Com bares, café, ateliê de pães, feira de vinil e a sede da Discoteca Pública – os demais participantes ainda estão sendo definidos –, ele ocupará área de aproximadamente 500 metros quadrados localizada no interior do mercado e praticamente desocupada há vários anos. “Todas as vezes que ia fazer compras no mercado, ficava intrigado com um espaço em local tão nobre e que ficava sem uso. Aquilo me incomodou tanto que fui perguntar como fazia para ocupar um espaço ali”, conta o produtor Kuru Lima, da Cria! Cultura. Ele se inscreveu em licitação pública ano passado e ganhou o direito de explorar o local por cinco anos.
“A partir daí foi chamar os amigos e interessados para ocupá-lo criativamente e de forma coletiva. A criatividade é a chave para estarmos juntos ali. Queremos ser exemplo de espaço sustentável, criativo e inovador, respeitando as tradições gastronômicas e culturais do estado. Todos que tiverem uma ótima ideia, não firam esses elementos e que estejam em harmonia com os vizinhos podem nos procurar para o diálogo. Portanto, haverá um ciclo constantes de entradas e saídas, eventos, mostras, cursos, lançamentos. Temos que ter claro que estamos apenas gerindo um espaço público”, afirma Kuru.
A licitação, continua, previa a implantação de “espaço gastronômico para eventos e formação”, direcionamento definido pela Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional. “É uma visão avançada e em consonância com os interesses manifestados pela população do Bairro Cruzeiro e entorno”, elogia. Por esse motivo, o projeto tem como base a gastronomia, mas não se resume a ela, incluindo iniciativas como as de Ivan Cândido (Ponto de Leitura, com bibliotecas comunitárias) e Edu Pampani (Discoteca Pública), além de pequeno espaço para eventos. Aliás, o escritório da Cria! Cultura será transferido para lá.
As obras para implantação são simples, garante o produtor. As grades que separam o espaço do restante do mercado, por exemplo, serão removidas para que haja maior integração entre os recém-chegados e os tradicionais comerciantes do local, muitos deles trabalhando ali há décadas. “Estamos reforçando os conceitos originais da edificação, trabalho que vem sendo realizado brilhantemente pelos arquitetos Isabela Vecci e Samy Lansky. É o único mercado ainda público na cidade e uma edificação do saudoso arquiteto Éolo Maia. Só de não ter virado mais um shopping já é um alívio”, diz. Segundo ele, o investimento que será feito este ano ultrapassará R$ 500 mil.
Já Edu Pampani, da Discoteca Pública, avalia que trocar o Bairro Floresta pelo novo espaço dará novo fôlego aos projetos que desenvolve. “Aí é que vou mostrar mesmo a cara do que faço. Na minha loja atual recebo muita gente, mas a maioria é do bairro. O público agora será bem maior. Vou sair da toca.” Todo o acervo, composto por 12 mil discos de vinil de música brasileira (lançados desde 1951), será transferido para o espaço e estará à disposição do público para audição – com duas vitrolas equipadas com fone de ouvido –, pesquisa e gravação.
A Feira do Vinil, evento que realiza mensalmente há seis anos na Savassi, ganhará edição extra no mercado, sempre no primeiro sábado de cada mês. “Será permanente, sempre com coisas novas. A ideia é colocar os lançamentos de todos os artistas independentes e coisas que estão sendo lançadas e relançadas pela Polysom do Brasil e pela Media4Music, futuros parceiros. Faremos também exposições de capas de discos, aparelhagens de som, picapes etc. Antes, a feira era coisa de saudosistas, mas o público vem aumentando consideravelmente, incluindo muitos jovens”, adianta Pampani.
Comunidade aprova
Para Wayne Stochiero, vice-presidente da Associação dos Comerciantes do Mercado Distrital do Cruzeiro (Acomec), a implantação do Distrital – Espaço de Ocupação Criativa está em total consonância com o momento que vive o mercado. “Será excelente para o mercado, o bairro e, principalmente, BH. A proposta inicial do mercado era de abastecimento, mas o local vem evoluindo para ser um espaço de convivência, gastronomia e cultura. O mercado está em evolução e esse projeto vem agregar a tudo isso”, avalia.
Patrícia Caristo, presidente da Associação dos Cidadãos do Bairro Cruzeiro (Amoreiro), foi uma das pessoas que lutaram pela preservação do mercado. Por isso, vê com bons olhos a chegada do novo projeto. “Isso tem um sabor de sonho realizado. Sempre torcia para que esse espaço fosse ocupado por alguma atividade, gastronômica ou cultural. Quando recebemos essa notícia, foi uma grande alegria. Todos que adoram o mercado e querem que ele seja definitivamente parte integrante do nosso bairro só podem torcer para que a vinda do Kuru e da sua galera seja plena de êxito. Acredito que vai trazer vida, movimento e agregar muito valor ao nosso mercado querido”, diz.