"Não é por comer carne que tenho menos caráter", diz Tony Ramos, que volta à TV em 'O Rebu'

O ator será um dos protagonistas do remake, que estreia nesta segunda-feira na TV Globo

por Fernanda Machado 14/07/2014 14:25
TV Globo/Divulgação
(foto: TV Globo/Divulgação)
Com quase 200 papéis em novelas, séries, peças e filmes, Tony Ramos se diverte escondido atrás dos seres da ficção. O ator de 65 anos, que este ano completa 50 de profissão, brinca de fazer jogo duro ao relembrar a trajetória no começo da conversa. “O que mais eu tenho para dizer, não sei. Quando eu digo isso não é charme nem jogo de palavras. Fico pensando o que posso falar a não ser de meus personagens. Mas a gente é provocado por uma boa pergunta. É assim que encaro meu trabalho e esses tais 50 anos."


A partir desta ele volta à TV como um dos protagonistas do remake de O Rebu, do pernambucano Geroge Moura, novela das 23h da Globo. A trama é ambientada nas 24 horas em torno de uma festa em que um convidado aparece morto. Tony será Carlos Braga, empresário de caráter duvidoso com chance de ser o assassino.

Entrevista >> Tony Ramos

Em 'O Rebu', você interpreta Carlos Braga, antagonista de Angela Mahler (Patrícia Pillar). Ele é o grande vilão da trama?
Ele não é do bem nem do mal. Isso até perguntei ao autor (George Moura). São cenas de muita complexidade e dubiedade. É um produto de suspense em que 14 personagens serão suspeitos.

Como você encara estar em mais uma novela?

O Rebu me dá uma alegria de reencontrar companheiros de trabalho. Você se reinventa. Brincar de novo com a profissão é muito importante.

Como você foi parar na TV?
Fui para esse trabalho movido pelo teatro amador. Quando começaram os ensaios, vi na TV que havia o programa Novos em foco (da TV Tupi, em que dramatizações eram feitas com base em notícias de jornal). Fui lá me apresentar. Eu era menor de idade, precisava de autorização. No terceiro programa, que eu fazia ao vivo, o Cassiano Gabus Mendes, diretor-geral, me chamou para fazer a novela das 20h A outra, com Walmor Chagas e Vida Alves.

Desde então, não parou.
Na Tupi e na Globo, emendei novelas. Fiz coisas ao vivo, apresentei o Globo de Ouro com plateia e o Você decide. Passei por todas as experiências. Só falta apresentar a Santa Missa (risos). Nunca disse que estava cansado. Sempre pensava em ter outra coisa como garantia de sobrevivência.

Por mais que você tenha sido bem-sucedido de cara, viver como ator foi difícil?
Era complicadíssimo. Morei de aluguel muito. Só fui comprar o primeiro imóvel depois de três anos de casado, à prestação e em construção. Passava todo dia em frente para ver se o prédio ia subir. Tinha medo de a incorporadora não entregar. Fui progredindo. Quando você constrói uma carreira com determinação, lá na frente vai dar certo, mesmo que demore. Há muitos jovens iludidos com a profissão, que acham que tudo é da noite para o dia. É mentira, não acreditem.

Dentro e fora da Globo você é conhecido por ser muito educado e tratar todos bem. Você é esse bom moço mesmo?
Não tenho nenhum compromisso em mostrar imagem. Quando você toca no bom-moço, acho curioso. Todos nós somos bons moços desde que não matemos, respeitemos o próximo, não tenhamos inveja e tenhamos ética no comportamento, no “por favor” e no “muito obrigado”. Se isso tudo é ser bom moço, eu sou. Parece que as pessoas esperam sempre uma boutade (“alfinetada” em francês). Quantos palavrões você quer que eu fale agora? Não acho que eu deva falar isso para um público heterogêneo em uma entrevista. Dizem que o cara é autêntico quando fala o que vem à boca. Não é, é mal-educado. O que dá autenticidade é saber como se comportar publicamente. Lidar com isso é mais simples do que equação de primeiro grau.

Talvez por isso o público tenha empatia até quando você interpreta homens maus?

Você tem razão de dizer que o público me vê de forma mais heroica, à primeira vista. Em A mulher do prefeito (2013), era um prefeito corrupto. As pessoas me amavam na rua. Diziam que o personagem denunciava tudo de forma cômica. Acho que as pessoas são levadas a se manifestar por causa da minha vida pessoal. Mas nunca subestime o público, ele sabe mais do que a gente.

Você já fez muita publicidade. Por que o comercial de um frigorífico gerou tantos comentários?
Porque nunca ninguém fez. Você cansou de comer Friboi e não sabia porque não tinha etiqueta. No ano passado, houve uma matéria no Fantástico sobre abate clandestino. As empresas que produzem ficaram preocupadas. Perguntaram se eu comia carne. Como muito. Fiz um contrato pequeno. Deu uma repercussão enorme e a gente ampliou.

Por que aceitou?
Eu nunca anunciei remédio, bebida, plano de saúde. Anuncio carne porque é proteína e eu como. Tem gente que é vegetariana e eu respeito. E respeitem a mim também, é o meu direito de comer. Gosto de carne e como e não é por isso que tenho menos caráter do que quem não come.

Assinou o contrato pensando em garantir a aposentadoria?
Não. Já resolvi a vida há muito mais tempo do que a Friboi.

A pessoas tiram sarro de você por causa do comercial?
Em restaurantes, se me veem comendo carne, passam falando baixinho: “É Friboi?”. Se estou comendo peixe e perguntam, eu falo: “Com certeza. Mandei transformar. Essa lagosta é Friboi, da área chamada Frifish”.

O excesso de pelos no seu corpo já virou piada até na TV. Já cogitou fazer depilação?
Claro que não. Sou um homem muito bem-resolvido com o corpo, o nariz adunco e os pelos que eu tenho.

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