“O pessoal da gandaia chega aqui dando ‘boa-noite’ e a gente responde com ‘bom-dia’”, conta Luiz Otávio Pereira, que comanda o bar com o irmão, Gilson Luiz. A casa foi aberta em 1985 pelo pai deles, o Zé Luiz, que nasceu em Morada Nova de Minas e começou a trabalhar em bares da capital mineira no final dos anos 1960. Ele morreu há 11 anos, e a mulher ajuda de vez em quando com a comida, mas são os dois filhos do casal que assumem o dia a dia do bar: Luiz (Juruna, para os íntimos) na cozinha e Gilson no atendimento, ambos se revezando na pia.
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Conheça redutos em BH que apostam no charme de seu cardápio de PFsRestaurantes que servem Prato FeitoBares se impõem pela qualidade dos petiscos e atraem clientela de toda BH“Atendemos garçons, taxistas, pessoal que trabalha à noite, gente aqui do mercado. Ontem, por exemplo, veio um grupo de pagode. Tem gente chegando em tudo que é horário. A maior parte das pessoas que vem pelo Mercado das Borboletas não vem para o bar. Eles não conhecem, não imaginam que há um bar aberto nesse horário. Além disso, a gente fica escondido aqui. Muita gente chega indicada por taxistas”, conta Gilson. A palavra taxistas não aparece duas vezes à toa. Eles são maioria no bar.
“Os taxistas que não vêm comer aqui passaram a trabalhar de dia, mudaram de profissão ou se aposentaram”, brinca Gilson. Ele e o irmão, que trabalham de bermuda e chinelo, conhecem muitos deles pelo nome. Isso contribui para que, ali, o clima seja não só de tranquilidade, mas também de cumplicidade. “Já aconteceu de um freguês estranhar o outro, mas isso é muito difícil de acontecer. E, quando acontece, o pessoal chega e separa logo”, informa Luiz.
Logo acima, cachaças, um pote de achocolatado, canetas esferográficas à venda, cigarros, uma lata amassada de azeite barato, potes de margarina e, próximo ao ventilador de teto, embalagens plásticas abertas de Caracu e Brahma Zero. No balcão, um ou outro freguês fuma sem muita cerimônia, enquanto um gato preto passeia por entre caixas de verdura e um homem vira dois dedos de cachaça entre uma garfada e outra. Ligada, a televisão não é assistida por ninguém.
Em torno do balcão não há bancos nem mesas. Não seria má ideia, acredita Gilson, colocar mesas ao redor, mas a administração do mercado não permite ocupar os corredores dessa maneira. Ele e o irmão apenas instalaram correntes para delimitar a presença da freguesia, prova de que o movimento costuma ficar intenso (sobretudo a partir de quinta). Além de não comer sentado, só come com garfo e faca quem pede. “É mais fácil comer em pé se for com colher. Já vem tudo cortado no prato”, lembra ele. É assim desde a época de Zé Luiz.
De frente para o prato de frango com quiabo que acabou de comer, o garçom Rangel de Almeida, de 35 anos, declara: “R$ 10 num prato desse, com esse atendimento, é caro? Somos bem recebidos, bem tratados aqui. Por isso a gente vem todo dia. Minha bolsa está aqui atrás e eu não estou nem preocupado. Aqui é mais seguro do que dentro da minha casa. E o aroma daqui, o cheirinho de comida? Se você for lá fora, é só poluição, urina”. Não raro, chega ao Zé Luiz acompanhado por clientes que estavam no bar onde trabalha, também no Centro.