Santarém (PA) – De manhã bem cedinho, começa a lida na casa e no quintal de Benedito Castro Pedrosa, o Bené, de 70 anos, e Sebastiana dos Santos Pedrosa, de 66, a Sabá. Nesse pedaço da comunidade ribeirinha de São Francisco do Carapanari, a 17 quilômetros do Centro de Santarém, na Região Norte do país, o casal mantém a tradição de produzir farinha de mandioca (branca, amarela e de tapioca. A atividade, que vem dos antepassados, cresceu, apareceu e já chegou a um restaurante premiado da cidade, o Casa do Saulo, dono de cardápio caprichado, vista deslumbrante do Rio Tapajós e espaços de lazer para relaxar e esquecer da vida.
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Ciente de que essa região da Amazônia, no Oeste do Pará, tem todo potencial para produzir de forma organizada e sustentável, Saulo decidiu pagar para ver, sempre apoiado nos pilares econômico, social e ambiental. A investida abriu portas para uma via de mão dupla: saída dos produtos totalmente artesanais e entrada de visitantes e interessados no jeito de trabalhar e viver da família. O local ganhou o nome de Casa de Farinha e fica no distrito Eixo Forte, um vetor de crescimento e expansão urbana.
Para quem está acostumado a simplesmente comprar a farinha no supermercado, é bom saber que há várias etapas no processo, a partir do momento em que Bené vai à roça, no fundo do quintal, e volta carregando, nas costas, as raízes graúdas. Depois de retirar as cascas da mandioca com uma faca amolada, Bené deixa tudo de molho para fermentar, dá uma “chacoalhada” no recipiente e depois vai secando uma a uma.
TUCUPI Com a prática de quem se dedica à atividade desde criança, Bené dá continuidade ao trabalho e vai contando um pouco da história. “Sempre sobrevivemos da farinha de mandioca e dos peixes. Mas foi muito bom, quando o Saulo chegou aqui e apresentou a proposta de trabalhar em parceria”, diz o produtor.
A próxima etapa será passar as peças no ralador, movido a motor, e depois na prensa. É nessa fase que se obtém o famoso tucupi, caldo amarelo e aromático usado em iguarias típicas do Pará, entre o pato ao tucupi e o tacacá, que leva ainda goma de tapioca jambu (planta típica da região) e camarão seco.
Pensa que acabou? Tem mais. A massa da mandioca passa numa peneira, é escaldada e depois volta novamente à peneira. Finalmente, vai ao fogão a lenha, numa enorme fôrma, que merece cuidado permanente da família para não queimar. Bené já conta com a ajuda do neto de João Pedro, de 10, principalmente na hora de rodar a haste da prensa. Ele quer estudar, não decidiu ainda qual profissão seguir, mas gosta de aprender com o vovô.
PRATOS A matéria-prima usada por Saulo para fazer pratos que fazem a festa para os olhos e o paladar. Tem o pirão escaldado com caldo de peixe, a farofa de piracuí com banana da terra, moqueca e muitos outros. “Servimos a farinha de seu Bené como acompanhamento de todos os pratos. Ela está presente em 100Þ nosso cardápio”, destaca Saulo. Sempre preocupado em estender a mão, Saulo deu emprego a um jovem venezuelano, que vai trazer a família para viver em Santarém.
Doce de farinha de tapioca
Ingredientes
200g de farinha de tapioca 1 caixinha de creme de leite 3/4 de uma caixinha de leite condensado 50g de coco ralado Leite para cozinhar a farinha de tapioca (suficiente para dar a consistência ideal)
1 pitadinha de sal
Modo de fazer
Deixar a farinha de tapioca de molho no leite por 20 minutos. Em seguida, levar ao fogo brando e cozinhar. Quando estiver cozido, e já fora do fogo, acrescentar os outros ingredientes. O mingau não pode estar nem duro, nem muito
ralo, para ficar com
boa textura.
Receita fornecida por Maria Odila Duarte Godinho, da comunidade Anã, de Santarém (PA)
Cozinha em outro ritmo
De volta a Santarém, nada melhor do que conhecer o Mercadão 2000, na Avenida Tapajós, onde são comercializados vários produtos da região: frutas, artesanato, licores, elixires à base de plantas medicinais e centenas de outros. Uma das atrações é a Feira do Pescado, onde pode ser encontrados tambaqui, matrinxã, pirapitinga, pirarucu e surubim. Numa banca, está o charutinho, e o vendedor bem-humorado se apressa em dizer que “o peixinho é primo da sardinha”.
Depois de fazer uma “garimpagem” no Mercadão 2000, nada melhor do que navegar pelo Tapajós e ir até a comunidade de Anã, distante duas horas (de barco catamarã) e localizado dentro da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, que desenvolve, entre outros projetos, a piscicultura e melipomel (criação de abelhas sem ferrão). Se agendado, é possível almoçar e desfrutar dos temperos dessa comunidade afetuosa que acolhe o visitante com o maior carinho. Tem até um redário (redes para descansar) num cômodo fechado com telas para evitar a entrada de mosquitos. Para comprar, cestaria feita com palha e tingida com frutas, em vários tons.
Na comunidade de Anã moram 96 famílias, que cultivam macaxeira (mandioca), pescam e criam galinhas. Ao chegar, os moradores explicam que Anã se refere ao nome de uma estrela, e portanto, se traduz por brilho e encantamento. Atenciosa e sorridente na hora de receber os visitantes, Maria Odila Duarte Godinho, de 68 anos, com sete filhos e nove netos, conta que morou muitos anos em São Paulo, de 1971 a 2000, trabalhando como costureira. Re à terra natal “graças a Deus” e explica: “Aqui, eu vivo”.
Depois do bate-papo, Maria Odila chama para almoçar e se orgulha dos peixes assados e da galinha do quintal preparada com gosto e caldo delicioso. Na sobremesa, serve o doce de farinha de tapioca em cuias que deixa um sabor de quero mais. Na hora de dar a receita, a nativa pede desculpas por não ter uma medida certa de ingredientes – “faço tudo na mão”, e como está conectada com o mundo, manda depois a receita pelo Whatsapp.
Na comunidade de Anã moram 96 famílias, que cultivam macaxeira (mandioca), pescam e criam galinhas. Ao chegar, os moradores explicam que Anã se refere ao nome de uma estrela, e portanto, se traduz por brilho e encantamento. Atenciosa e sorridente na hora de receber os visitantes, Maria Odila Duarte Godinho, de 68 anos, com sete filhos e nove netos, conta que morou muitos anos em São Paulo, de 1971 a 2000, trabalhando como costureira. Re à terra natal “graças a Deus” e explica: “Aqui, eu vivo”.
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Se comer muito, não se sinta culpado, nem com DPP ou “depressão-pós-prato”, brincadeira que corre de boca em boca. Na verdade, em Anã, acredite, a vida corre em outro ritmo.
O repórter viajou a convite da Secretaria Municipal de Turismo de Santarém (Semtur) e Secretaria do Estado de Turismo do Pará (Setur-PA)