Não falta bacalhau aos domingos na casa de Nelva e Renato. “Se pudesse, quando estou em Portugal, comeria bacalhau no café da manhã, almoço e jantar, porque é delicioso. É uma pena que aqui no Brasil seja tão caro”, comenta o oncologista. Nelva costuma preparar o peixe de maneira bem simples, em versão confit. Ela cobre a posta com azeite e acrescenta alho, cebola em rodelas bem finas, pimentão e tomate. “Só não pode deixar o bacalhau muito tempo no forno, senão ele cozinha demais e fica seco. Tem que estar bem suculento”, alerta a administradora.
Nelva tem o cuidado de incluir acompanhamentos que não roubem o sabor do bacalhau. Para ela, o peixe combina com brócolis, arroz branco e batata, que vai ao forno por baixo da posta
O casal também não dispensa uma garrafa de vinho. “Bacalhau e vinho são igual a um bom casamento, um não pode ficar sem o outro”, avalia Nelva. Particularmente, Renato prefere os vinhos tintos aos branco e rosé. “Tem uma uva magnífica em Portugal, touriga nacional, que existe tanto no Alentejo como no Vale do Douro, duas regiões excelentes de vinícolas”, destaca o oncologista, que tem sempre uma dica de vinho português bom e barato. A administradora também inclui a uva malbec na lista das que harmonizam bem com um prato de bacalhau.
TRUQUES
A relação de Nelva com Portugal é bem antiga. A goiana, que mora em Minas Gerais há nove anos, se apaixonou pelo país europeu logo na primeira visita, quando tinha 18 anos. “É o único país no mundo que não trata estrangeiro com preconceito, por isso tem tantos brasileiro lá
Para Nelva, não existe segredo na hora de cozinhar bacalhau, ainda mais com a facilidade de encontrar as postas dessalgadas. “Aprendi a não mexer muito na posta. Os portugueses não tiram nem a pele nem as espinhas grandes, brasileiro é que tem essa mania. Eles deixam o bacalhau mais inteiro e apenas cobrem com azeite para levar ao forno”, conta. A administradora também descobriu em Portugal que azeite extravirgem não é o mais indicado. O melhor é cozinhar com azeite tipo único ou óleo de bagaço de oliva, já que o sabor deles não se altera durante o aquecimento.
Risoto de bacalhau com camarão
Ingredientes
500g de bacalhau desfiado; 500g de arroz para risoto; 120g de queijo parmesão; azeite a gosto; 3 dentes de alho finamente fatiados; 1 cebola grande picada; 2 caldos de galinha ou legumes; 300g de espinafres frescos; coentro a gosto; camarões a gosto
Modo de fazer
Cozinhe o arroz em água abundante e temperada com caldo de galinha ou legumes. Assim que estiver al dente, em aproximadamente 17 minutos, escorra e guarde a água. Passe o risoto por água fria para parar o seu cozimento. Em separado, faça um refogado com alho e cebola. Quando estiver transparente, junte o bacalhau e deixe ganhar o sabor do alho. Em seguida, junte 4 colheres do caldo de cozimento do risoto. Acrescente os espinafres (quando estiverem macios), adicione o risoto e mais água, mantendo sempre uma textura cremosa. A seguir, acrescente o queijo parmesão. Se estiver muito líquido, deixe secar mais um pouco até a textura pretendida. Adicione os camarões, que podem ser cozidos em água e sal ou grelhados. Por último, um fio de vinagre e coentro a gosto. Pimenta malagueta é opcional.
Portugueses aplaudem
Nelva e Renato são cozinheiros igualmente experientes. Nascida no interior de Goiás, ela cresceu sentindo o cheiro de fogão a lenha. “O meu pai era ótimo com doces. Fazia arroz de leite, cural de milho, canjica, queijo, requeijão e todos os produtos da fazenda”, relembra. Já o marido, que morou fora do Brasil por muitos anos, aprendeu a força a cozinhar para sentir o gosto de sua terra. “Morei em Houston e Londres e tinha muita dificuldade de encontrar restaurante brasileiro, então desenvolvi meu próprio charme na cozinha. Cheguei a fazer, com muita ousadia, feijoada para os colegas do hospital nos Estados Unidos. Só depois me dei conta de que a era maioria judeu e não comia carne de porco”, diverte-se.
O casal tem planos de se mudar definitivamente para Portugal. Enquanto não se despedem do Brasil, Nelva e Renato passam dois meses inteiros em Cascais, no meio e no fim do ano, e aproveitam para saborear a legítima comida portuguesa. “Descobrimos um risoto fantástico de bacalhau com camarão em Cascais”, fala a administradora. “O restaurante, muito aconchegante, fica em frente à catedral. Os garçons são muito acolhedores e nos recebem muito bem”, acrescenta o oncologista. Assim como nos velhos tempos, Nelva pediu a receita ao dono para prepará-la especialmente para o Degusta.
Renato diz que abandonou por completo a cozinha. Agora ele se limita a apreciar as receitas preparadas pela mulher e escolher um bom vinho. Seja no Brasil ou em Portugal, Nelva não deixa de cozinhar em casa e recebe até portugueses. Lá, ainda tem a vantagem de encontrar os melhores ingredientes para preparar o bacalhau. “Fiz uma vez bacalhau cozido na panela de cerâmica com salsa e alecrim. Passo na frigideira e sirvo com cebolas douradas, flor de brócolis japonês e batatas ao muro. Quando está pronto, jogo azeite extravirgem”, ensina. A administradora, que aprendeu a cozinhar mais na prática que em cursos, passou com louvor pela prova de fogo, já que os português amaram sua comida.