'Girls', a série criada por Dunham e no qual ela interpreta a protagonista Hannah, conta a vida de quatro amigas jovens no Brooklyn, uma espécie de versão mais real e sem glamour da famosa "Sex and The City". Desde a estreia na HBO em abril de 2012, "Girls" venceu dois Globos de Ouro, de melhor atriz e série de comédia, e além de ter recebido várias indicações em diversas premiações.
Exuberante, verborrágica, forte, frágil, egocêntrica e autêntica, Lena Dunham, de 28 anos, não passa despercebida. O físico e o figurino da atriz não se encaixam nos estereótipos de Hollywood. Em "Girls" ela aparece nua em várias cenas e nunca tenta esconder suas imperfeições. O livro, lançado na terça-feira nos Estados Unidos, se parece um pouco com a personagem Hannah, egocêntrica, divertida e depressiva.
Comparações com Woody Allen
Filha de artistas, com uma infância privilegiada, Lena Dunham revela de maneira precisa e ácida a perda da virgindade em um campus universitário em Ohio, a insônia que sofria na infância, a relação com os pais, com os quais dormiu até os 12 anos, suas neuroses e suas relações amorosas disfuncionais.
Dunham detalha o cardápio de seus regimes, o relacionamento com os terapeutas que a atendem desde os 9 anos, o fato de ter sido diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo dois anos mais tarde e como começou a tomar remédios aos 14. Como na série, o romantismo açucarado passa longe.
No primeiro episódio de "Girls", Hannah afirma a seus pais que talvez seja a voz de sua geração. No livro, Lena Dunham se apresenta com mais modéstia. "Se eu pudesse pegar o que aprendi e tornar mais fácil um trabalho ingrato para você, ou evitar que você tenha aquele tipo de relação sexual na qual você sente que deve manter os tênis para o caso desejar sair correndo durante o ato, então cada y um dos meus erros valeu a pena", escreve na introdução.
Atualmente com o cabelo louro platinado, a atriz gordinha e repleta de tatuagens, uma feminista que ri de si mesma, cita com frequência Madame Bovary, Andy Warhol e o escritor americano Joan Didion. O livro é dedicado à escritora e roteirista Nora Ephron, que faleceu em 2012.
Dunham conta sem rodeios as suas relações sexuais e explica que sempre teve interesse pelo nu, que descreve como algo "mais sociológico que sexual", e denuncia a imposição de cenas de amor no cinema e na televisão que, segundo ela, podem ser "destrutivas", porque "entre o pornô e as comédias românticas, a mensagem clara e forte é que fazemos tudo errado". A artista é comparada muitas vezes com Woody Allen e alguns a consideram a porta-voz da insegurança de sua geração.
A crítica literária do jornal New York Times Michiko Kakutani, que a Hannah de "Girls" sonha em conhecer, elogiou um livro "divertido e inteligente". Mas outros foram menos complacentes e lembraram sua educação privilegiada. Também criticaram o fato de não falar sobre seu sucesso, o que fascina e irrita muitos americanos. Mas, aos 28 anos, Lena Dunham tem outras coisas para se preocupar. Quando a viagem para promover o livro acabar, a quarta temporada de "Girls" estreará na HBO em janeiro.