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Herói da resistência

Pastel ainda é o campeão das comidinhas mais apreciadas e vendidas nas ruas

Mesmo com os discursos contra a fritura, iguaria continua sendo servida em bares e lanchonetes

- Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press Apesar de todo o discurso negativo contra as frituras, massas e alimentação altamente calórica, o bom e velho pastel continua a fazer um sucesso tremendo. Ainda bem, pois a vida não seria a mesma se não pudéssemos dar uma paradinha ali na Galeria do Ouvidor ou em qualquer outro boteco “copo sujo” qualquer para comer uma promoção de dois (ou três... pastéis) com um refresco de máquina ou um caldo de cana.


Para captar a alma de um povo é preciso sair às ruas e entender sua cultura, provar sua comida, preparada e servida para qualquer um, para todos e ninguém em especial. O colunista e coordenador do curso de gastronomia da Una Edson Puiatti estreou neste caderno colocando na mesa a discussão sobre a legalização das comidas de rua em Belo Horizonte. Tanto ele como eu sabemos que é impossível separar comida e sociedade. Nem só de foie gras e trufas brancas vive e sobrevive o mais mortal do seres. Há de ter o tempo do pastel, da empadinha, do acarajé e da coxinha.


Por todo o planeta, as comidas de rua alimentam as populações de forma rápida e acessível. Esse tipo de alimento está em toda parte, quer seja em países notoriamente abastados, como Inglaterra, Estados Unidos, Japão ou Alemanha, ou na simplicidade exótica e saborosa de regiões como Vietnã, Tailândia, China ou Índia. Feitos com ingredientes locais e baratos, os pontos de venda populares estão sempre cheios de fregueses, porque se a comida for ruim o negócio vai à falência.
O pastel, mania nacional, é um ótimo exemplo de comida que resiste a modismos, estudos e advertências nutricionais.

 

Recheado de criatividade, a origem da receita ainda dá o que falar. Alguns dizem que veio da Europa pelo fato de existir, na Idade Média, várias receitas de massas recheadas que eram assadas e posteriormente foram jogadas na fritura. Outros afirmam que o pastel é derivado do tradicional rolinho primavera da culinária chinesa e do gyosa japonês. Estudiosos insistem em dizer que a introdução do pastel no Brasil se deu por meio de imigrantes chineses, que tiveram de se adaptar aos ingredientes disponíveis no país. Um fato curioso é que se foram os chineses que adaptaram a receita por aqui, por que os japoneses é que ganharam fama de os melhores pasteleiros nacionais? A melhor resposta que encontrei foi a do professor do Senac paulista Marcelo Angele. Segundo ele, por conta da Segunda Guerra Mundial, os japoneses abriram pastelarias no intuito de se passarem por chineses, livrando-se, dessa forma, da discriminação que havia na época em razão da aliança entre alemães, italianos e japoneses, inimigos do Brasil no conflito.


Se a discussão ainda é polêmica, o pastelzinho à brasileira é unanimidade nacional. Podem até dar um ar de sofisticação ao bravo herói da resistência à comida politicamente correta, recheando-o com ingredientes notadamente gourmets como cogumelos e queijos nobres. Porém, bom mesmo é comer aquele fritinho na hora, bem no meio da correria e do burburinho do dia a dia.


Fazer pastéis em casa também pode ser uma brincadeira divertida. É possível preparar artesanalmente um pastelzinho gostoso, barato, crocante e apetitoso. O recheio é a gosto, mas a massa sempre tem um segredinho daqui e dali. Esta receita de massa de pastel utilizo há mais de 15 anos e sempre dá certo. Vai um pastelzinho aí?

*Formada em jornalismo pela Puc Minas e em gastronomia pela Estácio de Sá

 

Massa básica de pastel

Ingredientes

2 xícaras de chá de farinha de trigo; 2 colheres de sopa de manteiga derretida; 1 gema; 1 colher de sopa de cachaça; ½ xícara de chá de água; 1 colher de sobremesa de sal

Modo de fazer


Em uma superfície lisa, coloque a farinha e faça um monte com um buraco no meio. No centro do monte acrescente os demais ingredientes. Com as mãos, vá misturando até obter uma massa lisa e que solte da mão – se necessário, coloque um pouco mais de farinha para que ela não grude. Faça uma bola com a massa e embrulhe-a em papel-filme. Deixe descansar por uma hora. Abra a massa o mais finamente possível com o auxílio de um rolo.
Corte no formato desejado. Recheie a gosto e frite em óleo quente.