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Iguaria

Sorvete de pequi é opção para tirar má fama do ingrediente

Confira receita com o fruto, que pode ser achado com facilidade nesta época do ano

Estivemos, meu marido e eu, viajando pela França por 60 dias. No primeiro mês, ao optarmos por pequenas cidades denominadas Les Plus Beaux Villages de France – as mais belas vilas da França, tivemos como pano de fundo, os deslumbrantes cenários do interior, quase sempre medieval. Além da beleza daqueles vilarejos, fomos à caça ao tesouro (perdido?): os desfrutes à mesa! Tentamos encontrar aquela que hoje é uma comida meio esquecida pelos chefs vanguardistas, aquela que verdadeiramente nos deleita, a que saboreamos com todos os sentidos, principalmente o que imagino ser o “sexto” deles: aquilo que nos inspira, que aquece a alma e o coração, ou ainda, o que apreciamos sendo pura alegria de viver.
Aliás, difícil definir o “sexto sentido”, termo que suscita um desafio à sua própria definição! Li algo a respeito e concluí que quero me referir a ele com fantasia, sendo apontado como raios de inspiração que fazem da criatividade um meio de conseguir a tal alegria de viver. Junto com o desenvolvimento do sexto sentido, vem o socorro do “anjo da guarda” que tem o poder de nos abrir portas e com sua proteção, nos tornar sabedores de oportunidades, a tempo de aproveitá-las. O sexto sentido é bálsamo... sim, um conforto, pura alegria de viver!


Ops... Vamos voltar ao que interessa! Viajei no sexto sentido porque nessa viagem à França admito ter me decepcionado na cobiçada “caça ao tesouro”. Cacei, mas nem criatividade encontrei. Restaurantes estrelados, restaurantes simples, todos fazendo mais ou menos as mesmas coisas. Uns mais sofisticados usam a ostentação como diferencial.


Mesmo tendo em Paris suas famosas mesas, o cenário do segundo mês da viagem em nada mudou. Lá, passeando pelas feiras, observando os ingredientes, me veio a imagem da diversidade dos frutos brasileiros. Em especial, me lembrei com muita saudade do abençoado pequi, invenção de Deus que fornece de sabão a azeite, passando por licor, purê, conserva, doces e sorvete. Ah... O PEQUI!! Notório aroma, sabor marcante e polpa macia apreciada de tantas formas!


Com um sorriso no canto dos lábios, lembrei-me com carinho da minha sogra dizendo: “Olha minha filha, o pequi requer cuidados, pois seu caroço cheio de espinhos, se mordidos... provoca dissabores!”. Com ela, aprendi que esse contratempo é evitado ao cozinhar os frutos e servi-los já laminados. É o que faço. Ok! Faço, mas desta vez não seria possível, dezembro é a época dele no Brasil. E eu em Paris. Essa lembrança me entristeceu, por saber que em 2014 eu não o teria armazenado para satisfazer qualquer e todos os momentos de desejo. É assim que o preparo todo fim de ano: compro grande quantidade e congelo. Ainda mais sabendo de um boato que essa delícia está na lista de espécies ameaçadas. Que nossos governantes não permitam que tal atrocidade se torne mais uma infeliz realidade, a do desprezo pelo que é nosso! E que o pequi não se transforme na “lenda do tesouro perdido”!


Bem... Mas a boa notícia é que, ao regressar, ainda encontro o nosso lindo e saborosíssimo pequi sendo vendido em bancas. Ah, que delícia! Isso sim é a inspiração em forma de fruto! Hora do sexto sentido! Hora de aquecer a alma e o coração! Hora de buscar a criatividade, a que está doida para brotar! Hora de valorizar o ingrediente brasileiro que inunda a mesa com profusão de cor e sabor. O pequi é bálsamo... sim, em aroma e conforto, pura alegria de viver!

 

SORVETE DE PEQUI

4 Ingredientes

90g de açúcar, 4 gemas peneiradas, 2 claras, 400g de polpa de pequi cozido, 400 ml da água do cozimento do
pequi ou leite,
10g de emulsificante

4 Modo de fazer

Misture o açúcar com as gemas e as claras e bata na batedeira por 5 minutos. Misture 200 ml da água do cozimento, leve ao fogo bem baixinho e mexa até encorpar. Retire do fogo, cubra com PVC e deixe esfriar. Bata no liquidificador a polpa de pequi com 200ml da água do cozimento. Coe, misture o estabilizante e bata na batedeira por aproximadamente 10min. Misture o creme de gemas ao creme de pequi até homogeneizar. Coloque esse creme na maquina de fazer sorvete ou coloque-o no congelador e bata 4 vezes a cada hora. Depois da última batida, quando o sorvete ainda estiver pouco congelado, porém firme, encha os cones. Se for usar palito, coloque-o no centro e deixe acabar o congelamento. Bem na hora de servir, retire
o cone e sirva imediatamente. Servi com uma tuille de coalho, farofa de pequi e terrine de pernil com pequi.