A decoradora Ana Maria Otoni, de 70 anos, voltou feliz para casa. Ela teve a sorte de comprar o último pote de doce de caju cristalizado e a última garrafa da tradicional cajuína, suco clarificado do caju que ganhou o título de patrimônio cultural brasileiro. “O caju é uma fruta exótica e deliciosa, que não se encontra muito em BH. Quero aproveitar para fazer sobremesas”, adiantou.
De Itajaí, Santa Catarina, veio um produto conhecido como caviar brasileiro: a ova de tainha, usada para intensificar o sabor do mar nos pratos. “É uma iguaria única. Você tem 45 dias para pescar, entre maio e junho, depois a safra se fecha”, contou o produtor Sérgio Arins. O auditor fiscal Isac Falcão, de 39, ficou surpreso de ver que nada tem a ver com aquelas bolinhas pretas. Na verdade, é uma peça alaranjada que mais parece filé de peixe. “Achei o sabor espetacular. Posso até ter comigo algo parecido, mas me soou inédito”, descreveu. Dizem que o produto está na categoria do umami, o quinto sabor.
Apenas este ano, foram exportadas 160 toneladas de ova de tainha para a China. O produtor sonha em ver consumo equivalente no Brasil. “O consumo vem aumentando por causa do trabalho dos chefs. Alex Atala, por exemplo, é o maior consumidor”, informou o representante comercial Hindrigo Lorran. “Pelo que percebi, mineiro gosta de sabor intenso, então agradou em cheio.”
Mais satisfeito ainda ficou o japonês Morita Toru, de 63, que levou estoque para casa. “Sirvo como tira-gosto para beber com vinho branco”, ensinou o engenheiro, nascido em Nagasaki, cidade famosa pela produção de karasumi, como é chamada a ova de tainha no Japão.
E as carnes exóticas também fizeram sucesso. O chef Juliano Caldeira, de Belo Horizonte, levou um jacaré inteiro para ensinar como se prepara esse animal. A aula se tornou uma atração à parte, atraindo a atenção de muita gente.
“O melhor é ver o astral das pessoas celebrando a gastronomia e ver que conseguimos levar conhecimento a elas, além de dar vitrine aos pequenos produtores”, comemorou o organizador do Festival Fartura BH, Rodrigo Ferraz. Para o ano que vem, já estão confirmados os festivais em Porto Alegre, Fortaleza, Tiradentes e BH, que será realizado no fim de setembro. Estuda-se levá-lo para uma quinta cidade. Rodrigo garante que, até lá, haverá muitas novidades, já que em março será encerrada a última etapa da Expedição Fartura Gastronomia, que vem mapeando a cadeia produtiva em todo o Brasil.