Quando você era criança, seu pai foi exilado. Que lembrança forte você tem desse período?
Meu pai, que era deputado federal, foi cassado e exilado em 1964. Eu tinha 6 anos e meu irmão, Raul, 1 ano. Moramos em Paris por dois anos, até que o dinheiro acabou. Minha mãe, meu irmão e eu voltamos para o Brasil. Minha mãe começou a trabalhar, foi uma mudança radical. Foram cinco anos durante os quais enfrentamos muitas dificuldades.
Chegou a faltar comida em casa?
Diria que não faltou, mas quase. Durante esse tempo, várias vezes comemos arroz, feijão e salsicha, dias seguidos. Não havia sobremesa. O luxo máximo era Ki-Suco e, eventualmente, uma gelatina no fim de semana.
Você começou a trabalhar aos 13 anos?
Sim. E antes disso, eu ajudava minha mãe na fábrica de fraldas que ela montou. Aos 13 anos, consegui um emprego numa agência de publicidade. Cerca de 70% do salário era para minha mãe. Foi assim até os 14 anos, quando ela morreu. Meu pai voltou ao Brasil em maio de 1974 e minha mãe faleceu em agosto, aos 34 anos. Ela morreu muito cedo, de pneumonia.
Como você encarou essa perda? Conseguiu superar?
No dia da morte da minha mãe, meu pai me disse: ‘Filho, a vida é como uma mariposa. Ela deixa o corpo de lagarta, se torna uma borboleta e voa, só que você não vê mais.’ Estávamos no necrotério, meu pai me abraçou. Eu chorava muito naquele dia. Nunca mais me esqueci disso.
Você se lembra como e quando ganhou seu primeiro milhão?
Não conto dinheiro, mas posso dizer que a primeira vez que vi um dinheiro maior foi quando fiz a venda da minha empresa para a multinacional FCB. Foi uma experiência que me trouxe uma felicidade adicional. Nunca tinha somado um recurso daquela ordem.
O que fez com o dinheiro?
Saí de um apartamento de um quarto e 50 metros quadrados e comprei um de 250 metros quadrados. Pude casar com a minha mulher, a Bia, com quem estou até hoje. Isso vai fazer 17 anos. Também tive meu primeiro filho, o João Doria Neto.
Você já declarou que dorme apenas quatro horas por dia. Como consegue?
Tenho muita disciplina na relação mente e corpo. Durmo pouco, durmo bem e qualifico muito meu dia. Trabalho com muita energia às 11h da noite (a entrevista foi concedida nesse horário), como se fosse 8h da manhã. E nunca me viram queixar de cansaço. Dirijo um grupo de empresas, fico com minha família, cultivo amigos, vou aos jogos do Santos com meus filhos, aqui em São Paulo e também na Vila Belmiro.
O que achou de Neymar e Ganso não terem sido escalados para a Seleção Brasileira?
Dunga foi teimoso. Ele deveria ter levado os garotos.
Nunca se sente cansado?
Não, e nem me queixo. A única vez em que deixei de ir ao trabalho foi quando tive hepatite. Mas não deixei de trabalhar. Trabalhei de casa, ao telefone. Por telefone, peguei autorização do Gilberto Gil para usar a música dele numa campanha publicitária.
Quer seguir carreira política?
Penso nisso. Mas não agora.
Como mantém o casamento?
Respeito a família e minha mulher. Entendo a importância da família e sou tolerante. A tolerância ajuda a preservar o casamento. Ela é mais tolerante do que eu. Para suportar um marido que trabalha 17, 18 horas por dia, tem de ser extremamente tolerante.
Dá tempo de fazer sexo?
Dá tempo de tudo. Se você tem hora para trabalhar, para o futebol, para os amigos, tem de ter tempo para o sexo. É preciso estabelecer isso como parte da vida conjugal. Está na rotina (risos).