Há 50 anos, Rogéria estreava nos palcos do Rio de Janeiro como atriz. A ex-maquiadora da extinta TV Rio foi a primeira transsexual a aparecer na televisão brasileira. Anos depois, o país se encantou por outra vedete: Roberta Close. Apesar de as duas serem responsáveis por abrir várias portas nos anos 1980, só agora, mais de 30 anos depois, as transsexuais conquistaram um espaço tanto na tevê nacional quanto internacional.
A mineira Carol Marra, por exemplo, é uma das estrelas da produção nacional 'Psi', do canal HBO. Na série, que retrata a vida do psiquiatra pouco convencional Carlo Antonini (Emilio de Mello), ela interpretou a personagem Patrícia, namorada de Mark (Victor Mendes), filho do protagonista da história. “Foi um papel muito forte, pois era muito parecido com a minha realidade. Há uma cena em que Patrícia revela que é uma transexual e o Mark se revolta. Ela diz: ‘Só queria que você gostasse de mim como mulher’. Fiz com uma verdade tão grande, que me emocionei na hora e o set inteiro aplaudiu”, conta Carol.
Também neste ano, a atriz, que ainda não sabe se voltará para uma segunda temporada de 'Psi', participou da série 'Segredos médicos', do Multishow. E, novamente, fez um papel próximo ao seu cotidiano. Na trama, ela vive Diana, uma transsexual que descobre um câncer de mama. “Quero poder viver outras histórias e continuar atuando. Gostaria que mais diretores me dessem oportunidade de fazer outros papéis. Mas, olha, não me entenda mal, eu não vou recusar nenhum convite. É meu trabalho, mas não gostaria de ficar marcada”, explica a atriz.
O medo do estigma é justificado pela loira: “Quando você é uma transexual ou uma travesti, as pessoas não te dão muita oportunidade. Ninguém te vê com bons olhos. Você quase nunca vê uma transexual fazendo um papel sério. É sempre aquela coisa caricata e com ar de deboche”, ressalta Carol.
Até, por isso, a artista diz que fica feliz de ter conseguido papéis que mostram as dificuldades de uma transexual. “Não gosto de levantar uma bandeira, pois um grupo, de certa forma, se afasta da sociedade. Mas sinto que preciso explicar para as pessoas o que acontece. Sinto-me na obrigação de levar essa informação. As pessoas podem até não gostar, mas assim elas aprendem a respeitar”, defende Carol.
Reconhecimento
Nos Estados Unidos, a atriz Laverne Cox, a Sophia de 'Orange is the new black', também tem conseguido atravessar barreiras. No ar desde 2013 na comédia exibida pelo Netflix, ela conquistou este ano algo inédito: é a primeira transsexual a ser indicada a um Emmy Awards, um dos prêmios mais respeitados da televisão internacional. Laverne disputa a estatueta de melhor atriz convidada em série cômica.
Ganhando ou não o prêmio, Laverne Cox já conseguiu destaque mundial. Após o anúncio, ela estampou a capa da revista Time, na qual contou como se descobriu mulher. “Na minha imaginação, achava que chegaria à puberdade e começaria a virar uma menina”, afirmou à publicação norte-americana.
Também depois da indicação, a presidente da GLAAD, fundação que luta pelas causas homossexuais nos EUA, Sarah Kate Ellis, se pronunciou em comunicado oficial dizendo que o sucesso da atriz “é uma clara indicação de que o público está pronto para mais personagens transexuais”. “Hoje, inúmero jovens ouvirão a mensagem de que eles podem ser quem são e ainda podem alcançar seus sonhos”, diz no artigo.
Mais transexuais de sucesso
Roberta Close: ficou conhecida como vedete e pela participação no carnaval carioca. Nos anos 1980, protagonizou filmes como 'No Rio vale tudo' e 'O escorpião escarlate'. Na televisão fez 'Mandacaru' e 'Você decide'. Também ficou marcada por estampar a capa da Playboy nos anos 1990.
Lea T.: modelo e estilista, a filha de Toninho Cerezo ganhou as passarelas do mundo. O sucesso foi tanto que Oprah Winfrey a convidou para participar de seu programa. Em 2013, ela foi a cara da campanha da grife italiana Benetton como símbolo contra o preconceito.