Para captar a alma de um povo é preciso sair às ruas e entender sua cultura, provar sua comida, preparada e servida para qualquer um, para todos e ninguém em especial. O colunista e coordenador do curso de gastronomia da Una Edson Puiatti estreou neste caderno colocando na mesa a discussão sobre a legalização das comidas de rua em Belo Horizonte. Tanto ele como eu sabemos que é impossível separar comida e sociedade. Nem só de foie gras e trufas brancas vive e sobrevive o mais mortal do seres. Há de ter o tempo do pastel, da empadinha, do acarajé e da coxinha.
Por todo o planeta, as comidas de rua alimentam as populações de forma rápida e acessível. Esse tipo de alimento está em toda parte, quer seja em países notoriamente abastados, como Inglaterra, Estados Unidos, Japão ou Alemanha, ou na simplicidade exótica e saborosa de regiões como Vietnã, Tailândia, China ou Índia. Feitos com ingredientes locais e baratos, os pontos de venda populares estão sempre cheios de fregueses, porque se a comida for ruim o negócio vai à falência.
O pastel, mania nacional, é um ótimo exemplo de comida que resiste a modismos, estudos e advertências nutricionais.
Recheado de criatividade, a origem da receita ainda dá o que falar. Alguns dizem que veio da Europa pelo fato de existir, na Idade Média, várias receitas de massas recheadas que eram assadas e posteriormente foram jogadas na fritura. Outros afirmam que o pastel é derivado do tradicional rolinho primavera da culinária chinesa e do gyosa japonês. Estudiosos insistem em dizer que a introdução do pastel no Brasil se deu por meio de imigrantes chineses, que tiveram de se adaptar aos ingredientes disponíveis no país. Um fato curioso é que se foram os chineses que adaptaram a receita por aqui, por que os japoneses é que ganharam fama de os melhores pasteleiros nacionais? A melhor resposta que encontrei foi a do professor do Senac paulista Marcelo Angele. Segundo ele, por conta da Segunda Guerra Mundial, os japoneses abriram pastelarias no intuito de se passarem por chineses, livrando-se, dessa forma, da discriminação que havia na época em razão da aliança entre alemães, italianos e japoneses, inimigos do Brasil no conflito.
Se a discussão ainda é polêmica, o pastelzinho à brasileira é unanimidade nacional. Podem até dar um ar de sofisticação ao bravo herói da resistência à comida politicamente correta, recheando-o com ingredientes notadamente gourmets como cogumelos e queijos nobres. Porém, bom mesmo é comer aquele fritinho na hora, bem no meio da correria e do burburinho do dia a dia.
Fazer pastéis em casa também pode ser uma brincadeira divertida. É possível preparar artesanalmente um pastelzinho gostoso, barato, crocante e apetitoso. O recheio é a gosto, mas a massa sempre tem um segredinho daqui e dali. Esta receita de massa de pastel utilizo há mais de 15 anos e sempre dá certo. Vai um pastelzinho aí?
*Formada em jornalismo pela Puc Minas e em gastronomia pela Estácio de Sá
Massa básica de pastel
Ingredientes
2 xícaras de chá de farinha de trigo; 2 colheres de sopa de manteiga derretida; 1 gema; 1 colher de sopa de cachaça; ½ xícara de chá de água; 1 colher de sobremesa de sal
Modo de fazer
Em uma superfície lisa, coloque a farinha e faça um monte com um buraco no meio. No centro do monte acrescente os demais ingredientes. Com as mãos, vá misturando até obter uma massa lisa e que solte da mão – se necessário, coloque um pouco mais de farinha para que ela não grude. Faça uma bola com a massa e embrulhe-a em papel-filme. Deixe descansar por uma hora. Abra a massa o mais finamente possível com o auxílio de um rolo.
Corte no formato desejado. Recheie a gosto e frite em óleo quente.