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Para dar água na boca

BH completa 121 anos e reunimos aqui as delícias que são a cara da cidade

O bolinho de feijão do Estádio Independência, vendido pelos irmão Marcos e Maria de Lourdes Oliveira, é um dos astros da gastronomia de BH - Foto: Leandro Couri/EM 


Belo Horizonte completa 121 anos na quarta-feira (12). A culinária é uma das marcas registradas da aniversariante, onde receitas são passadas de pai para filho. É o caso de um legítimo prato belo-horizontino: o Kaol, especialidade do Café Palhares, antigo reduto boêmio da cidade.

Desde 1938 funcionando na Rua dos Tupinambás, no Centro, o bar foi vendido em 1944 pelos irmãos Palhares a João Ferreira, o seu Neném, recém-chegado de Uberaba. Quando ele assumiu, a casa era especializada em salgados e sanduíches. “Meu pai já trabalhava no ramo de pastelaria. Aqui era um café, que funcionava 24 horas. Lá pelos idos dos anos 1950, meu pai e a cozinheira decidiram fazer uma comida para dar sustança aos funcionários, apenas arroz, ovo e linguiça. Era o começo do Kaol.
Naquela época, nem nome ele tinha”, conta Luiz Fernando Ferreira, filho de seu Neném. Depois da morte do pai, em 2003, ele assumiu o negócio em parceria com o irmão, João Lúcio. Seu filho André, de 29, já segue os passos da família.

O prato dos empregados logo despertou o interesse de clientes, como o jornalista Rômulo Paes (1918-1982). Certo dia, ele e seu Neném decidiram batizar o PF. “Como muita gente costumava tomar um aperitivo antes do almoço e do jantar, quase sempre cachaça, surgiu o nome Caol – C (cachaça), A (arroz) e O (ovo). O Rômulo sugeriu colocar o K para ficar mais chique”, brinca Luiz.

O sucesso foi tanto que o Kaol se tornou o astro do cardápio. Hoje, reúne arroz, ovo, farofa com feijão, couve, torresmo, linguiça e molho por cima.
“A linguiça é produzida aqui diariamente. É uma receita do meu pai, sem conservantes. Esse é um dos nossos diferenciais”, ressalta Luiz Fernando.

Pode-se pedir Kaol com pernil, carne cozida, dobradinha ou língua. Em média, saem de 350 a 400 pratos por dia. Nos áureos tempos, eram 800. O preço varia de R$ 18,50 a R$ 19,50, de acordo com a carne.

 

O Mineirão tem o famoso tropeirão. Quem criou a iguaria foi a família de Eliane Assis, proprietária do Bar e Restaurante Tropeiro do 13 - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press 

 


TORCIDA Outra tradição de BH é o bolinho de feijão do Estádio Independência. Tudo começou no Mineirão, graças ao funcionário público Dalci Ferreira de Oliveira, que vendia pão com salame para o pessoal da construção civil. Em 1965, quando o Gigante da Pampulha foi inaugurado, ele servia torcedores e funcionários.

“Em Caetano Furquim, meu pai conheceu vizinhos que faziam bolinho de feijão para consumo próprio.

Aprendeu a receita e passou a vender no Centro e nos estádios. Lá se vão 50 anos que a nossa família tira o sustento do bolinho”, conta Márcio Oliveira, de 48, um dos 10 filhos de Dalci, que morreu em 2012.

Durante quatro décadas, a família vendeu a iguaria no Mineirão, Independência, Arena do Jacaré (Sete Lagoas) e Castor Cifuentes (Nova Lima). Porém, devido a regras implantadas nos estádios, desde 2012 os Oliveira deixaram de oferecer a iguaria nas arquibancadas. “Só podemos vender do lado de fora. Mesmo na rua, ainda tem uns problemas com fiscalização. O que nos segura são as encomendas. Faça chuva ou sol, a gente está lá, principalmente no Independência”, avisa Marcos Oliveira.

Márcio vende em Lagoa Santa, enquanto Marcos, Marcílio, Maria de Lourdes e Márcia não abrem mão dos estádios, principalmente o Independência. “Caiu muito o rendimento. O público do futebol mudou demais. Mesmo o Atlético levando 20 mil pessoas e o América 2 mil, nossa maior clientela é americana, pois são os torcedores mais tradicionais”, diz Marcos.
A unidade custa R$ 2, enquanto o cento (encomenda) é vendido por R$ 50.

 

Outra lenda da capital, o Bolão abriu as portas em 1961, em Santa Tereza. A casa mantém duas tradições: o macarrão e o rochedão - Foto: Alexandre Guzanshe/EM 


TROPEIRÃO Se o Independência tem o bolinho de feijão, o Mineirão tem o famoso tropeirão. Quem criou a iguaria foi a família de Eliane Assis, proprietária do Bar e Restaurante Tropeiro do 13, no Bairro Planalto. “Minha tia era dona dos bares 11 e 12, na geral, e do 13, na arquibancada inferior. Ela tinha uma pensão e preparava o tropeiro lá. O Bar 13 não tinha muito movimento e ela decidiu testar a receita. Foi tiro e queda”, recorda. “Como o nosso bar era muito frequentado por policiais e pela imprensa, o negócio expandiu e nos tornamos referência”, diz Eliane. “A receita está na minha família há 53 anos, em tenho 51. É como se fosse um parente”, diverte-se. O preço do “tropeiro do 13” varia de R$ 15 a R$ 22.

 

O tira-gosto mais servido no Mercado Central %u2013 cartão-postal de BH %u2013 é o fígado acebolado com jiló - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press 

 


Outra lenda da capital, o Bolão abriu as portas em 1961, em Santa Tereza.

A casa mantém duas tradições: o macarrão e o rochedão. Tudo começou com seu José Rocha. Depois do fechamento do bar ao lado, na Praça Duque de Caxias, ele decidiu aperfeiçoar o prato famoso dos concorrentes. “Era o espaguete com molho de tomate. A gente criou a nossa versão e faz sucesso até hoje. O segredo é o molho”, conta Sílvio Rocha, de 72, irmão de José Maria, o Bolão, afastado dos negócios por problemas de saúde.

Sílvio diz que o rochedão, batizado por conta do sobrenome da família, leva arroz, feijão, ovo, carne e pode ter fritas e espaguete. “Muita gente nos imitou, tem até disputa pela patente. Mas o nosso continua único”, garante. As porções individuais custam R$ 17,50 (macarrão), R$ 21 (rochedão comum) e R$ 25,50 (rochedão especial).

 

 


O tira-gosto mais servido no Mercado Central – cartão-postal de BH – é o fígado acebolado com jiló. “Segunda-feira de manhã, com chuva e tudo, tem gente experimentando junto da cerveja gelada”, conta Elisa Fonseca, proprietária do Bar da Lora, expert no tira-gosto. Ela comanda o boteco há 15 anos. Ele existe há meio século.

“Quando meu pai abriu as portas, o fígado já era famoso. Contam que, quando o pessoal trazia a mercadoria, sobrava o fígado. Os comerciantes deram um upgrade, misturaram com jiló e ele se tornou o prato típico do Mercado Central”, diz Elisa. O diferencial do Bar da Lora, que cobra R$ 22,90 (porção pequena) e R$ 29,90 (grande), é a carne – sem nervos e pele. “Se não for assim, fica borrachudo. Até quem não gosta de fígado nem de jiló acaba experimentando. Virou uma atração turística”, conclui.

 

Os campeões

 


. KAOL

Café Palhares. Rua dos Tupinambás, 638, Centro. (31) 3201-1841). De segunda a sábado, das 7h às 22h.

. TROPEIRÃO DO MINEIRÃO
Tropeiro do 13. Av. Olímpio Mourão Filho, 190, Planalto. (31) 3495-4549. De segunda a sexta, das 11h às 14h30; sábado e feriado, das 11h às 15h.

. BOLINHO DE FEIJÃO
À venda nos arredores do Estádio Independência nos dias de jogo. Aceitam-se encomendas. Informações: Marcos, (31) 3455-0738 e 98819-5991; Márcio, (31) 3452-5008.

. MACARRÃO E ROCHEDÃO
Bolão 1. Praça Duque de Caxias, 288, Santa Tereza. (31) 3463-0719. Segunda, das 11h às 15h; terça a quinta, das 11h às 3h; sexta e sábado, das 11h às 5h; domingo e feriado, das 11h às 17h. Bolão 2. Rua Mármore, 681, Santa Tereza. (31) 3461-6211. Segunda, das 11h às 16h; de terça a domingo, das 11h às 23h.

. FÍGADO ACEBOLADO COM JILÓ

Bar da Lora. Mercado Central. Entrada pela Rua Santa Catarina, 308, Centro. (31) 3274-9409. De segunda a sábado, das 8h às 18h; domingo e feriado, das 8h às 13h. 

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