'Família Trapo' lotava as dependências do Teatro Record na Consolação, em São Paulo. Atualmente, 'Vai que cola' e 'Trair e coçar' é só começar, exibidos pelo canal a cabo Multishow, são um bom exemplo de que a combinação de humor popular com calor “ao vivo” não ficou datada.
Autor do 'Almanaque da telenovela brasileira', o jornalista e pesquisador Nilson Xavier lembra que programas de auditório existem desde a era do rádio. A TV norte-americana produzia, há décadas, sitcons com plateia. 'Família Trapo' foi o primeiro grande êxito nacional desse formato, tanto que a Band tentou resgatá-lo, no fim da década de 1980, com Bronco, estrelado por Ronald Golias, destaque da produção pioneira.
“'Sai de baixo' fez ressurgir o sucesso do gênero e ficou no ar até esgotar a fórmula. Com o sucesso das edições especiais do 'Sai de baixo' no Viva, em 2013, houve nova demanda. Vide o sucesso do 'Vai que cola' e de 'Trair e coçar'...”, observa.
FENÔMENO
'Vai que cola' estreou no ano passado e é o programa de maior audiência da TV paga nos últimos 10 anos. A série diária conta com Paulo Gustavo, Cacau Protásio e Samantha Schmütz no elenco. Este ano, ganhou reforços como Tatá Werneck e Marcelo Médici, levou o Multishow à liderança da TV paga em seu horário e já emplacou a terceira temporada.
O êxito da atração, que conta com um palco giratório, inspirou 'Trair e coçar...' – versão televisiva de uma das peças de maior sucesso no país. As equipes de ambos têm vários nomes em comum. No papel da protagonista Olímpia, está Cacau Protásio, a impagável Terezinha de 'Vai que cola'.
Nilson acredita que o segredo desse sucesso está na espontaneidade, pois os atores estão em contato direto com a plateia. “O telespectador se reconhece naquelas pessoas do auditório”, analisa.
Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão de Nova York, acredita que os bons resultados desses seriados se devem, basicamente, à integração imediata do artista com o público. “Um verdadeiro happening”, compara.
“Na literatura televisiva, compreende-se o gênero em questão como teatro televisionado, enredo humorístico com a presença da plateia, remetendo ao célebre vaudeville (a ‘visão da vila’), um dos maiores legados do teatro francês. 'Família Trapo' inaugurou o gênero, que teve em Sai de baixo um de seus maiores exemplares. 'Vai que cola' e 'Trair e coçar...' conseguem representar bem o formato, cada qual com sua narrativa específica, contando a sua história sob diferentes óticas”, observa.
Por sua vez, Nilson Xavier não vê muitas diferenças entre os seriados brasileiros. O que muda, mesmo, são os personagens e o enredo. “O resto permanece igual. O frescor vai depender muito da unidade do elenco com as histórias”, frisa. O pesquisador não acredita na tese de que o formato evoluiu ao longo de décadas, até porque a fórmula é uma só: gravação em teatro com plateia. “Cada vez mais, ele vai ficando mais viável ou rico tecnicamente. O palco giratório do Vai que cola não existia antigamente”, explica.
Mauro Alencar tem outra visão. “Não se trata exatamente do formato, uma vez que é ele o determinante do gênero televisivo. Mais do que isso, as próprias questões tratadas com a visão humorística foram se transformando ao longo do tempo, de acordo com possibilidades e necessidades de crítica pertinentes a cada período histórico”, defende.
O futuro é promissor para as produções do gênero. Enquanto telespectadores aguardam novas temporadas de 'Vai que cola' e de 'Trair e coçar é só começar', o multiartista Miguel Falabella está trabalhando na criação de um dominical do tipo 'Sai de baixo'. A TV Globo deve exibi-lo no segundo semestre. E quer garantir mais risadas por muitos anos.
HAJA RISADA!
'Família Trapo'
(1967-1971)
'Bronco'
(1987-1990)
'Sai de baixo'
(1996-2002)
'Sai de baixo'
(2013, episódios especiais)
'Vai que cola'
(2013, no ar)
'Trair e coçar é só começar'
(2014, no ar)