Os atores conduzem a carreira de forma muito subjetiva. Alguns investem pesado na televisão, em busca de fama e dinheiro. Outros preferem idealizá-la de forma artística, valorizando o prazer e a liberdade criativa. Luana Piovani jura que pretende seguir a segunda opção. Pelo menos enquanto puder. Intérprete da policial Vera, em Dupla identidade, a atriz assume que não faz a menor questão de manter vínculo com qualquer emissora e que sua grande paixão é mesmo o teatro. “Se eu tivesse alguma racionalidade na minha vida profissional, estaria contratada pela Globo há 22 anos”, diz. Mas a atriz garante que foi incapaz de recusar a proposta para viver a psiquiatra forense na série de Glória Perez. Na trama, Vera faz parte da equipe do delegado Dias, papel de Marcello Novaes. Com seu conhecimento, a bela policial ajuda a traçar o perfil do psicopata Edu, vivido por Bruno Gagliasso. E assim, começa a dar rumo à investigação. “Vera entende a mente do serial killer. É a partir dela que a gente enxerga melhor o comportamento do Edu e tudo isso me instiga demais”, argumenta Luana.
Você disse que o laboratório feito para interpretar a Vera foi o maior da sua vida. Por quê?
Olha, foi imenso mesmo. Li muito, vi dezenas de séries e alguns filmes. Foi uma pesquisa incansável e que, na verdade, ainda não terminou. Vivo buscando informações novas na internet e prestando atenção em qualquer texto, filme ou livro que possa servir como uma nova fonte para me abastecer. Toda a equipe teve um apoio forte da produção também, com palestras e visitas à Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro e ao Instituto de Criminalística de São Paulo.
Essa pesquisa mexeu com você?
Ah, mexeu. Mas é difícil explicar o quanto. A crueldade não tem fundamento. Então, é um profundo sentimento de desespero lidar com informações reais e mais frequentes do que a gente pode imaginar. Dá uma noção maior do quanto é difícil e perigoso viver.
E o que mais atraiu você neste trabalho?
Dupla identidade fala da verdade humana. Sempre me interesso por alguma coisa que tenha proximidade com minha realidade. Adoro a fantasia, mas quando é sobre algo que está próximo da gente, vou fundo no assunto. Para mim, é como assistir a um filme baseado em fatos reais. Porque tudo que você vê na série é tirado do histórico de vários casos. Coisas que a gente, na nossa vidinha ordinária, não consegue imaginar.
Vera investiga perfis psicológicos de criminosos e os atores investigam os de seus personagens. Acha que Dupla identidade pode mudar sua forma de trabalhar no futuro?
Esse é um raciocínio bem interessante, mas que não tinha pensado até agora. Será? Não sei, sinceramente. Mas me sinto menos responsável do que um detetive. Acho que se fossem outros tipos de crimes, até poderia ser. Mas no caso da Vera, é pressão demais.
Você também interpretou uma policial em Na forma da lei. Isso ajudou de alguma forma em seu trabalho atual?
Lá teve uma preparação imensa também, mas era muito mais de tiro, de ação. Ali eu era de operação. Atirei com uns oito tipos de armas diferentes. Em Dupla identidade, fiz só uma aula de tiro para lembrar como agir porque tenho apenas uma cena com arma e, mesmo assim, só está na minha mão. Em Na forma da lei eu passei dias aprendendo como usá-la, como se posicionar, como se anda com a arma, tudo. São adrenalinas diferentes.
Armas de fogo acabam aumentando a sensualidade de algumas personagens. Você sente essa diferença quando grava com elas?
Ah, existe o fetiche, né? Tanto em Na forma da lei quanto em Dupla identidade rolou sempre um “uau” no estúdio quando apareci armada. Em Na forma da lei andava de fuzil, de pistola semiautomática, enfim, tudo isso mexe demais com a cabeça dos homens.
Mexe com a sua cabeça também? Você se sente mais sensual nessas cenas?
Nem um pouquinho. Olha, tenho verdadeiro horror a armas! A minha vida tem uma rotina muito simples e não me vejo como esse mulherão. Quando saio, também não percebo tanto por parte das pessoas. Vejo nitidamente isso dentro do estúdio, na hora de gravar. Até porque, quem vem falar comigo nas ruas é porque já tem uma história para contar. Seja ter me visto em Sex appeal, há mais de 20 anos, ou porque me segue desde a época da revista Capricho. Essa coisa de modelo tem um approach louco, é impressionante. E o público mais novo nem me conhece. A vida brasileira é baseada nas novelas e não faço novela, então não tem tanta gente me parando nas ruas.
Sente vontade ou saudade de fazer novelas?
Nada! Até fiz Guerra dos sexos há pouco tempo e foi um sonho. Mas você precisa ter um equilíbrio incrível na sua agenda para estar disponível. Novela é projeto de um ano inteiro ou mais. Se já tenho alguma coisa na agenda, como uma turnê de peça de teatro ou um filme, não dá. E ator já termina um trabalho engatilhando outro. Fiz porque era um período em que nem estava pensando em trabalhar, queria ficar uns oito meses com meu filho, que tinha nascido há pouco tempo. Acabou rolando o convite, conversamos e eu fiz. Mas só por isso deu certo.
Mas você teria uma vida financeira mais confortável e estável se fizesse novelas. Isso não pesa?
A vida é feita de escolhas. Não vou fingir que não pesa porque hoje poderia ter um apartamento em Paris se tivesse feito várias novelas e mantivesse contratos longos com a Globo desde que decidi voltar a minha vida para o teatro. Só que sou muito segura e confiante em mim. Minha mãe algumas vezes vem e conversa comigo. E eu respondo que ainda tenho o “daqui pra frente” para trabalhar. Não vai faltar trabalho, sempre vai ter alguma coisa para fazer. Não fico esperando ninguém bater na minha porta, corro atrás.