Fenômeno Bom termômetro disso é o surgimento de variações em torno do tema. No caso, o catuçaí. A bebida gelada que mistura açaí com catuaba tem feito tamanho sucesso entre a juventude frequentadora de eventos de rua alternativos em BH que fez Nandão largar o emprego de supervisor industrial – e desistir do curso de engenharia mecânica no qual estava prestes a ingressar. Ele jamais pensou que seu sustento viria de uma bicicleta equipada com uma garrafa térmica de 25 litros.
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E por que a catuaba, misturada ao açaí ou não, tem feito tanto sucesso? “Você pode segurar a garrafa a noite inteira. É de plástico, não pesa. Basta ter duas pedras de gelo e um copo. Como tem muita gente vendendo cerveja na rua, gelo não é difícil de achar. O efeito é satisfatório e o preço, barato. Com uma garrafa para duas pessoas já dá para começar a noite e ficar feliz”, explica o vendedor.
Na garganta A estudante Izabela Egídio, de 23 anos, fez da catuaba sua bebida predileta e tem tese parecida para explicar o fenômeno, mas vai além. “Não dá vontade de ir ao banheiro toda hora, como ocorre com a cerveja. Em eventos de rua nunca tem banheiro e a gente tem de pagar R$ 1 para usar os dos barzinhos da Rua Aarão Reis. Catuaba une pessoas. Não sei por que, deve ter um espírito diferente naquela bebida. É muito tranquilo de tomar, mais suave, sem aquele gostão forte da cachaça”, observa.
Izabela começou a beber catuaba com amigos, cinco anos atrás, durante o Duelo de MCs, debaixo do Viaduto de Santa Tereza, no Centro da capital mineira. “Era muito barato, R$ 3 o copo. Éramos falidos e nosso rolê era esse. Tínhamos R$ 10 para ir e voltar de ônibus e tomar uma catu”, lembra. Izabela relata, ainda, que o aumento da procura provocou inflação nas ruas: chega a ver ambulantes querendo R$ 25 na garrafa, que compra por cerca de R$ 10 em supermercados.
Ela prefere tomar a catuaba gelada, pois quente desce “arranhando feito gato na garganta”. Declara-se apaixonada pelo catuçaí e, apesar de acusar queda na qualidade do que os vendedores andam oferecendo (“está ficando ralo”), ainda enxerga uma grande vantagem nele: “Além de tudo alimenta, por ter açaí. É bebida e larica num copo só”. Por fim, a estudante aproveita para dar um conselho: “A catuaba deixa a gente mais bêbado que cerveja, mas pode dar problema. O porre dela só não é pior que o de vinho. Quando tomar um, você vai ver”.
“Ela não atrapalha a venda de cerveja porque o cervejeiro não toma catuaba. Quem toma catuaba geralmente não tem uma bebida preferida e às vezes pede xiboquinha (cachaça com canela e raízes em pó) para variar, mas não toma cerveja”, analisa Fernando Evangelista, proprietário d’A Casa. Ele conta que, hoje, as mulheres não são mais maioria entre o público consumidor e que tampouco a bebida está restrita a quem dança o “bate-coxa”.
Guache sensual
Gaúcho de 79 anos radicado no Rio de Janeiro, ele é conhecido por ter criado centenas de belos cartazes de filmes brasileiros. Mulheres sensuais caracterizam muitos trabalhos dele e com o rótulo da bebida (o desenho original foi feito em guache) não foi diferente.
“Eu era procurado principalmente por causa disso, por fazer algo sensual sem ser pornográfico”, explica Benício. “Tem que ter muito cuidado para não escorregar nesse trabalho e sempre me dei bem com isso”, continua. O fato de catuabas concorrentes terem adotado rótulos do mesmo estilo não o incomoda: “Se copiaram é porque foi bom”.
A receita
As velhas garrafadas das vendinhas do interior (que misturam bebidas alcoólicas com ervas) serviram de referência para a formulação da Selvagem, catuaba mais popular do país. Foi criada em 1969 para competir com bebidas como conhaque de alcatrão e a jurubeba, lançada oficialmente em 1990 e com receita que leva vinho tinto, álcool etílico potável, açúcar, suco de maçã, xarope de maçã, caramelo de açúcar e fermentado de maçã composto com extratos de catuaba, guaraná e marapuama – o teor alcoólico é de 14%. Da fábrica, em Teresópolis (RJ), saem as garrafas que abastecem mercado em crescimento: foram vendidos 16 milhões de litros no ano passado, o dobro de 2009, e a projeção para este ano é de 13% de crescimento. Minas Gerais é o estado que mais a consome, depois de São Paulo.