quantidade de visualizações que beira a marca dos 2 bilhões, aquela ação entre amigos é hoje um dos projetos transmídia mais bem-sucedidos do Brasil. Desde 11 de março de 2012, foram publicados 1.090 vídeos na plataforma on-line. O Porta também já fez livro, duas webséries, programa de turismo, peça de teatro e vem aí Contrato vitalício, o primeiro longa-metragem.
O que nasceu para a web também se expandiu para a TV. Como um ensaio, os vídeos que circularam na internet entraram na grade do canal Fox desde o ano passado. Por ali, os tentáculos do Porta dos Fundos alcançam novos públicos. E eles querem mais. Estreia na próxima segunda, às 22h, O grande Gonzalez, primeira série inédita com a assinatura do coletivo fundado por Antônio Tabet, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, Ian SBF e João Vicente de Castro, planejada e produzida especificamente para televisão.
“A gente começou na internet, mas nunca dissemos que iríamos ficar só ali”, diz Luis Lobianco. Ele é o protagonista do seriado, que mistura doses do gênero policial ao humor naturalmente negro do Porta. É a história de um mágico, animador de festa infantil, que morre na frente de 30 crianças ao realizar o que seria seu truque mais perigoso, a caixa de tortura.
A investigação do que houve com o mágico se estende ao longo de 10 episódios. Trata-se de uma inovação em conteúdo para o Porta dos Fundos, já que o grupo envereda por um gênero (o policial) que ainda não havia explorado. Os fãs da internet, no entanto, podem estranhar a forma como a produção será entregue. O que manda é a lógica da televisão, ou seja, um capítulo de 30 minutos por dia, ao longo de duas semanas.
Os episódios estarão disponíveis no Fox Play, a plataforma de streaming do canal, meia hora depois de sua exibição. Como brinde, os assinantes do canal também poderão ver o episódio seguinte na sequência.saiba mais
Embora anunciado há tempos, somente em janeiro os integrantes do Porta dos Fundos encaram o set de filmagens de seu primeiro longa, Contrato vitalício. Até aqui, o esquema da televisão é a experiência mais robusta do grupo. Foram sete semanas de trabalho com uma equipe de 30 profissionais, especialmente contratados, para realizar O grande Gonzalez. Apesar disso, o diretor Ian SBF afirma que estar na TV, na internet, no cinema ou nas páginas de um livro não faz diferença para eles na hora da criação.
“A gente sempre encara conteúdo como conteúdo. Não nos importamos para onde vai. Pensamos primeiro o que fazer e depois na plataforma”, diz. SBF foi um dos roteiristas do programa global Junto e misturado, mas nunca amenizou suas críticas à TV aberta. Ainda assim, reconhece que levar o conteúdo do Porta dos fundos para a telinha significa encontrar novos públicos.
Quando SBF começou a negociar a parceria com a Fox, lembra-se de ter a impressão de que o público do Porta dos Fundos era muito maior do que o que o canal poderia oferecer. “Não é verdade. Existem públicos muito distintos. Não nos vejo fazendo O grande Gonzalez na internet. O YouTube é muito de nicho”, avalia.
Segundo o diretor, o que define o destino de um conteúdo com a grife Porta dos Fundos é basicamente a duração. “Se for uma coisa de uma hora e meia, é para cinema”, sintetiza. O diretor confessa que a telona é o que atualmente mais atrai a atenção dos sócios. “Acho que estamos caminhando mais para este produto, mas nunca vamos deixar de fazer nossos vídeos para o YouTube. Não nos vejo pendendo para nenhum formato, janela ou duração. Vamos fazer tudo.”
O Porta dos Fundos começou a funcionar em uma sala de 20 metros quadrados, no Centro do Rio de Janeiro. Hoje, emprega 50 pessoas e mudou-se para um casarão de quatro andares. O lema lá é a ausência de censura. “A gente organiza desorganizando. Não existe o ‘sentar a bunda’ para escrever. As coisas vão surgindo naturalmente”, conta SBF.
No plano de negócios da empresa, mesmo que ainda incipiente, já caminham as análises sobre a última novidade do YouTube: a cobrança de assinaturas. Quem não quiser ver propagandas antes dos vídeos poderá pagar um valor mensal. “Acho que é uma coisa que pode funcionar. Ainda não sei se vamos entrar nessa. É uma coisa que vejo com bons olhos”, afirma ele.
A gente sempre encara conteúdo como conteúdo. Não nos importamos para onde vai. Pensamos primeiro o que fazer e depois na plataforma - IAN SBF, diretor do Porta dos Fundos