Acredite, o ritual de consumo do chá significa bem mais do que simplesmente ferver a água e dispor sobre um sachê saborizado, como revela Daniella Perdigão, sommelier e uma das pioneiras em ministrar cursos e workshops temáticos na cidade.
A especialista reforça a diferença entre chá e infusão, explicando que o primeiro diz respeito apenas à bebida confeccionada a partir das folhas e brotos da planta originária da China e que hoje é cultivada também em outros países da Ásia, Europa e África, entre outros. “A China é o maior produtor e consumidor, mas também o Japão, a Turquia, a Índia e o Quênia têm forte tradição no segmento”, aponta.
Como a origem é sempre a mesma, a Camellia sinensis, o que difere cada um dos tipos de chá é o método de processamento, a presença ou ausência de oxidação, a possibilidade de fermentação (presente apenas no chá denominado escuro), o terroir. “Existem os chás branco, amarelo e verde, todos não oxidados, mas que passam por processos de produção diferentes, daí sabores distintos. Entre os oxidados, há o oolong ou azul, que é chamado semi oxidado devido à variação do nível de oxidação entre 15% e 85%, e o preto, que é 100% oxidado. No paladar, essa oxidação gera o tanino, entendida por muitos como substância que traz amargor. Quanto mais oxidado, mais taninos existem em um chá.
Partindo da diferença entre um e outro, vale ressaltar que o chá premium pode ser consumido puro em forma de folhas e brotos (solto) ou de pérolas (folhas delicadamente enroladas em bolinhas), e também em blends, quando misturado a outras matérias-primas como flores, frutas, caramelo, chocolate (veja na página sugestões de bebidas a base de chá propostas pela sommelier). Quente ou gelado. “Como o paladar do brasileiro aponta para a preferência por um sabor mais doce e floral, os chás blendados costumam fazer mais sucesso nos cursos e degustações. Em BH, em workshop ministrado na Casa Leopoldina, o Longjing (chá verde chinês) foi o preferido da turma”.
À mesa
Belo- horizontina, Daniella é formada em comércio exterior e gestão de negócios. Trabalhou durante anos para grandes empresas, até que optou por abrir um negócio próprio a fim de ganhar tempo para a gestação e a maternidade. “Vivi em casa com quintal quando solteira, e a cultura das infusões sempre esteve presente no nosso cotidiano doméstico. Tínhamos pé de romã e carambola, macelinha, poejo. Mamãe preparava a bebida no dia a dia e também para tratar indisposições, resfriados. Então, sempre li a respeito, desde cedo conheço o verdadeiro chá e quando comecei a pesquisar uma área de interesse me vi fascinada por este universo que começa a ganhar notoriedade no país”.
A partir da decisão, Daniella buscou formação no Instituto do Chá, de São Paulo, e nunca mais parou de estudar. “É um universo gigantesco, uma cultura riquíssima e muito bonita. No curso, aprendemos a identificar os diferentes tipos e origens de chá, formas de processamento, técnicas de degustação, detalhamento de categorias, entre outras especificidades”.
Na hora de preparar um chá, ela chama a atenção para detalhe importante: o respeito à temperatura de infusão e ao tempo de mergulho da erva na água, precisão que interfere na melhor extração de sabor da bebida. “A temperatura de infusão do chá branco, por exemplo, que é bastante delicado, não deve passar dos 75 graus”, avisa. Ainda segundo a especialista, os chás premium devem trazer tais informações na embalagem.
Outra dica é jamais usar açúcar para temperar um chá pois o doce geralmente mascara o sabor da erva. “A bebida traz notas sensoriais, a exemplo do que ocorre na degustação de vinhos. Assim, é possível identificar os mais diversificados sabores, de mel a vegetais grelhados. E isso é muito pessoal, o consumidor vai identificando o que mais fala e agrada ao paladar por meio do exercício, da prática”, ensina.
A sommelier reforça ainda que a diversidade de sabor permite que os chás sejam harmonizados com praticamente qualquer alimento. Para ilustrar, ela cita o matcha, chá verde triturado e produzido de forma diferente aos demais (usado na cerimônia japonesa do chá, geralmente batido com água quente e processado no whisk, batedor de bambu). “Ele é bastante usado na produção de receitas doces e salgadas, já que proporciona um tom de verde muito bonito e é bastante saboroso”.
a` mesa, Daniella afirma que o processo é intuitivo, mas valem algumas sugestões para potencializar a mistura chá e comida, proporcionando diferentes harminizações. “Não usamos o chá branco ou amarelo, pois são muito suaves. A partir daí, vale explorar o chá verde, bastante adistringente, com frituras, frutos do mar, pratos à base de manteiga.
Chá de menta marroquino
Ingredientes
1 colher de chá verde Gunpowder ou 2 colheres de chá de outro chá verde, 15 ramos de hortelã lavados, açúcar a gosto (os marroquinos tomam o chá bem docinho).
Modo de fazer
Coloque o chá verde no bule, adicione meia xícara de água fervente, deixe por 30seg e despreze o líquido. É costume no Marrocos enxaguar o chá. Coloque os ramos de hortelã e o açúcar no bule com o chá, adicionar 400ml de água fervente e deixar em infusão por 4min. Caso seu bule não seja marroquino (ele possui um filtro no bico), coe e sirva. Experimente colocar raminhos de
hortelã nos copos.
Chá indiano tradicional
Ingredientes
para duas xícaras
400ml de leite integral, 200ml de água, 3 colheres de chá preto de folhas soltas ou 3 saquinhos de chá preto,1 canela em casca, 4 bagas de cardamomo trituradas, 4 cravos, 1 pedaço de gengibre de 2cm descascado e cortado, 1/2 colher de chá de pimenta-do-reino.
Modo de fazer
Coloque em um recipiente todos os ingredientes e leve ao fogo médio por 10min. Nesse período, o chá deve ferver algumas vezes e baixar novamente (deixe ferver por 2min e retire um pouco do fogo), repita. Ao fim do preparo, adicione açúcar a gosto e leve ao fogo por mais 3min. Coe e sirva. OBS: O chá pode ser feito com leites vegetais como leite de aveia e amêndoas. Nesse caso, seriam 300ml de leite de aveia ou amêndoas e 300ml de água.
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