Foi sem querer querendo que Chaves se consagrou como fenômeno mundial e atemporal. De conteúdo inofensivo, o programa agarrou um sem número de gerações, nos mais variados cantos do planeta, por décadas a fio, com uma linguagem universal e sobretudo passiva. Não é preciso pensar em nada para se deixar hipnotizar por um conjunto de diálogos diretos, sem rodeios e escoltados em uma quase mímica que só endossa o recado dado na tela. Qualquer criança de qualquer faixa social e ambiente há de entender e rir de um roteiro em que o anti-herói, aparentemente vitimado pela falta de recursos, menino crescido que só um barril possui como residência, sempre acaba por se dar bem no final.
saiba mais
-
Veja os episódios mais famosos de Chaves
-
O legado de Chespirito: relembre a carreira do pai de Chaves, Chapolin e outras dezenas de personagens
-
Morre Roberto Gómez Bolaños, o Chaves, aos 85 anos
-
Roberto Bolaños, criador do Chaves, morre
-
Chaves, Seu Madruga, Chiquinha e toda a turma são homenageados por grafiteiros
-
Professor Jirafalez lamenta por Chiquinha e Quico ainda terem que trabalhar
-
SBT vai reexibir episódios perdidos de 'Chaves' em homenagem a Chespirito
-
Mexicanos se despedem de Roberto Bolaños no Estádio Azteca
-
Corpo de Roberto Bolaños segue para estádio na Cidade do México
-
Velório de Roberto Bolaños será neste domingo, na Cidade do México
-
Última postagem de Bolaños no Twitter manda 'todo amor ao Brasil'
A condição de fenômeno é ainda mais exacerbada se considerarmos que muitas das crianças que se deixaram entreter pelo personagem não o abandonaram de sua memória afetiva com o passar dos anos. Formou-se daí uma legião de fãs entre marmanjos barbados, e os meninos, mais que as meninas, trataram de eternizar o ídolo para além de seus 20 e poucos anos.
Mas, se a linguagem direta explica sua universalidade e atemporalidade, como entender o potencial do produto para uma plateia infantil hoje habituada aos mais tecnológicos cortes de edição, às mais clipadas mixagens de cores e sons, do mundo dos games à própria TV? Afinal, Chaves é, com louvor, uma produção de estética tosca, com cenografia e figurino propositalmente fake, com áudio e textura de imagem estagnada nos anos 80. Das bochechas enxertadas do menino mimado Quico, aos suspensórios maltratados de Chaves, tudo é carregado de estereótipos.
É o enredo que vem pronto, mastigado e sem necessidade de legenda que explique a piada, para fazer menores e maiores rirem - uns pela graça da situação, outros, pelo ridículo ali encenado. Por um motivo ou por outro, loas a Roberto Bolaños: seu anti-herói é referência inconteste para a TV mundial e já inspirou muitas tentativas frustradas de imitações. Clonar a simplicidade, no entanto, parece obra mais complexa do que copiar enredos repletos de atalhos e pretensões. Chaves, ao contrário, salva sua alma e eleva os ânimos da plateia justamente pela despretensão, o que salta aos olhos nos quesitos de cenografia, já citada aqui, e da linguagem direta, o princípio de tudo.