As atrizes Fabiana Karla e Tatá Werneck não são protagonistas de 'Amor à vida', trama das nove. Nem Ingrid Guimarães e Fafy Siqueira, em Sangue bom, novela das sete. Mesmo não estando nos papéis centrais das produções da Globo, elas roubam a cena. E, mais do que isso, arrancam gargalhadas dos telespectadores. Especialistas em comédia, as quatro não negam sua origem e sentem muito orgulho do que fazem.
“As pessoas querem rir. E comédia está na moda. Acho que acaba sendo exigência do próprio povo, que nos elege. Toda trama densa precisa de respiro. Acabamos tendo essa função”, acredita Ingrid, que interpreta Tina em sua terceira novela. A estreia foi em 1997, em Por amor, com Teresa, empregada com veia cômica das personagens de Regina e de Gabriela Duarte.
Inicialmente, a participação de Ingrid em 'Por amor' não seria grande, mas com o sucesso da atração de Manoel Carlos, o papel cresceu. Depois disso, ela enveredou por outros caminhos, caso dos programas 'Sob nova direção' e 'Zorra total' e de peças de teatro ao lado da grande amiga Heloísa Pérrissé. Outra novela só viria anos depois: 'Caras e bocas', de 2009. Porém, Ingrid não reclama. “O ritmo de novela é outro. Tem mais cenas, menos tempo. Por outro lado, nossa função é só decorar, então pra mim é um descanso não ter que produzir, escrever. Só gravar. Acho, na verdade, um treino muito bacana”, observa.
Colega de elenco de Ingrid, Fafy Siqueira, que faz a 'Madá' na trama de Maria Adelaide Amaral, é uma das pioneiras entre as humoristas na teledramaturgia brasileira, e não esconde sua preferência pela comédia. Ela lembra que, certa vez, o diretor Herval Rossano cismou de colocá-la num papel mais sério, em um episódio do extinto 'Você decide'. “Claro que fiz, mas sou palhaça. Prefiro fazer comédia. É interessante que sou parte de uma geração que tem Claudia Gimenez, Regina Casé e que levantou a bola para essa turma que está nas novelas. Antes havia Nair Bello, Consuelo Leandro e Zilda Cardoso, que também inovaram, mas elas enfrentaram mais resistência. Minha geração é a que realmente conseguiu abrir as portas para que quem viesse depois, como a própria Ingrid, Marisa Orth e Heloísa Pérrissé, marcasse o gol. O mais bacana é que já tem uma turma nova: Tatá Werneck, Dani Calabresa e Renata Gaspar. A coisa só tem melhorado”, defende Fafy.
Preconceito
Fafy Siqueira acredita que ainda há certa discriminação com relação ao pessoal da comédia, apesar de isso estar diminuindo ao longo do tempo. “Até porque o humor está muito em alta. Acho que tem profissionais que realmente só sabem fazer isso. Mas não é porque você é humorista que não é um grande ator e não consegue atuar em outras coisas”, ressalta.
Já Ingrid Guimarães revela que chegou a sofrer preconceito por vir da comédia, pois muita gente considera esse gênero mais fácil e menor. “É assim desde os tempos de Charles Chaplin e de Peter Sellers. Somos eleitos pelo povo, não pela crítica. Sou muito feliz fazendo humor, mas não temo ficar estigmatizada. Fiz outras coisas e, ano que vem, farei dois filmes com personagens mais sérios”, acrescenta.
Intérprete da divertida enfermeira Perséfone em 'Amor à vida', a pernambucana Fabiana Karla também comenta a discriminação com relação ao humor, mas não se recorda de ter passado por isso. Pelo contrário. A atriz, que ficou conhecida do grande público no 'Zorra total', tem recebido o carinho de vários colegas de elenco, que elogiam seu trabalho. Fabiana, que estreou fazendo uma ponta em 'Mulheres apaixonadas', em 2003, e só voltou às novelas e minisséries no ano passado, com Olga, esposa de Tonico Bastos, em 'Gabriela', da Globo, afirma que foi por falta de oportunidade que ingressou mais no universo da comédia. Agora acha que, finalmente, a teledramaturgia começou a descobri-la e tem sido uma “deliciosa parceria”. “Sou atriz, faço o que for proposto e a comédia me arrebatou primeiro. Creio que os autores estão prestando mais atenção em nós. Mas a galera que faz humor sempre foi lembrada, tanto que temos nomes como Heloísa Périssé, Maria Clara Gueiros, Drica Morais e várias outras que já mostravam que quem faz humor também consegue outra partitura. Chico Anysio mesmo era um ator incrível”, frisa.
Fabiana Karla assegura que não tem medo de ficar marcada por personagens cômicos e que sempre existirá alguém que será sensível a ponto de perceber e descobrir suas várias facetas. “Amo atuar, essa é a minha paixão. Não me interessa se for drama ou comédia, o que me encanta é o desafio que a profissão me lança a cada trabalho. E cada produto atinge um público-alvo e tem a sua linguagem. A novela realmente maximiza mais o ator, o aproxima das pessoas e já existe um histórico do horário nobre que só vem colaborar com essa visibilidade. É uma exposição maior, sem dúvidas. Mas estou adorando tudo”, celebra.
Palavra de specialista
Yara de Novaes - atriz, diretora e preparadora de elenco
Ótimo intérprete
“O termo comediante é muito mais elogioso do que imaginam. É um ator que tem técnica suficiente para habitar onde quer. Mas a comédia é marginalizada desde a Grécia antiga. O riso, querendo ou não, era desconstrutor, transgressor. Era perigoso e explicitava tudo defeituoso e faltoso na sociedade. Por isso, a comédia foi associada a uma dramaturgia menor. Entre os atores cômicos ficou essa história de que eles tinham pouca elaboração intelectual, artística e estética. O que é uma grande bobagem. O comediante bem habilitado é um ator que qualquer autor e diretor quer. O que interessa mesmo é um profissional que, independentemente da origem, consiga usar tecnicamente todos os meios expressivos para atingir a personagem. O fundamental é que não esteja fechado a nenhum tipo ou gênero, mas que seja ótimo intérprete. É isso que realmente importa.”
“As pessoas querem rir. E comédia está na moda. Acho que acaba sendo exigência do próprio povo, que nos elege. Toda trama densa precisa de respiro. Acabamos tendo essa função”, acredita Ingrid, que interpreta Tina em sua terceira novela. A estreia foi em 1997, em Por amor, com Teresa, empregada com veia cômica das personagens de Regina e de Gabriela Duarte.
Inicialmente, a participação de Ingrid em 'Por amor' não seria grande, mas com o sucesso da atração de Manoel Carlos, o papel cresceu. Depois disso, ela enveredou por outros caminhos, caso dos programas 'Sob nova direção' e 'Zorra total' e de peças de teatro ao lado da grande amiga Heloísa Pérrissé. Outra novela só viria anos depois: 'Caras e bocas', de 2009. Porém, Ingrid não reclama. “O ritmo de novela é outro. Tem mais cenas, menos tempo. Por outro lado, nossa função é só decorar, então pra mim é um descanso não ter que produzir, escrever. Só gravar. Acho, na verdade, um treino muito bacana”, observa.
Colega de elenco de Ingrid, Fafy Siqueira, que faz a 'Madá' na trama de Maria Adelaide Amaral, é uma das pioneiras entre as humoristas na teledramaturgia brasileira, e não esconde sua preferência pela comédia. Ela lembra que, certa vez, o diretor Herval Rossano cismou de colocá-la num papel mais sério, em um episódio do extinto 'Você decide'. “Claro que fiz, mas sou palhaça. Prefiro fazer comédia. É interessante que sou parte de uma geração que tem Claudia Gimenez, Regina Casé e que levantou a bola para essa turma que está nas novelas. Antes havia Nair Bello, Consuelo Leandro e Zilda Cardoso, que também inovaram, mas elas enfrentaram mais resistência. Minha geração é a que realmente conseguiu abrir as portas para que quem viesse depois, como a própria Ingrid, Marisa Orth e Heloísa Pérrissé, marcasse o gol. O mais bacana é que já tem uma turma nova: Tatá Werneck, Dani Calabresa e Renata Gaspar. A coisa só tem melhorado”, defende Fafy.
Preconceito
Fafy Siqueira acredita que ainda há certa discriminação com relação ao pessoal da comédia, apesar de isso estar diminuindo ao longo do tempo. “Até porque o humor está muito em alta. Acho que tem profissionais que realmente só sabem fazer isso. Mas não é porque você é humorista que não é um grande ator e não consegue atuar em outras coisas”, ressalta.
Já Ingrid Guimarães revela que chegou a sofrer preconceito por vir da comédia, pois muita gente considera esse gênero mais fácil e menor. “É assim desde os tempos de Charles Chaplin e de Peter Sellers. Somos eleitos pelo povo, não pela crítica. Sou muito feliz fazendo humor, mas não temo ficar estigmatizada. Fiz outras coisas e, ano que vem, farei dois filmes com personagens mais sérios”, acrescenta.
Intérprete da divertida enfermeira Perséfone em 'Amor à vida', a pernambucana Fabiana Karla também comenta a discriminação com relação ao humor, mas não se recorda de ter passado por isso. Pelo contrário. A atriz, que ficou conhecida do grande público no 'Zorra total', tem recebido o carinho de vários colegas de elenco, que elogiam seu trabalho. Fabiana, que estreou fazendo uma ponta em 'Mulheres apaixonadas', em 2003, e só voltou às novelas e minisséries no ano passado, com Olga, esposa de Tonico Bastos, em 'Gabriela', da Globo, afirma que foi por falta de oportunidade que ingressou mais no universo da comédia. Agora acha que, finalmente, a teledramaturgia começou a descobri-la e tem sido uma “deliciosa parceria”. “Sou atriz, faço o que for proposto e a comédia me arrebatou primeiro. Creio que os autores estão prestando mais atenção em nós. Mas a galera que faz humor sempre foi lembrada, tanto que temos nomes como Heloísa Périssé, Maria Clara Gueiros, Drica Morais e várias outras que já mostravam que quem faz humor também consegue outra partitura. Chico Anysio mesmo era um ator incrível”, frisa.
Fabiana Karla assegura que não tem medo de ficar marcada por personagens cômicos e que sempre existirá alguém que será sensível a ponto de perceber e descobrir suas várias facetas. “Amo atuar, essa é a minha paixão. Não me interessa se for drama ou comédia, o que me encanta é o desafio que a profissão me lança a cada trabalho. E cada produto atinge um público-alvo e tem a sua linguagem. A novela realmente maximiza mais o ator, o aproxima das pessoas e já existe um histórico do horário nobre que só vem colaborar com essa visibilidade. É uma exposição maior, sem dúvidas. Mas estou adorando tudo”, celebra.
Palavra de specialista
Yara de Novaes - atriz, diretora e preparadora de elenco
Ótimo intérprete
“O termo comediante é muito mais elogioso do que imaginam. É um ator que tem técnica suficiente para habitar onde quer. Mas a comédia é marginalizada desde a Grécia antiga. O riso, querendo ou não, era desconstrutor, transgressor. Era perigoso e explicitava tudo defeituoso e faltoso na sociedade. Por isso, a comédia foi associada a uma dramaturgia menor. Entre os atores cômicos ficou essa história de que eles tinham pouca elaboração intelectual, artística e estética. O que é uma grande bobagem. O comediante bem habilitado é um ator que qualquer autor e diretor quer. O que interessa mesmo é um profissional que, independentemente da origem, consiga usar tecnicamente todos os meios expressivos para atingir a personagem. O fundamental é que não esteja fechado a nenhum tipo ou gênero, mas que seja ótimo intérprete. É isso que realmente importa.”