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"Não consigo estabelecer apologias específicas feitas pelos personagens de 'Os Simpsons', mas acho que, numa visão de conjunto, a gente entende que a ideologia maior da série é mostrar o politicamente incorreto. Rimos do que não se deveria", avalia o cineasta Santiago Dellape, ocasional espectador de episódios. Se, na ficção, a mãe de família Marge é capaz de contratar um "gerente de vida" para encorajar pensamentos positivos no marido Homer; na vida real, a família é realmente digna de estudos.
Ph.D. com atuação em Nova York, o filósofo Mark T. Conard se aventurou com pesquisadores na produção do livro 'Os Simpsons e a filosofia'. Nos capítulos da obra, discute-se os episódios do desenho com base nos conceitos de Aristóteles, Marx e outros filósofos. "Com muito sarcasmo e alusão direta a pessoas reais, o roteiro traz chances ilimitadas de críticas ao american way of life e, por tabela, à sociedade de consumo, à ganância, à destruição da natureza e à corrupção na política. Nisso, podemos dizer que sua filosofia tende a uma visão democrata de mundo", aponta Rosana Rios, coautora da 'Enciclonérdia — Almanaque de cultura nerd', que dedica verbete à estranha família.
Fora do campo filosófico, resta ao espectador notar o engajamento ecológico, racional e ético de Lisa e as parcas qualidades (enquanto pai e marido) de Homer, além da compulsão dele pela mentira. Dietas, bullying, retrocessos identificado com uso de redes sociais e incrementos de autoestima (tendo Lady Gaga por mentora, num dos episódios) rendem atualidade ao desenho.
Emoldurando os comportamentos à la Simpsons, saltam exemplos práticos de conceitos sociais percebidos por Nietzsche (o bad boy Bart, pelo que estudiosos revelam, personificaria o mal, como "ideal humano"). Mas tudo, compassado pelas risíveis lições de vida, claras, num exemplo de Homer dado à esposa: "Tentar é o primeiro passo para o fracasso".