Lá em cima, funcionários comentavam que o bispo Edir Macedo atraiu mais gente quando lançou ali Nada a perder, quatro anos atrás, mas também tiveram trabalho para organizar a subida – a conta-gotas – dos que não desistiam de tentar conseguir uma foto, um autógrafo de Rita, cujo estilo descomplicado gerou mais de 3,6 milhões de visualizações de vídeos em seu canal no YouTube. Depois de atender quase todo mundo, ela sai pela porta dos fundos e, minutos depois, pede um bife de chorizo com purê de batata num restaurante do shopping.
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Ela acredita que o brasileiro começou a compreender melhor o que é comida de qualidade e dá o exemplo dela própria, que, 20 anos atrás, procurou curso de gastronomia para aprender a cozinhar e viu sua relação com o alimento se transformar. Quatro anos depois, ela criou o Panelinha, vieram os filhos, a maturidade e ela percebeu que comer vai além do prazer: envolve saúde, relações sociais, cultura.
Nesse sentido é preciso buscar equilíbrio entre esses elementos, pois um dos erros, na opinião dela, é a 'medicalização': 'Receitas sem lactose, sem glúten, ricas em fibras acabam com a comida. Saudável é simplesmente o que sai da natureza, passa pela cozinha e é transformado no que você come. É modismo e as pessoas não percebem que são usadas pela indústria, que precisa vender isso. Somos onívoros, devemos comer de tudo. Essa variação é importante', defende.
MARMITA
Não por acaso, Rita tem feito conexões entre a culinária e outras áreas de maneira a tornar o conteúdo que produz mais relevante e próximo do público. Exemplo é o convênio que fez com a Escola de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, resultando em blog dentro do Panelinha e numa série de 10 vídeos sobre alimentação saudável que serão exibidos em junho, em parceria com um dos professores de lá, Carlos Augusto Monteiro.
'A ideia é explicar o que é comida de verdade e alimentação saudável, ensinar a não cair em armadilhas e a ler rótulos. Não é preciso pensar na questão nutricional, só é preciso ler a lista de ingredientes. Se tiver qualquer nome que não pareça alimento, é comida ultraprocessada. Tire do carrinho', resume ela. São informações que ajudam o público a mudar de atitude já na próxima compra ou refeição.
Outra conexão importante feita por Rita é com a economia doméstica. Aliás, é o assunto do momento no quartel-general do Panelinha, um estúdio com cozinha que reúne cerca de 20 profissionais, em São Paulo. 'Quando comecei a falar de marmita, sacamos que a questão é muito complexa. Não é só grelhar o frango, por exemplo, mas planejar, fazer lista de compras, comprar, voltar, armazenar, higienizar os alimentos, cozinhar, limpar a cozinha, arrumar a sala, guardar tudo, reaproveitar as sobras. Temos pensado muito nisso, em como transformar isso num processo mais fácil', diz.
Ela se considera atenta aos fatores que afastam as pessoas da cozinha e aproveita para fazer uma crítica: 'Elas falam que não têm tempo, mas veem não sei quantas séries na TV. Tempo elas têm, o que falta é habilidade e entendimento do quão essencial é comer comida de verdade. Eu ajudo a começar'. O básico para deslanchar é saber cortar e refogar, garante ela, pois 'quase tudo é refogável'.
WHATSAPP
Se o Panelinha (que hoje significa site, livros, TV e YouTube) se popularizou por meio da internet, chegou ao canal GNT (com o nome de Cozinha prática; está na sexta temporada) e tem nos jovens seu maior público, por que, então, seguir investindo tanto em livros físicos? 'Primeiro, porque sou velha', ri a paulistana, de 41 anos. Tudo o que está no título lançado recentemente pode ser encontrado no site, mas com uma diferença.
'O livro é um curso. Organizamos para o leitor, que não precisa ficar caçando nada, entendendo o que é mais importante. Tente ficar meia hora estudando alguma coisa num aplicativo. A gente não aguenta. Em cinco segundos você está no WhatsApp ou fotografando sei lá o quê. A questão é de concentração e o livro tem esse poder', explica.
Já está na hora de pedir a conta. Chegou o momento de Rita ir para o aeroporto, mas não sem antes um expresso com leite frio à parte. Ela, que compartilha com o marido o gosto por 'tudo o que queima bastante' (legumes bem-assados, por exemplo), quando está em casa prefere os sabores do Oriente Médio ('grão de bico, trigo, muitas especiarias e ervas frescas') ao binômio França-Itália. 'Mas sem deixar de fora o basicão brasileiro', acrescenta.
Por fim, uma curiosidade. Rita, que tanto incentiva as marmitas, não deixa de ser adepta delas, só que de maneira diferente: enquanto todo mundo leva a sua comida para o trabalho, ela leva o que produz na cozinha de teste para sua casa. 'O Panelinha é o único lugar em que isso ocorre', diverte-se.
'Realmente, é uma alimentação saudável e prática para o dia a dia. As receitas são básicas e agradam'
Ana Paula de Souza, 35 anos, fisioterapeuta
'Ela consegue trazer a técnica para a cozinha de jeito mais prático. Os livros dela também servem para profissionais''
Luiz Fernando Furtado, 20 anos, confeiteiro'
'Qualquer pessoa consegue executar o que ela faz com tranquilidade. Até quem não sabe cozinhar'
Suelen Álvares, 34 anos, advogada
'Aprendi a fazer arroz branco com ela e o rolinho de acelga com recheio de sobras de estrogonofe é ótimo'
Alexandre Rocha, 37 anos, empresário