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Brasil e Bélgica confrontam tradição e geração promissora também na cerveja

Hoegaarden - Teor alcoólico: 4,9%; Preço médio: R$12 (300ml) - Foto: Brasil e Bélgica se enfrentam sexta-feira (6/7), em Kazan, pelas quartas de final de Copa do Mundo. Além de uma jovem e valiosa geração de jogadores, as duas nações também compartilham outra paixão além da bola: a cerveja.

 

Os brasileiros são hegemônicos nos gramados, com cinco títulos mundiais. Os belgas tentam ocupar um lugar de protagonismo através do talento de De Bruyne, Lukakau e Hazard e outros atletas que surgiram com destaque no futebol europeu recentemente. Porém, na cevada a situação é inversa. Enquanto o país europeu é referência global com sua tradição secular na produção cervejeira, os brasileiros vêm buscando um espaço na mesa principal nos últimos anos.

Na terra dos adversários da vez, a história com a cerveja começou na Idade Média, graças aos religiosos que dividiam a fé com a fermentação. “A Bélgica se tornou um refúgio depois da Reforma Protestante.
Muitos mosteiros católicos foram transferidos para lá, porque não havia perseguição na região. Até então, não havia uma regularidade de receitas cervejeiras na Europa. Nos mosteiros em volta de Bruxelas, os monges eram escribas e começaram a catalogar as receitas. Então houve uma regularidade maior na produção”, explica a especialista Fabiana Arreguy, jornalista e sommelier de cervejas formada pela Doemens Academy de Munique e sócia-fundadora e professora da Academia Sommelier de Cerveja de Belo Horizonte.

Muitas das abadias que começaram a fazer cerveja naquela época mantêm suas atividades até hoje, sem falar nas inúmeras fábricas espalhadas pelo país, cuja área é pouco maior que o estado de Alagoas. Tudo isso torna a Bélgica um destino obrigatório para quem aprecia ou lida profissionalmente com a cerveja.

Ousadia e abadia
Se no futebol muitos apontam a irreverência do jogador brasileiro como a chave para tanto sucesso ao longo da história, Fabiana Arreguy destaca que a cerveja belga também vence pelo vasto repertório. “Outro fator que faz da Bélgica uma grande produtora de cerveja é a criatividade.
Eles nunca estiveram sob uma lei de pureza, impedindo adição de outros ingredientes, como na Alemanha, por exemplo. Como é até hoje, sempre houve adição de especiarias, temperos e frutas nas receitas. Daí surgimento de novos estilos, o que não aconteceu na Alemanha. Na Bélgica, eles levam essa cultura muito a sério, continuam com o mesmo processo centenário de fazer cerveja, mas com todas essas possibilidades”, pondera a sommelier.

Nós temos os craques e eles as trapistas
Desde que a FIFA criou o prêmio Bola de Ouro, entregue anualmente ao melhor jogador do mundo, foram 14 premiados, sendo cinco deles brasileiros. No mundo da cerveja, a Bélgica se orgulha de ter a maior concentração de cervejas trapistas do mundo. O que é isso? “É um selo, uma cerveja que só pode ser produzida nos mosteiros de uma ordem específica, a dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância. São poucos em todo o mundo, apenas 11, sendo seis na Bélgica”, ensina a especialista.

 

Se nos orgulhamos de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká, além, é claro, dos craques anteriores ao prêmio, como Pelé, Garrincha e companhia, a escalação da tradição belga tem as seguintes cervejarias: Rochefort , Achel, Orval, Westmalle, Vleteren Oester e Chimay.

Na Copa da Cerveja já ganhamos deles
Não é brincadeira, existe uma “Copa do Mundo da Cerveja”.

É a World Beer Cup, promovida pela Brewers Association (a “FIFA da cerveja”) desde 1996. Realizado a cada dois anos, o evento premia as melhores cervejas do mundo em cada um dos vários estilos conhecidos. São mais de 90 categorias e concorrem marcas de todo o planeta.

 

Se no futebol é melhor nem lembrarmos de 2014, naquele mesmo ano o Brasil conquistou seu primeiro título mundial na cerveja. E, assim como em 1958, foi graças a um mineiro. A dubbel da Wals, produzida em BH, foi eleita a melhor do mundo desse estilo tipicamente belga. A quadruppel da marca ficou com o segundo lugar na categoria. Neste ano, a Wals ganhou mais um título, desta vez, com a sua Brut, novamente com um estilo belga. 

Os prêmios serviram para coroar o progresso cervejeiro do país nos últimos anos, com um crescimento de 200% no número de fábricas de 2013 para cá. No entanto, a “ótima geração brasileira” ainda precisa progredir muito para igualar a tradição belga. Em 10 anos de World Beer Cup, são três ouros para o Brasil, contra 41 da Bélgica.

Pelo menos, estamos no caminho certo, com grande destaque para a produção mineira. 

 

“O Brasileiro é muito estudioso nesse sentido, tem buscado se aprimorar, buscado cursos lá fora. Hoje temos várias escolas no Brasil voltadas para isso, disseminando processos cada vez mais apurados. Sobretudo, temos evoluído muito para encontrar nossos próprios ingredientes e dar o DNA brasileiro à nossa cerveja. Mesmo que haja repetição dos estilos já consagrados, especialmente da Bélgica, temos usado frutas brasileiras, até lúpulo brasileiro, e hoje temos um olhar muito apurado para a produção cervejeira devido a esses prêmios”.

Faça seu duelo na cerveja: Brasil x Bélgica
Que tal um duelo nos copos enquanto Brasil e Bélgica se enfrentam na Copa? Fabiana Arreguy dá seis dicas de cervejas belgas e uma correspondente brasileira para você tomar durante a partida e comenta cada estilo. Mas vá com calma, pois algumas delas são bem mais alcoólicas que as do estilo pilsen, mais usuais no dia a dia do brasileiro.

1 )Wit - Hoegaarden x Leopoldina
Leopoldina - Teor alcoólico: 4,5%; Preço médio: R$20 (600ml) - Foto: Leffe Blonde - Teor alcoólico: 6,6%; Preço médio: R$13 (350ml) - Foto:

 

 

“A wit é o estilo belga que mais se adapta ao nosso clima, tem laranja, coentro, é muito refrescante, muito adequada ao clima brasileiro. Hoegaarden é a mais icênica e uma wit muito interessante. Entre as brasileiras tenho indicado muito a da casa Leopoldina, do Rio Grande do Sul”.

2) Blonde - Leffe x Backer Medieval
Backer Medieval - Teor alcoólico: 6,7%; Preço médio: R$15 (330ml) - Foto: Westmalle - Teor alcoólico: 9,5%; Preço médio: R$30 (350ml) - Foto:

 

 

“Um dos estilos que mais conhecemos é a o blonde por causa da Leffe, comprada há algum tempo pela InBev, mas produzida desde 1240. É um estilo ao qual as pessoas se adaptaram muito bem no Brasil. Uma Belgian Blonde muito boa é a da Backer Medival, aqui de Minas”.


3) Trippel -  Westmalle x Bodebrown Montfort

Bodebrown Montfort - Teor alcoólico: 10%; Preço médio: R$25 (330ml) - Foto: Chimay Rouge- Teor alcoólico: 7%; Preço médio: R$32 (350ml) - Foto:

 

 

 

“A trippel é um estilo criado pela abadia de Westmalle, em 1930, é recente comparada a outras, por isso a indico e a Bodebrown Montfort, de Curitiba.

São muito boas para brindar”.

4) Dubbel - Chimay Rouge x Verace Oroboro

Verace Oroboro - Teor alcoólico: 9,1%; Preço médio: R$24 (330ml) - Foto: Saison Dupont - Teor alcoólico: 6,5%; Preço médio: R$21 (330ml) - Foto:

 

 


“A dubbel da Wals ganhou como melhor do mundo em 2014, é um estilo belga de que as pessoas gostam muito, mas eu colocaria a Oroboro da Verace, que é uma cervejaria mais nova, aqui de Minas também”. 

5) Saison - Dupont x Tupiniquim Caju

Tupiniquim Caju: Teor alcoólico: 6,8%; Preço médio: R$25 (600ml) - Foto: Gulden Draak - Teor alcoólico: 10,5%; Preço médio: R$32 (330ml) - Foto:

 

 

 

“É um estilo ao qual as pessoas se acostumaram bem por aqui. A Dupont é um exemplar desse estilo na Bélgica e a Tupiniquim de Caju tem o elemento brasileiro na taça do brasileiro. A saison nasce a partir do uso do que há de abundante naquela estação do ano”.

6) Quadruppel - Gulden Draak  x Quadruppel da Wals

Wals Quadruppel - Teor alcoólico: 11%; Preço médio: R$17 (374ml) - Foto:

 

 

 

“Quadruppel é outro estilo belga e a da Wals foi eleita a segunda melhor do mundo em 2014”

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