Conheça produtor de queijo minas adepto do Slow Food que vende o produto pelo correio
A visita de Petrini ao país começou em 21 de julho e terminou esta semana. Defendendo o alimento “bom, limpo e justo”, ele passou por outras quatro capitais para lançar um aplicativo com dicas gastronômicas de 22 países, incluindo o Brasil. Por “bom, limpo e justo” entenda-se comida que tenha não só bom sabor e qualidade, mas cuja produção não prejudique o meio ambiente, envolva boas condições de trabalho e garanta remuneração honesta do produtor. Essa é a filosofia principal do movimento, que tem simpatizantes em 150 países.
Assim, o italiano vai contra a exploração da mão de obra, o sistema agrícola dominante e a mercantilização da terra. Por isso, sua fala facilmente ganha contornos utópicos, messiânicos. Entretanto, seu entusiasmo pela causa da agricultura familiar e a clareza com que articula as ideias tornam atraente o convite para que cada pessoa ajude a mudar o mundo ao adotar determinados hábitos de consumo. Simplista, claro, mas faz sentido.
Entre outros compromissos de seu giro pelo Brasil, esteve a assinatura de acordo de cooperação técnica entre o Slow Food e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em Brasília, para promover e apoiar a produção e o consumo de alimentos da agricultura familiar e de assentamentos rurais no país.
É uma aproximação importante, visto que o braço brasileiro do movimento desenvolve ações significativas nesse sentido, mas que não resolve a relação entre os dois lados. Uma das pedras no sapato, por exemplo, é a questão do cultivo e comercialização de sementes de alimentos transgênicos, criticada pelo Slow Food. No momento, o Senado analisa projeto que retiraria símbolo de transgenia de rótulos de produtos geneticamente modificados.
“Há diferentes posições dentro do governo. O MDA precisa fortalecer a pequena indústria familiar e, ao mesmo tempo, há ministérios com pensamento muito próximo ao da agricultura industrial. É a grande contradição desse governo e que perdura há muito tempo. Agricultura industrial e familiar não são compatíveis. Entretanto, a partir do governo Lula implementou-se fortemente a agricultura familiar e os direitos das comunidades rurais. Muita coisa mudou em 10 anos, penso que são conquistas que merecem ser mantidas”, analisa Petrini.
Nos últimos anos, o Slow Food Brasil tem atuado por meio de projetos que relacionam biodiversidade e agricultura familiar, sendo dois dos mais importantes a Arca do Gosto e as Fortalezas. No caso do primeiro, trata-se de catálogo mundial de produtos ameaçados de extinção e potencialmente comerciais (no Brasil, são exemplos o mel de abelhas nativas, o umbu, o arroz vermelho e o guaraná Sateré-Mawé). Já as Fortalezas são programas de desenvolvimento da qualidade de alguns desses produtos nos seus territórios.
Braço do movimento em BH apoia queijo e mira cerveja
Associados ao Slow Food no Brasil reúnem-se em 46 grupos, chamados de convívios. Seis deles estão em Minas Gerais. O de Belo Horizonte, com aproximadamente 15 membros, tem como líder Marcelo de Podestá, de 31 anos. Aqui, são promovidos eventos abertos ao público (como degustações temáticas e jantares), viagens para conhecer produtores e campanhas contra alimentos transgênicos e em prol do consumo de peixes oriundos de pesca sustentável.
“Ainda é um convívio muito urbano. A ideia é multiplicar. É interessante que haja convívios em cidades vizinhas, por exemplo. Temos muito contato com produtores da região metropolitana. Nosso foco atual é nos queijos e em agricultura urbana, mas também estamos discutindo sobre cervejas com sabores locais, ajudando a desenvolver insumos para produtores daqui”, afirma Podestá.
As ações do convívio são divulgadas pelo Facebook (www.facebook.com/slowfoodbh) e pelo site www.slowfoodbh.org. Entre as próximas está uma oficina de degustação de queijos brasileiros de leite cru no Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes, neste mês, com aproximadamente 10 variedades mineiras, paulistas e nordestinas. Publicitário e mestre em história e cultura da alimentação pela Universidade de Bolonha (Itália), Podestá é quem ministrará a atividade.
MUTAMBA
EM MILÃO
Ramon Melo, de 22 anos, é produtor de frutos como coco-macaúba, jatobá, cagaita e mutamba em Jaboticatubas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Um dos integrantes da associação Amanu – Educação, Ecologia e Solidariedade, ele foi um dos selecionados para participar, em outubro, do Terra Madre Giovani – We Feed the Planet, congresso de jovens e pequenos produtores organizado pelo Slow Food em Milão, na Itália. “Nossa região é muito rica em saberes populares e artesanais. Vamos apresentar um pouco do nosso trabalho, que é de agricultura familiar e envolve agroecologia e economia solidária”, diz ele.