Harmonização, cozinha ao vivo, degustação, pequeno produtor. Não faz tanto tempo assim, comer era comer e pronto, independentemente do caminho que o prato levava até chegar ao cliente. A valorização da gastronomia brasileira e de todo o universo que cerca a cultura do sabor fez toda uma cadeia, que sempre existiu, ganhar luzes.
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Espaço 476 oferece menu à base de produtos orgânicos e eventos especiaisConfira a trilha da gastronomia raiz no Centro de BHEngenheiro Rodrigo Massoni vence 'MasterChef Brasil' 2019Mostra fotográfica revela sensações e percepções de IsraelRestaurante Badejo muda de endereço e anuncia novidadesTrombonista Raul de Souza faz show de graça para festejar seus 85 anosMaior evento da Plataforma Fartura – Comidas do Brasil, cujas expedições, desde 2014, buscam mapear e documentar a culinária nacional, o evento na cidade histórica mineira ganhou sete irmãos mais novos. São festivais em seis capitais brasileiras e em Lisboa, em Portugal.
“Além de ter sido o primeiro, o festival de Tiradentes tem suas próprias características, pois envolve a cidade como um todo e tem duração maior. Mas o nosso objetivo segue o mesmo: mostrar o valor da gastronomia”, afirma o empresário Rodrigo Ferraz, desde 2010 à frente do evento.
“Da origem ao prato” – o lema do festival – resume a intenção do Fartura. “Queremos despertar a curiosidade das pessoas para o que está atrás do prato. Mostrar como é vasto, cultural e economicamente, o mundo da cultura gastronômica”, diz Ferraz. Como sua principal vitrine, o Festival de Tiradentes busca aprimorar a programação com a oferta de produtos, a divulgação de produtores e a diversificação do público.
“No primeiro momento, valorizava-se muito a questão do jantar, da exclusividade, da pompa. Quando assumi, foi feito um movimento ao contrário, de levar mais o evento para a rua”, comenta Ferraz. Em sua década inicial, os festins, jantares harmonizados com grandes chefs, foram a marca do festival. Ao longo do tempo, com a programação de rua crescendo, eles se reduziram. Os festins chegaram a 12 por edição; em 2017, foram abolidos.
“Porém, vimos que havia o público que gostava dos jantares, de observar o trabalho mais sofisticado dos chefs”, revela Ferraz. Em 2018, os festins voltaram – este ano, estão em maior quantidade. Serão seis ao longo de dois fins de semana.
TAPIOCA
Única chef feminina dos festins, Morena Leite, de 39 anos, do Capim Santo (criado em Trancoso, Sul da Bahia, há 35 anos, hoje com restaurantes em São Paulo e no Rio de Janeiro), será responsável pelo jantar do dia 30 no Restaurante Ora. Ela vai assinar o cardápio com o chef Felipe Oliveira, que comanda a cozinha do Ora. A entrada será ravióli de tapioca com molho de ervas, seguido por linguado empanado com quinua recheado com palmito-pupunha e servido com um petit gâteau de banana-da-terra.
“Nosso DNA é a cozinha tropical, saudável, com ingredientes bem brasileiros”, afirma Morena. Entre os ingredientes preferidos dela estão “derivados do aipim, castanhas, bananas e todos os cítricos”. Na opinião da chef, a prioridade da gastronomia atual é a sustentabilidade.
“Nenhuma cozinha que exige 10 horas de pré-preparo é sustentável”, comenta Morena, que procura a simplicidade. “Cozinha tem que ter identidade. Se você está em Minas, tem de sentir que está comendo uma comida dali. Se está em São Paulo, a história é outra. No fundo, tem de sentir que a comida tem verdade.”
Com uma carreira que já soma 21 anos – desde que se formou no Le Cordon Bleu, na França –, Morena diz que o papel da mulher na cozinha é diferente na Europa e na América Latina, “onde ela sempre foi muito forte”.
“Realmente, nunca senti preconceito. Por outro lado, não sou feminista, ativista, acho o equilíbrio muito importante. Jamais faria cozinha só de mulheres, como jamais faria só de homens. Somos complementares”, defende a chef.
A hora e a vez do micromercado
De BH, o único convidado para os festins é Henrique Gilberto, de 32 anos, que comandará, ao lado de Rafael Pires, o jantar marcado para sábado (31), no Restaurante Mia. O chef apresentará como entrada um trio de vegetais. O prato principal será molho pardo com nhoque e ragu de galinha caipira.
Em setembro, Gilberto completa um ano à frente do Cozinha Tupis, um dos primeiros estabelecimentos do Mercado Novo, cuja revitalização virou a grande novidade da gastronomia belo-horizontina em 2019.
“Na cozinha, uso a política do micromercado”, explica Henrique Gilberto. Traduzindo: o cardápio, que muda a cada semana, só tem ingredientes adquiridos no próprio Mercado Novo ou no Mercado Central.
“Minha proposta é fazer pratos que representem o Centro de Belo Horizonte. Então, utilizo só produtos locais”, conta ele. Semanalmente, o Cozinha Tupis, que abre de quinta a domingo, oferece 10 pratos – rabada, barriga de porco, canela de boi, galeto e jiló, entre eles.
FESTIVAL CULTURA E GASTRONOMIA TIRADENTES
Até 1º de setembro. Veja a programação completa em www.farturabrasil.com.br
FESTINS
- Sexta (23)
- 20h – Restaurante Ora
- Com os chefs Marcelo Petrarca (Lago, Brasília) e Felipe Oliveira (Ora, Tiradentes)
- Sábado (24)
- 20h – Restaurante Mia
- Com os chefs Alberto Langraf (Oteque, Rio de Janeiro) e Rafael Pires (Mira, Tiradentes)
- 20h – Pousada Escola Senac
- Com os chefs André Mifano (Lilu, São Paulo) e Luciano Avellar (Senac, MG)
- Sexta (30)
- 20h – Restaurante Ora
- Com os chefs Morena Leite (Capim Santo, São Paulo) e Felipe Oliveira (Ora, Tiradentes)
- Sábado (31)
- 20h – Restaurante Mia
- Com os chefs Henrique Gilberto (Cozinha Tupis, BH) e Rafael Pires (Mira, Tiradentes)
- 20h – Pousada Escola Senac
- Com os chefs Marco Gil (Rosa Celeste, Fortaleza), Ronie Peterson e Mauro de Paula (Pousada Escola Senac, MG)
- A partir de R$ 380. Reservas: (31) 98512-9220
Não perca
FOGO DE CHÃO
. Espaço Brasa e Lenha, na Praça Campo das Vertentes
Tradicionalmente, oferece cortes bovinos no fogo de chão. Este ano, a oferta será maior. Haverá convidados preparando cortes de porco (MG); peixe de água doce, pitu, pupunha e banana (PA); jacaré (MS); peixe de água salgada (ES); e pães e cordeiro (MG).
NA PRAÇA
As praças da Rodoviária e Campo das Vertentes contam com uma série de espaços dedicados a chefs e restaurantes, que começam a funcionar a partir das 12h. Tradição no festival, a paella gigante do chef Rodrigo Zarife será servida sábado (24), na Praça da Rodoviária. Um dos participantes mais frequentes do evento, ele foi dos primeiros a levar a cozinha de rua para Tiradentes. A paella demora ao menos uma hora para ficar pronta. Ela é gigante, mas como também é grande a sua fama, melhor não dar bobeira e não deixar para muito tarde.
AO VIVO
Para comer com os olhos e a boca. Vários chefs participam de cozinhas ao vivo na Praça Campo das Vertentes. Ivo Faria, do Vecchio Sogno (BH), vai apresentar o arroz marimbondo no sábado (24), a partir das 14h30. Na sexta (30), às 19h30, Leonídia Bezerra, do Pau de Angu (Tiradentes), prepara a rabada ao Pau de Angu. No dia 31, às 22h, Cristóvão Laruça, do Caravela (BH), oferece o arroz de pato.
PARA CURTIR DE BARRIGA CHEIA
No sábado (24), às 17h, na Praça Campo das Vertentes, o violonista Thiago Delegado faz show com o saxofonista Chico Amaral. Às 19h, será a vez do pianista Márcio Hallack. Para terminar a noite, às 21h, haverá show da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, combo de instrumentistas dedicados ao ska, rocksteady e reggae das antigas.
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