Quem tem mais de 30 anos e passou a infância em Minas Gerais, certamente se lembrará do Clubinho. Se hoje os programas infantis, com participação efetiva das crianças ao lado dos apresentadores, fazem sucesso na televisão brasileira, isso se deve, pelo menos um pouco ao Clubinho. Apresentado por Tia Dulce, o programa ficou no ar na TV Itacolomi e, posteriormente, na TV Alterosa, de 1979 a 1989, e seu idealizador foi o ex-narrador esportivo Fernando Sasso, falecido em 2005.
Além da apresentadora, hoje assessora parlamentar, a atração tinha a participação de dois animadores de palco, os palhaços Rapadura e Pituchinha. “Nossa relação era maravilhosa! Tia Dulce, na verdade, era nossa mãe e amiga. Éramos uma verdaderia família. Viajamos muito juntos para shows em circos e eventos em várias cidades de Minas, com sucesso total. Chegávamos nas cidades e éramos recebidos como celebridades”, lembra Jonas Santos, o primeiro Rapadura (foram somente dois) e criador da personagem.
Ele trabalhou na emissora por quatro anos, na década de 80, e sua entrada foi quase um acaso. “Minha Mãe conhecia a Dulce, e me apresentou a ela como o melhor palhaço do mundo (coisas de mãe). Fui convidado, então, a me apresentar na Praça do Papa. Fiz uma fantasia de palhaço e treinei uma brincadeira de perguntas. Foi um sucesso, e aí nasceu o Rapadura que, na verdade, estava adormecido dentro de mim. Então a Dulce me convidou pra ser ajudante de palco”, explicou. A partir daí, o Clubinho, que segundo Jonas era em um corredor, ganhou um estúdio, e depois um auditório. “O Clubinho era um sucesso”.
E eles funcionavam quase que de forma auto-suficiente. “A TV Alterosa não tinha muitos recursos cenográficos. Me lembro que Dulce levava da casa dela e eu da minha coisas para o programa, como bichos e almofadas, e eu até criei um quadro de fantoches, com apoio do Laguna e do Geraldo, que eram a bruxinha Elza e o vovô Tonho. A simplicidade e a autenticidade eram as chaves do programa, além, é claro, da valorização da criança.”
Segundo Jonas, realmente o Clubinho influenciou a criação de diversos outros programas infantis, com o mesmo formato. “O Clubinho foi, sim, precursor de vários programas. Xuxa assistiu ao programa e ficou encantada. Depois disso apareceram vários programas no mesmo estilo. Até hoje pessoas me param na rua, bares, padarias, supermercados e me cumprimentam, perguntam pela Dulce e pela Pituchinha. O Clubinho realmente foi um marco na TV mineira.”
ATUALMENTE
O artista hoje vive em Búzios-RJ, onde é supervisor de uma pousada. “Adoro o que faço.” Ele saiu do programa, na ocasião, porque recebeu uma oferta para morar em Nova Iorque. “Como todo ator, sonhava ir para lá, pelas escolas de arte e de dança. Mas a saudade do Brasil e da minha família me fez voltar depois de dois anos, com uma boa bagagem de conhecimento. Lá pude ver grandes shows e peças de teatro.”
Mas ele garante que não se esquece do período que participou do programa. “Saudade é pouco... Tenho no coração lembranças de pessoas que foram e são muito importantes na minha vida, como a Tia Dulce, a Cássia Vanessa (1ª Pituchinha), e a Gláucia Valéria (2ª Pituchinha). O Clubinho foi, para muitos, o meio de comunicação informal, onde atores mineiros tinham oportunidade de mostrar seu talento. Por lá passaram grandes atores e diretores, como Ronaldo Boschi, Joselma Luquini, Olavino, Evandro Antunes, Carlos André Mattos, Sandro Temponi, Nancy, e vários grupos teatrais, que tinham a chance de desenvolver e mostrar seu talento”, frisou. “Gostaria muito de ver a TV mineira valorizando mais os talentos mineiros, com programação local. E deixo meu carinho e um grande abraço a todos que um dia puderam sentir de perto estes momentos que foram preciosos para todos nós mineiros.”