Marília Pêra fala sobre amor pela comédia e reação do público ao papel em 'Pé na cova'

"Existe um preconceito de que a senhora, a dama - como eu sou tratada - não pode fazer humor"

24/03/2013 14:33

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João Cotta/Rede Globo
(foto: João Cotta/Rede Globo)
Decotes, calças justas e blusas coloridas não eram exatamente peças do figurino de uma Marília Pêra que o púbico estava acostumado a ver na TV. Até a estreia de Pé na cova, pois é com esse visual suburbano que a atriz está roubando a cena no seriado de autoria de Miguel Falabella. Na trama, Marília dá vida à alcoólatra Darlene, que trabalha como maquiadora de defuntos na funerária do ex-marido Ruço (Falabella).

 

O papel cômico e com falas rápidas é apenas uma pequena amostra do que ela, no auge dos seus 70 anos, ainda pode fazer. A carreira de Marília começa lá nos anos 1960, como bailarina dos teatros de revista. De lá, migrou para papéis em musicais – onde chegou a vencer a cantora Elis Regina na disputa por uma vaga – até ser escalada para a novela A moreninha, em 1965. 

 

Em 1972, foi protagonista de Uma rosa com amor e nas décadas seguintes acumularia quase 40 personagens na teledramaturgia. Sua trajetória profissional também se confunde, em certos momentos, com a história do país. A atriz chegou a ser presa pela ditadura militar em 1968, por causa da peça Roda viva, e foi uma das responsáveis pela repercussão internacional do filme Pixote – A lei do mais fraco (1980), no qual interpretou a prostituta Sueli.


É verdade que sua primeira experiência no teatro foi como bailarina?
Sim. Fiz teste para My fair lady, em 1962. Passei e fiquei quase dois anos na montagem como bailarina. Os diretores aprovavam quem tinha a coragem de fazer uma estrela, porque naquele tempo não era comum acrobacias. Eu tentei fazer o movimento e caí deitada, mas fui admitida (risos). No mesmo período, fiz teste para os papéis das mocinhas de Alô, Dolly, mas não passei como atriz, o que foi pior. Só que logo depois consegui o papel de Rosemary em Como vencer na vida sem fazer força.

Você disputou com a Elis Regina este papel, certo?
Sim, eu ganhei porque cantava melhor que ela (risos). Na verdade, consegui o papel porque cantava um pouco e atuava um pouco. Mas nós duas não éramos conhecidas naquela época e éramos muito novas.

Como foi sua primeira parceria com o Miguel Falabella?
Eu o dirigi em uma peça de teatro, em 1978. Foi minha primeira experiência como diretora. Ele e o seu grupo praticamente me obrigaram. Foram até minha casa, disseram que me ajudariam e eu aceitei.

Na sua opinião, o que o Miguel conservou daquele tempo?
O Miguel é o mesmo menino daquela época. Tem a mesma vulnerabilidade. Vejo isso claramente tanto no camarim quanto no palco.

Seus papéis cômicos na TV costumam ser memoráveis, como a Milu de Cobras & lagartos (2006) e agora a Darlene. Como você avalia esse impacto?
Adoro quando esses papéis chegam até mim porque, em geral, eu sempre sou a rica e má, que tem que ficar subindo e descendo aquelas escadas imensas do cenário (risos). Quando vem uma mulher engraçada e louca como a Darlene, tenho que agradecer. Há muitos anos não tenho um trabalho como esse na televisão. E um Miguel Falabella lá, para me deixar fazer.

Há um certo preconceito por você ser uma estrela consagrada?

Sim, existe um preconceito de que a senhora, a dama – como eu sou tratada – não pode fazer humor. Não pode usar um decote, pois não tem o colo de uma moça. A presença do Miguel me garante, permite que eu faça a minha graça. Eu fico felicíssima de um papel como este existir para mim.

E como está sendo a reação do público?
Esses dias, no aeroporto, uma família veio me abordar. Disseram: “Que maravilha é a Darlene”. E foi Darlene pra cá, Darlene pra lá. Até que eles me chamaram de Marília Gabriela (risos). Ou seja, sabiam o nome da personagem e não sabiam o meu

O Miguel Falabella escreve e protagoniza Pé na cova. Como é contracenar com o autor do seriado?
Ele mistura as falas, fala o texto dele e o meu (risos). Ele também vai mudando e dirigindo a cena na hora. Às vezes eu preciso entender essa diferença.

Pé na cova mescla atores veteranos e novatos, como as atrizes Luma Costa e a Karin Hils. Como é esta troca?
Gosto muito quando é um ator jovem, dedicado e interessado. Adoro poder ajudar de alguma forma e aprender também. Às vezes, uma pessoa que não sabe tanto pode te ensinar porque não tem vícios. Admiro muito a Luma Costa e é ótimo trocar com ela. Assim como o Daniel Torres (Alessanderson), a Sabrina Korgut (Adenóide), o Maurício Xavier (Marcão) e todos os outros. É um elenco maravilhoso.

Além de Pé na cova, você está no teatro com o musical Alô, Dolly!, também do Falabella. Como surgiu este convite?
Estava fazendo a Maruska, de Aquele beijo e o Miguel me chamou para o papel. Ele já ia fazer o papel do Horácio. Caso contrário, acharia arriscado fazer esse musical sem ele.

Depois de tantos anos de carreira ainda sente um frio na barriga quando entra em cena?
Sempre tenho medo de entrar em cena. Fico nervosa, passo mal, tomo floral e amaldiçoo o dia em que decidi ser atriz. Essa é uma dica para os jovens atores. Esse nervosismo nunca vai melhorar, só piora (risos).   

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