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Serraria Souza Pinto recebe festival de queijos e comprova especialidade dos mineiros


O mineirinho estava caminhando e se deparou com uma lâmpada. Quando a esfregou, surgiu o gênio se propondo a realizar três desejos do moço. “Quero um queijo!”, pediu. O gênio obedeceu e disse: “Qual é o segundo pedido?”. O mineirinho não titubeou: “Me dá outro queijo!”. O gênio questionou: “Tem certeza?”. Indagado sobre o terceiro desejo, o mineiro não vacilou: “Quero uma muié!’. O gênio atendeu, mas perguntou: “Desculpe, mas o que você vai fazer com uma mulher e dois queijos?”.

“É que fiquei com vergonha de pedir outro queijo”, comentou o rapaz, meio sem graça.

Essa historinha não é mero blague. “A nossa paixão por queijo virou até piada como a do gênio. Engraçado, mesmo Minas Gerais produzindo um quarto do café do mundo, a gente é mais associado à cachaça e ao queijo. Com a profissionalização da produção e o aprimoramento da legislação, essa associação está ficando cada vez mais difundida”, destaca o chef Eduardo Maya.

Ao lado dos colegas Caetano Sobrinho, Edson Puiati, Flávio Trombino, Guilherme Melo, Jaime Solares, Mario Santiago e Lucas Parizzi, Maya é um dos chefs que vão representar as sete regiões produtoras do estado no Festival do Queijo Minas Artesanal (FQN). A segunda edição do evento será realizada até domingo (20) na Serraria Souza Pinto.

As sete “queijeiras” são Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Serra do Salitre, Serro e Triângulo Mineiro.

Além de estandes destinados às regiões produtoras, onde os visitantes poderão degustar e comprar queijos, e um espaço reservado para os chefs prepararem pratos, haverá cervejas artesanais, vinhos, cachaças, cafés, mel e azeites mineiros – que, claro, harmonizam com os queijos. Paralelamente, serão realizadas oficinas de conservação, harmonização e degustação. Espaço Kids estará à disposição do público.

TRADIÇÃO
Promovido pela Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o festival é o único voltado exclusivamente para o queijo minas artesanal, produzido com leite cru.
A iniciativa pretende destacar a tradição do produto, reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Apesar da tradição, o festival surgiu apenas em 2017. Altino Rodrigues Neto, superintendente técnico da Faemg, explica que durante muitos anos o queijo artesanal teve problemas relativos à legislação e à regulamentação. “Só o queijo industrial contava com legislação específica. Minas Gerais elaborou as primeiras normas voltadas para o queijo artesanal por volta de 2015. A partir daí, os produtores começaram a se adequar, passaram a ser fiscalizados pelo IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária), participaram de programas de Sebrae. Depois disso o setor começou a se fortalecer”, informa.

O sucesso da primeira edição do festival foi tamanho que praticamente todo o estoque acabou no primeiro dia. “Tivemos por volta de 15 mil pessoas nos três dias, embora esperássemos 3,5 mil. O mesmo ocorreu com a quantidade de queijos.
Produtores tiveram de ir de madrugada para casa buscar mais mercadoria. Este ano, a infraestrutura será muito maior”, garante Altino.

Todo esse interesse se deve ao fato de as pessoas entenderem melhor o consumo do queijo, observa. “Principalmente dos maturados (que passa por processo de envelhecimento), que até pouco tempo tinham pouca penetração. Assim como ocorreu com o vinho e a cachaça, os consumidores estão sabendo tanto consumir quanto harmonizar os queijos”, diz. Altino espera receber 20 mil pessoas na Serraria Souza Pinto.

Representante da região do Campo das Vertentes, o chef Eduardo Maya vai preparar dois pratos: pizzas individuais com toque de queijo nos sabores marguerita e lombinho com bacon (R$ 18) e o pão com linguiça würsha acompanhado de molhos especiais e queijo ralado para finalizar (R$ 18).

Para ele, apesar de estar no caminho certo, o queijo artesanal mineiro ainda tem longo processo a ser percorrido. Um dos pontos principais a ser trabalhado é a maturação. “Já demos o primeiro passo de uma légua. Agora, falta uma légua menos um passo. Nosso queijo não pode mais custar R$ 8 como antes e nem ser caro demais. Temos que focar muito na questão da maturação, da umidade e da temperatura.
O produto está muito bom, mas pode ser melhor”, defende.

 

VITRINE DE PRIMEIRA Produtores artesanais estão animados com a vitrine que o festival oferece. Reinaldo Antônio de Lima, da Queijaria Sítio Real, de Araxá, iniciou a produção há quatro anos e tem se sobressaído no mercado. Seu produto chegou a ganhar prêmios, inclusive o de melhor queijo do país.

 

“Nosso diferencial é que ele tem casca fina, mas é mais suave, não é tão picante. Sem contar que trabalhamos exclusivamente com leite de gado jersey. Nosso gado é tratado de maneira mais natural, sem hormônios. Isso se reflete no queijo”, diz Lima.

 

João Leite Cunha, presidente da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), explica que Minas Gerais se destaca no mercado por suas características geomorfológicas e pelo legado dos portugueses, experts na iguaria. “Os colonizadores chegaram aqui e já foram abrindo fazendas. O gado era a principal economia. Com isso, os derivados do leite ganharam espaço, incluindo o queijo. Todo esse trabalho de qualificar o produto artesanal é o resgate do que nossos antepassados faziam há 300 anos.

O queijo artesanal é uma arte e também parte da nossa história”, diz ele, que comanda a Queijaria Roça da Cidade, em São Roque de Minas, que funciona desde 1840.

 

Ele explica que a Serra da Canastra e o Serro ganharam evidência por serem regiões onde há a fabricação mais antiga e o maior número de produtores. Porém, isso não significa que outras áreas de Minas não tenham produtos de qualidade. “Com a regulamentação, os produtores estão cada vez mais preocupados com a qualificação e o aperfeiçoamento. Todo mundo sai ganhando. Além de ser um dos melhores alimentos por seu valor nutritivo, o queijo agrada a todos os paladares. Esse mercado sempre será forte”, aposta.


GEOGRAFIA ‘QUEIJEIRA’


» ARAXÁ

• Consistência semidura com tendência a macia, de natureza manteigosa
• Odor e sabor ácidos, agradáveis e não picantes

» CAMPO DAS VERTENTES
• Consistência semidura, com tendência a macia, porém firme
• Odor e sabor pronunciados, levemente ácidos, mas não picantes

» CANASTRA
• Consistência semidura, com tendência a macia, de natureza manteigosa
• Odor e sabor ligeiramente ácidos, não picantes e agradáveis

» CERRADO
• Consistência semidura, com tendência a macia, de natureza manteigosa
• Odor e sabor ligeiramente ácidos, não picantes, agradáveis

» SERRA DO SALITRE
• Consistência semidura, com tendência a macia, de natureza manteigosa
• Odor e sabor ligeiramente ácidos, não picantes e agradáveis

» SERRO
• Consistência firme e levemente quebradiça. Costuma ser um queijo mais úmido
• Odor e sabor brandos. Ligeiramente ácido

» TRIÂNGULO MINEIRO
• Consistência semidura, com tendência a macia
• Cheiro levemente ácido e sabor suave, com ligeira acidez

2º FESTIVAL DO QUEIJO MINAS ARTESANAL
Serraria Souza Pinto. Avenida Assis Chateaubriand, 809, Centro. Nesta sexta-feira (18), das 19h às 23h. Sábado (19), das 12h às 22h. Domingo (20), das 10h às 18h. Ingressos: R$ 20 (inteira) e 10 (meia-entrada), na bilheteria. Pelo site Sympla, há acréscimo de R$ 2. Maiores de 60 anos e estudantes pagam meia-entrada. Entrada franca para menores de 12 anos.

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